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SOBRE O CIÚME E A INVEJA

27 mar 2016 às 21:30
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SOBRE O CIÚME E A INVEJA
Texto de: Lunardon Vaz

POEMINHA DO CONTRA
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
MÁRIO QUINTANA

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O ciúme e a inveja são sentimentos que fazem parte da natureza humana. Eles são universais e embora pertençam a todos, usualmente, são percebidos como desagradáveis e indignos. Desse modo, a pessoa ciumenta e ou invejosa se aparta desses sentimentos como sendo nela originados e transfere sua origem e motivação para os outros.

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ALGUMAS RELAÇÕES/OUTRAS RALAÇÕES


Rotineiramente assistimos o ciumento em franco estado escaldante de emoção querendo que o outro faça isso ou aquilo para que ele não sinta o ciúme, transferindo assim sua responsabilidade do próprio sentimento e iniciando um processo de controle sobre o outro que pode chegar às raias da loucura e morte.

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O invejoso, a partir de comparações, entende que o outro é mais belo, mais inteligente, mais eficiente ou mesmo possui habilidades que ele gostaria de ter e não tem. Busca destruir o outro que está "maior" ou se saindo "melhor" que ele. É uma questão de equilíbrio das coisas, pois sua comparação com aquele que é "menor" ou "menos" o coloca no topo, havendo alguém com mais o coloca abaixo e isso, o invejoso não irá permitir e nesse caso, como no caso do ciumento, pode chegar à morte e a loucura.


Percebemos até aqui que se trata de um processo insano. O ciumento estará sempre coberto de razão, ou seja, ele ou ela possuem argumentos pinçados da moralidade e outros muito bem inventados que acreditam justificar sua insanidade, utilizando os mesmos argumentos "cheios de razão" em seu ataque ao outro e em sua tentativa de controlar o comportamento e até o pensamento alheio.

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Ambos os sentimentos, embora sejam naturais, requer continência, limite que deve ser imposto pelo próprio sujeito. Eles são instintuais, provém dos instintos, e como tal precisam sofrer limite.


Os instintos não podem perder, mas também não podem ganhar. Assim, temos que gente ciumenta e gente invejosa teriam de admitir para si mesmo os sentimentos e por eles se responsabilizar ao invés de transferir para o outro. Conhecer-se é o primeiro passo.

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No entanto, sabemos o quanto é difícil olhar-se no espelho, assim como Dorian Gray no livro de Oscar Wilde preferiu colocar o espelho no sótão para jamais ter de se olhar, nós colocamos esses sentimentos no sótão da inconsciência e por isso passamos a agir de modo insano. Tudo aquilo que Narciso encontra em si e acha feio, imediatamente, busca a causa e a solução no outro, não lhe pertence, pertence sim ao outro que é culpado por fazer com que se sinta ciumento e ou invejoso.


ETIMOLOGIA DAS PALAVRAS

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Origem da palavra ciúme:


A própria palavra "jealous" em inglês tem uma origem curiosa: vem da palavra "jalousie" que é uma derivação da palavra francesa para ciumento – "jaloux". Esta, por sua vez, está relacionada com a palavra "zelosus" que em latim significa "cheio de zelo". Se recuarmos mais um pouco, encontramos o termo grego "zelos" que está associado ao conceito de "ferver" ou "fermentar".

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O ciúme é sentido por pessoas de todas as idades, os especialistas dizem que até bebés muito novos experimentam esta emoção que, no fundo, pode ser representada por um turbilhão de emoções e exteriorizada através de diversos tipos de comportamentos.


Quem sente ciúmes tem, por norma, pensamentos e sentimentos negativos em relação à ameaça de perda de algo que possui ou que imagina possuir e que lhe é muito importante e precioso. Juntamente com a própria emoção que é o ciúme, juntam-se várias outras emoções, igualmente poderosas: medo, ansiedade, incerteza, insegurança, desconfiança, humilhação, tristeza, desgosto, raiva, descontrole, vingança e depressão.

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Origem da palavra inveja:


A origem latina da palavra inveja é "invidere", que significa "não ver".
Aquele que não vê a realidade a inventa de modo fantasioso e até delirante.


Não possui visão para ver a si mesmo. Sua visão está voltada para fora, para o outro. Deixa de perceber o que tem e, nesse caso, o que não tem passa a possuir maior importância. O outro tem, ele não tem. Ele ou ela quer o que o outro tem, não admite sua falta, vai além da cobiça. Mais profundamente, o invejoso quer ser o outro. E como o sentimento é instintivo, se assemelha a fome. Fome do outro.


