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Bate-papo

No set de 'A Voz do Silêncio', Marieta Severo fala de carreira e personagens

Agência Estado
31 ago 2016 às 09:00
- Reprodução/TV Globo
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Marieta Severo conversa com o repórter no set montado num apartamento sombrio da Rua Augusta, em São Paulo. "Peraí, isso já é a entrevista?" E pede ao fotógrafo que pare de clicá-la. "Estou muito feia, com a roupa da personagem. Deixa eu dar uma ajeitada." E conta como, no tempo de A Grande Família, se recusava a ser entrevistada como Nenê pela turma do Vídeo Show. "E lá a Nenê é mulher de ficar dando entrevista, gente?" É o último de seus quatro dias de filmagem do novo longa de André Ristum, A Voz do Silêncio. O próprio filme, a fase de captação das imagens, terminou no sábado, dia 27, mas esse encontro com Marieta foi anterior, ainda durante a Olimpíada. Ela estava orgulhosa do seu Rio de Janeiro e do Brasil. "Tem sido emocionante." Chovia lá fora e as cortinas fechadas deixavam o apartamento ainda mais escuro.

Coisa deprê. A personagem Maria Cláudia é uma mulher amargurada, rígida, que se afastou do filho gay com aids, Alex. Vive num mundo de devaneios. Conversa com ele em sonhos. A casa reflete sua confusão mental. "E agora a gente deu uma ajeitada. Tem momentos em que é pior", explica o diretor Ristum. A cena é simples. Marieta maquia-se, e está tão concentrada na própria imagem no espelho que nem vê o ator Marat Descartes esgueirar-se para fora da casa. Ele faz Luiz Gustavo, um tipo não muito santo que está dando em cima da filha de Maria Cláudia, Raquel.

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Como se constrói uma personagem dessas, tão realista, tão triste? Em que recôndito da mente, da própria experiência, Marieta se inspira? "Ai, não tem nada a ver comigo. E também não tem a ver com esses laboratórios, com essas angústias da interpretação que você está fantasiando. O roteiro é bem escrito, desenho com o diretor a personagem e ela sai." Simples assim? "Bem, se você quiser eu dramatizo mais", e Marieta ri, uma risada gostosa.
Ajeita os cabelos, um gesto bem feminino. Um colega do elenco sugere que ela ponha um batonzinho. Marieta volta para a frente do espelho, agora como ela. Hesita quanto à cor. "Muito vivo, não." Como anda a vida? "Vai bem." Como ela vê o Brasil, atualmente? Ela escancara outro sorriso.

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"Entendo, vamos recomeçar, então. Procura não polemizar, apenas exerce o direito de externar sua opinião pelo que considera um retrocesso. "A gente lutou tanto, ocorreram avanços sociais tão importantes." Está preocupada com o que vem por aí. "Tá todo mundo bonzinho, mas uma crise das proporções que a gente vê na mídia não se resolve com bondades. Vamos pagar essa conta", ressalta a atriz. A pergunta que não quer calar - como está sendo a vida pós-Nenê, de A Grande Família? Marieta viveu a personagem por tantos anos, é de se imaginar que sinta falta, que talvez gostasse de voltar com A Grande Família.

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"Voltar? De jeito nenhum, não está nos planos de ninguém." E antes que o repórter a acuse de ingratidão, ela diz. "A Nenê me deu muito. Ainda dá. Você não imagina a quantidade de vezes que, na rua, as pessoas ainda me identificam como ela. Mas foi recíproco. Eu também dei muito. A equipe toda. A gente passava a semana em função da série, e foram 14 anos.


Sobrava um tempinho para as peças, para os filmes." E, agora, tem sobrado um tempão? "O mais importante que eu acho é que a própria televisão me deu um presentão." Marieta refere-se à minissérie Verdades Secretas, de Walcyr Carrasco, que praticamente emendou com A Grande Família e foi ao ar na faixa das onze. Marieta fazia a poderosa Fanny Richard, dona de uma agência de modelos. Nenhuma personagem poderia ser mais diferente da caseira Nenê. "Ela não tinha nem família, só um namorado mais jovem. E Fanny não tinha escrúpulo nenhum." E, nesse caso, houve laboratório? "Mas que laboratório? Para quê? De gente sem escrúpulos esse Brasil está cheio", comenta.

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Desesperançada Marieta. "Não, acho que tem um povo trabalhador que segue a vida, apesar das crises, tentando sobreviver. E esse país não perdeu a capacidade de se reinventar. Os Jogos (Olímpicos) foram uma demonstração de garra, de superação. Não pude acompanhar direto, até por causa da filmagem, mas sempre que podia, eu dava uma olhada. O show de abertura foi lindo, nossas medalhas - de ouro, prata ou bronze - têm sido sofridas, suadas. Nada vem de graça, nunca. E o Rio está maravilhoso. Amo a minha cidade."


O Rio é seu cenário familiar, sua casa. A outra cidade que Marieta Severo mais ama no mundo é Paris. "Vivi em Roma, mas Paris é especial. Vou pelo menos uma vez por ano. Adoro aquilo lá. Mas Paris também está mudando. Os ataques do terror feriram a cidade, tem muito mais desconfiança", recorda.
Ela já fez este ano, em junho, sua peregrinação a Paris. "Fomos (engloba o marido, o diretor de teatro Aderbal Freire-Filho) e foi gostoso." O repórter observa que a Paris dele gira em torno dos cinemas de arte e ensaio do Quartier Latin. "A nossa gira mais em torno do teatro. E andamos muito. Paris é uma cidade gostosa de caminhar, para se descobrir a pé.

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Cada cantinho tem história." É inevitável referir-se a Incêndios, a peça que tem sido um grande sucesso de Marieta e Aderbal. "Fomos ver o Wajdi (Mouawad, autor da peça) em Paris, no Solos." Marieta refere-se a Solos, que o ator e dramaturgo apresentou em São Paulo, no Sesc Pinheiros. Mouawad assumiu a direção do Thêatre National de La Colline, em Paris. Anuncia uma belíssima programação. Agora, dia 10 (de setembro), haverá um encontro dele com Salman Rushdie. No pós-atentados, pode-se apenas imaginar o significado humano, estético e político da troca entre essas duas grandes personalidades.


De volta a A Voz do Silêncio, ao set de André Ristum. O diretor admite sua decepção pelo mau resultado de público de seu longa O Outro Lado do Paraíso. "O que consola é que não é esse filme, aliás, não consola, acho que aumenta a angústia da gente, que faz. Todo o cinema brasileiro que não é blockbuster, o cinema mais autoral, tem ido mal. O Paraíso ainda está circulando por aí, mas ficou muito abaixo do que a gente esperava." Bola para frente, Ristum? "Não dá para parar. Havia escrito esse filme que pega uma fase muito dura, quando me separei. Vivia na Bela Vista e coloquei muito das observações do que via, sentia."

Todo o cinema de André Ristum, de Glauber para Jirges a Meu País e Paraíso, fala do sentimento de se sentir estrangeiro, na própria terra. A Voz do Silêncio tem isso? "Tem menos, mas há uma família de argentinos nessas tramas de gente solitárias, cujos destinos se cruzam na cidade grande." E ele destaca - "Meu cinema era sempre sobre pais, dessa vez, são mães." Marieta entra por aí. Mas não é outra Nenê. "Você sabe o final da minha personagem? Quer que conte?", Marieta pergunta. "Não? Mas é importante destacar. Ela passa por uma transformação." Metáfora ou não, o Brasil também se transforma. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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