A ideia de criar um livro para colorir com cenas do próprio bairro para ser distribuído para crianças pode gerar um sentimento de identificação e proximidade. Foi pensando nisso que o produtor cultural e presidente da Associação de Moradores da Vila Yara (zona leste de Londrina), Vinícius Bueno, em parceria com os moradores e da produtora cultural Cristiane Resende, convidou os ilustradores Wilton Pacheco e Patrick Rocha a realizar esse desafio.

As cenas do livro retratam locais do bairro, como as aves que dão nomes às ruas e uma família de quatis, inspirada no Ribeirão Quati, que passa pela Vila Yara. Os desenhos encantaram a pequena Emely Lara Alves, de 10 anos. "Eu achei o livro legal; eu conheço essa passarela, já passei por ela", disse a menina, apontando para uma das ilustrações que retrata a travessia para pedestres na Avenida Brasília.

O presidente da associação de moradores ressalta que o livro trabalha a memória coletiva e a identificação das crianças em relação ao bairro. "Ele promove esse sentimento de pertencimento, porque o bairro era dos pais delas, e agora é delas. Meu pai e minha mãe estudaram nessa escola (Colégio Estadual João Sampaio), quando ainda era de madeira. A gente tem essa coisa de proximidade que só quem é da comunidade conhece", relata Bueno.

A Vila Yara surgiu em 1947 e foi um dos loteamentos desagregados do centro urbano inicial que compunha o tabuleiro inglês elaborado pela Companhia de Terras Norte do Paraná. No final da década de 1940, com uma população urbana superior a 10 mil habitantes, Londrina precisava liberar a construção de lotes para abrigar o crescimento intenso da cidade e foi assim que a Vila Yara surgiu, abrigando os trabalhadores daqueles anos efervescentes do café londrinense.

As casas de madeira daquele período existem até hoje. "Esse é o bairro de periferia mais antigo de Londrina. Tem uma rua de pedra, sem asfalto até hoje, que é a Jaçanã, talvez a mais antiga via de periferia sem asfalto. Jaçanã é o nome de uma ave que também está ilustrada no livro", ressalta Bueno.

CAMPO DE TERRA
Jair Crepaldi, de 57 anos, mora há 40 anos na Vila Yara e elogiou a iniciativa de lançar o livro. "A Vila Yara representa tudo para mim. Os moradores antigos gostam daqui e é importantíssimo levar às crianças o conhecimento do dia a dia do bairro. Quando vejo as crianças pintando, eu volto no tempo. Criança precisa ser criança", enaltece. Segundo ele, esse livro vai estimular a cabeça dos pequenos e promoverá um pouco mais de conhecimento.

"Aquilo que você aprende quando criança não esquece mais. Assim vai ser para eles", projeta.
Crepaldi relata que na sua juventude, o que predominava era a bola. "Tinha um campo de terra e ali era o nosso palco. Hoje tudo mudou e os jovens têm outro lazer, preferem os jogos eletrônicos", relata. De fato a Vila Yara era famosa pelo seu campo. O primeiro time de Marinho, ex-jogador do Flamengo que foi campeão Mundial pela equipe rubro-negra, foi o Canindé da Vila Yara, um campo de terra. A aposentada Cinira Gomes, de 60 anos, sempre viveu no bairro. "Foi um bairro sossegado para as crianças, mas hoje não, porque o movimento de carros aumentou muito", reclama.

O desenhista urbano Patrick Rocha fez questão de resgatar um pouco dessa memória ao retratar no livro a linha diametral de transporte coletivo que passava pelo bairro, a Yara-Higienópolis. A linha foi desenhada em frente da antiga Igreja Matriz em estilo neogótico, que ficava onde está a atual Catedral Metropolitana.

"A ideia era ilustrar a Vila com o intuito de mostrar um pouco da realidade daqui para as crianças e transformar isso em um livro de colorir para distribuir entre elas. Fizemos todo o material em uma semana. Deu tudo certo e a gente produziu de 15 a 20 desenhos que foram transformados em 375 exemplares para serem distribuídos entre as crianças do bairro", relata.

O lançamento e a distribuição do livro aconteceu no último dia 12, durante a 9ª edição da Festa das Crianças.