Exemplo clássico é fornecido na lendária inveja de Antonio Salieri por Mozart.


Os românticos adoravam Mozart e seu estilo arrebatado e desprezavam o conservadorismo de Salieri. Surgiu então o boato de que o austríaco fora envenenado pelo italiano. Salieri continuava vivo e era atormentado pelas intrigas. A suposta confissão do crime, nunca comprovada, teria sido feita em 1823, quando o italiano estava internado em um hospício. Ele morreria dois anos depois.


No filme Amadeus, a inveja de Salieri é intensa juntamente com um grande sentimento de admiração. Salieri não apenas cobiça o talento de Mozart, mas deseja ser ele.


Em alguns casos, se pode fazer um paralelo com o canibalismo onde ao comer o outro seu poder passará a me pertencer, como ocorre em algumas culturas primitivas.


Na impossibilidade de o comer vivo, o invejoso destrói o objeto invejado com suas próprias mãos, tramando, caluniando, tecendo uma teia de mentiras "cobertas de razão" (invencionices e intrigas) para que as outras pessoas sintam pelo invejoso compreensão e cumplicidade de modo a ficarem contra a figura invejada.


Em William Shakespeare, temos a história de Iago e Otelo, novamente assistimos aqui a inveja causando destruição e morte através da intriga.


Otelo em O mouro de Veneza escrita em 1603 é um general que promove Cássio a tenente, seu suboficial Iago sente-se traído por desejar ter sido ele o promovido.


Não parou para refletir no por que ser outro a ser promovido e não ele. Não observou sua falta e foi pelo caminho instintual como usualmente acontece. A partir daí Iago, em seu ódio por Otelo e por Cássio, começou a semear a discórdia entre o casal Otelo e Desdêmona, concebendo um terrível plano de vingança que tinha como objetivo arruinar seus inimigos.


Tratou de fazer com que Otelo acreditasse que Cássio e sua esposa Desdêmona estavam tendo um romance.
Por ciúme, Otelo insano estrangula sua esposa e depois sabendo do erro e injustiça que cometeu, crava um punhal em seu próprio peito. Assim, Iago concebe e leva a cabo sua trama delirante e letal.


No Inferno de Dante, os invejosos ocupam o segundo terraço do purgatório cujo primeiro é reservado ao orgulho e são retratados com os olhos costurados por arame de modo a purgarem todo o seu pecado. O pecado de não se enxergar, de não se debruçar sobre sua falta e ainda assim, denegrir a beleza do outro, seja ela qual for.


Disse-o bem Thomas de Aquino ao definir a inveja como a tristeza pela alegria alheia.


Concluindo, ambos os sentimentos, tanto inveja quanto ciúme são primários e instintuais, o ego tem vergonha de senti-los justamente por que eles não possuem o princípio de realidade que é o atributo do ego sadio.


O homem e a mulher tornam-se egos primários que se dirigem tão somente pelos instintos. Embora criem justificativas racionais, na verdade, não existe razão nesse comportamento. Só o que existe é a irracionalidade, a instintividade que se traduz no comportamento primário e daí sua insanidade.


A psicanalista Melanie Klein nos auxiliará a ver porque a inveja e o ciúme, no mundo adulto, é um sentimento que ao permanecer primário, sofre aqui a acusação de serem insanos.


É absolutamente incogitável enveredar pelo tema desses dois sentimentos sem abordar a perspicácia e sabedoria de Melanie Klein que situa a origem de tais sentimentos já na primeira infância. Como diria Spitz, ainda na fase pré-objetal.


Para o psicanalista Spitz ao nascer, a criança não é capaz de distinguir-se do mundo que a circunda. É a "fase anobjetal" de; do "narcisismo primário" de Freud ou da "indiferenciação" de Hartman.


Passa dormindo, ou em semi-vigília, 9/10 partes do dia, estando a décima restante cheia de vida e atividade. Essa atividade, em sua maior parte constituída de reações negativas (exceção feita a ingestão de alimentos), mostra como a vida, nesses primeiros estágios é desagradável e estafante, e que leva o recém-nascido a buscar, na posição fetal (reflexo tônico-cervical) e no sono, a tranquilidade, o "paraíso perdido" da vida intrauterina. Para Spitz, ainda não é capaz de conferir ao objeto que alivia sua tensão o estatuto de objeto percebido.


Somente para o fim do segundo mês, e quando tem fome, pode reconhecer o sinal do alimento. Esta resposta deixa de se efetuar, se o recém-nascido está saciado. É o que Spitz chama "conduta de orientação": A estimulação peri-bucal produz uma discreta rotação da cabeça para a fonte do dado estímulo, acompanhada de abertura da boca.


Após o 3º mês, embora ainda na dependência de uma pulsão interoceptiva ou de uma necessidade insatisfeita, a criança pode responder aos sinais de alimentação a partir de um estímulo à distância, como a presença da mãe na hora de mamar ou o barulho da mamadeira.


Para Melaine Klein não ocorre esse período de "indiferenciação" ou "anobjetal" caracterizado por Sptiz.


Para ela, desde o início da vida a criança já dispõe de um ego rudimentar que, através da rejeição do desprazer (projeção) e assimilação do prazer (introjeção), procura manter o "princípio da constância".


Como nesses primeiros estágios da vida predomina os desejos e necessidades orais, o seio materno se afigura como o objeto capaz de satisfazer tais desejos e necessidades.


A criança já teria então capacidade de ter fantasias sobre este objeto, posto que a fantasia para Klein é o representante psíquico da pulsão.


Tanto suas pulsões eróticas que perfazem o instinto de vida, como suas pulsões destrutivas resultantes da frustração oral ou por uma deflexão (desvio) do instinto de morte.


Para isso, haveria uma "clivagem" do seio materno, num "seio bom" que é introjetado e num "seio mau", seio frustrador, que é projetado (posição esquizo-paranóide).


A criança livrar-se-ia assim da angústia oriunda de seus impulsos destruidores, projetando-os no seio mau, seio frustrador, que se transforma em objeto "persecutório".


O mesmo acontece com a "libido" que é também projetada no seio bom, num "objeto ideal", a fim de manter com ele uma relação necessária à preservação da vida.


A dialética introjeção-projeção tem sua continuidade quando o "seio bom" que foi introjetado corre o risco de ser danificado pelos impulsos destrutivos e por essa razão é também projetado.


O melhor seria que o seio "mau" fosse introjetado, a fim de ser devidamente controlado, contudo, pode não ocorrer a introjeção e o indivíduo continua a projetar o "seio ruim" em seus posteriores relacionamentos.


As coisas se tornam mais complexas quando a criança passa a perceber o seio bom e o seio mau não mais separadamente, mas como um objeto inteiro unificado na figura da mãe (posição depressiva).


A criança descobre que tanto suas experiências boas como as suas experiências más não provinham de um "seio bom" ou de um "seio mau", nem de uma "mãe boa" ou de uma "mãe má", mas de uma mesma pessoa.


Passa então a temer haver destruído ou vir a destruir o objeto de seu amor. De seu desespero e de seu sentimento de culpa, surge o desejo de restaurar o objeto destruído, o que tenta realizar através do mecanismo de reparação.


O conflito depressivo segundo Smirnoff é uma luta constante entre as fantasias destruidoras e os desejos de reparação, ambos consequentes dos sentimentos de onipotência da criança.


Somente após essa elaboração que o indivíduo é capaz de distinguir suas fantasias da realidade.


Todavia, a crença na onipotência de seus impulsos destrutivos e de suas reparações mágicas somente diminui, progressivamente, na medida em que a criança se defronta com a realidade da mãe, que sempre aparece após as ausências, independentemente de suas fantasias.


No entanto, para Smirnoff, a posição depressiva não é jamais completamente elaborada. Os bons objetos externos na vida do adulto simbolizam e contêm aspectos do bom objeto primitivo e a capacidade de afrontar as angústias posteriores da vida depende em muito do estabelecimento de boas relações objetais na posição depressiva.


Dependem da adequada elaboração entre instinto de vida e instinto de morte. Se houver uma fixação no instinto de morte, suas relações com o objeto, com o outro, estarão comprometidas com as pulsões destrutivas.


Ao contrário, havendo uma adequada elaboração entre as duas poderosas forças da vida e da morte, seu comportamento e suas relações acontecerão sob a base da pulsão de vida, o que significa que ao invés de invejar o sujeito irá admirar, se encantar com as diferenças e apreciá-las no outro. Sua curiosidade e êxtase diante do novo e das descobertas se fazem alegre e livre do medo da perda e do fim, porque, afinal, sempre haverá descobertas maravilhosas e quando não, terá em si mesmo a força de elaborar, cair e se levantar, engatinhar, andar e voar.


Em última instância, o invejoso e a invejosa têm por base "eu não quero ser eu, eu quero ser você". Ser esse outro com capacidade de amar, de se extasiar, de se alegrar, de viver a dor e o sofrimento sem se fechar e se anular para, em seguida, novamente brilhar em pulsão de vida. Essa é a principal matéria causadora da inveja.


Ataques sádicos contra o seio materno nascem das pulsões de morte que são destrutivas, por extensão, os ataques sádicos que se faz na vida adulta contra o objeto de amor tem sua origem nesse mesmo comportamento primário.


É insano porque se supõem que o adulto já tenha elaborado a questão do seio bom e do seio ruim e introjetado através do princípio de realidade que o mal e o bem provem de si mesmo e não do corpo alheio. Ao continuar com o mesmo comportamento sofrido na infância significa que está fixado em uma fase e que não completou seu desenvolvimento reproduzindo um comportamento primário que é próprio da primeira infância.


Está ainda utilizando o pensamento primário caracterizado pelos instintos da sensação e da intuição, ainda não progrediu para o pensamento secundário que estabelece a razão, o princípio de realidade, que irá compor junto a sensação e a intuição que são instintuais, a razão sensível, a razão sensibilizada pelo instinto, deixando de ser irracional, primário e, por conseguinte, insano.


A inveja em direção ao seio que jorra leite, que jorra a vida fica perfeitamente bem ao infante, mas não tem nada de saudável no adulto.


A inveja que provem do ciúme do irmãozinho/a que chegou fica bem no infante que está testando e elaborando através de seu instinto de sobrevivência, mais tarde encontrará satisfação em compartilhar as alegrias e as diferenças com o irmão ou irmã caso ultrapasse o pensamento primário. Da mesma maneira que o convívio com primos, irmãos e coleguinhas do jardim da infância é treino para posterior vida social e afetiva.


Após essas explanações é seguro afirmar que: tenho ciúme de meu objeto de amor e tenho inveja por qualquer outro que receba real ou fantasiosamente, a atenção de meu objeto de amor e vou destruí-lo por essa tremenda ousadia!


Ainda explorando a questão da indiferenciação sexual desse período descrito por Melanie Klein, por Freud e por Carl Gustav Jung, em estudos desse último, acrescenta-se que a inveja na fase adulta, supõe que o indivíduo não tenha se diferenciado inclusive sexualmente e o fato dele "querer ser o outro" pressupõe que seu instinto primário ainda está buscando a diferenciação sexual, de modo que ele ainda lida com o núcleo homossexual próprio da idade da indiferenciação, pois, como afirma Carl Gustav Jung, todos nós somos homessexuais no princípio de nossa existência.


De modo que aquele que sofre de ciúme e inveja esconde, talvez até de si mesmo, que ainda está num processo de elaboração de seu núcleo homossexual. A causa é o núcleo homossexual não elaborado, o sintoma é ciúme/inveja.


Como o organismo possui homeostase, seu próprio equilíbrio, a situação em que os sintomas aparecem é reproduzida várias e várias vezes como forma de alertar tal organismo da necessidade de se melhorar.


Um exemplo corriqueiro pode explicitar mais esse fato:


Valéria tinha uma "amiga" que a todo o momento implicava com seu vestuário, insinuando que usava roupas impróprias por destacar seus seios. Para sua melhor compreensão devo dizer que ambas possuíam orientação heterossexual.


Ora, Valéria que sempre primou pela discrição sentia não merecer esse tipo de admoestação, no entanto, como o acontecimento se repetia sempre acompanhado por um sorriso irônico, Valéria começou a se perguntar se acaso o que acontecia não dizia respeito mais a sua "amiga" do que a si mesma e um dia resolveu arriscar, assim que a outra disparou-lhe mais um comentário do mesmo tipo, Valéria imediatamente replicou:


"Sei que você acha meus seios lindos e que os deseja, mas devo lhe dizer que não tenho qualquer desejo por você. Lamento muito, mas não quero nenhuma relação sexual contigo, você realmente não faz meu tipo".


O que se passou em seguida demonstrou que Valéria acertou em cheio, pois jamais a sua "amiga" voltou a comentar suas roupas e nem a ficar de olho em seus seios.


Retomando o Poeminha do Contra de Mário Quintana com o qual dei início ao texto, todos que sofrem de inveja passarão, primeiramente por que eles são pesados, grandes e primários – passarão – e segundo porque tudo passa e passa muito bem para eu que sou leve, passarinho.


A leveza se faz nítida ao se utilizar das pulsões de vida, do prazer, da curiosidade alegre, do êxtase nas descobertas, do acolhimento às diferenças e da admiração e prazer na alegria e sucesso do outro.


É racional pensar que se ao meu redor todos estiverem bem e com sucesso, minha existência estará seguramente mais feliz.


Para concluir, lembremos Johann Wolfgang Von Goethe, in Máximas e Reflexões:


Embora o ciúme e a inveja sejam sentimentos parecidos existe uma grande diferença entre eles: enquanto o ciúme envolve sentimento de perda, na inveja o sentimento predominante é a ambição. Ambos atormentam aquele que cobiça algo que outra pessoa tem. Quanto menos a autoestima, mais alta a propensão de um indivíduo sofrer com um ou os dois sentimentos.
Porém, quando tais sentimentos são assumidos, enfrentados e elaborados é um fator positivo, pois essa nova forma de encarar o problema colabora para que o indivíduo trabalhe a sua autoestima.


EXEMPLOS FLAMEJANTES
- qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência –


1 – Clarice é casada e tem uma filha entrando na adolescência. Começa a observar que seu marido e pai da menina a olha de modo sequioso. Clarice já não possui os doces encantos da juventude e vê em sua filha uma rival. Seu plano vingativo e cheio de inveja encontra satisfação ao oferecer sexualmente a filha ao marido. Desta maneira reforça a cumplicidade com seu objeto de amor ao mesmo tempo em que destrói a juventude e beleza da filha, seu objeto de inveja. Ou, de forma menos trágica, através de uma trama qualquer envia-la para fora de casa.


2 – A mamãe e ou o papai que usa as roupas de seus filhos e outras estratégias numa vã tentativa de permanecer jovem e vibrante.


3 – A mamãe e ou o papai que criam diversos e engenhosos obstáculos para não permitir que seus filhos criem asas e cresçam para fora do ninho. As namoradas e os namorados que se cuidem!


4 – Um exemplo sinistro e infelizmente comum aparece em um episódio do seriado da Netflix de nome Doc Martin.


Ele é um médico cirurgião com fobia a sangue. Sua mãe lhe confessa que nunca o amou e que sempre o colocou longe em colégios internos porque ele foi o motivo de seu casamento não dar certo.


Ela lhe diz que até seu nascimento tinha toda a atenção do marido e que depois do nascimento ela já não era mais o centro das atenções, mesmo porque agora era mãe.


Nos períodos de férias Martin era enviado para a casa da tia Joan que se afeiçoou ao menino. Ao perceber que seu filho e sua cunhada mantinham um vínculo de amor, a mãe de Martin deu um jeito sorrateiro e engenhoso carregado de intrigas de destruir essa relação. Ela não o amava e ninguém teria sua permissão para amá-lo.


Desse modo exerceu sua dupla vingança, contra o menino que em sua mente insana não poderia receber amor posto ser o causador de sua infelicidade conjugal e contra a tia Joan da qual sempre invejou sua capacidade de amar e de viver de acordo com as pulsões de vida.


Por detrás das palavras que usualmente fala com grande convicção "Faço isso por amor" borbulha uma ira, a ira de Votan que assim como no mito desse deus nórdico, só se acalma com o sacrifício do cordeiro, com o sangue de um inocente, para muito em breve, voltar a acontecer.


5 – Sabrina era bem jovem quando se casou. Tinha uma relação conflituosa com a mãe que a rejeitava e humilhava em várias situações. Sabrina ficou grávida e feliz por dar a sua mãe uma neta. Na mente de Sabrina, a filha que nasceria iria receber de sua mãe o amor que ela desejava para si, desse modo receberia o amor através da menina.


Assim, a filha era para Sabrina um objeto de união entre ela e a mãe. Sabrina não nutria pela filha o amor, mas via nela a possibilidade de receber o amor materno que sempre lhe havia faltado.


A menina nasceu e Sabrina dona da filha a entregou de presente para a mãe. Desse modo jamais permitiu que sua filha recebesse ou criasse vínculo afetivo com os demais parentes, nem mesmo com o pai. A menina era objeto dela para sua satisfação e de mais ninguém. Qualquer vínculo afetivo que se produzisse sem Sabrina ser a terceira pessoa do triângulo amoroso era motivo de grande angústia e inveja.


6 – O filho de Natalina cresceu com dificuldades afetivas, mas possuidor de grande inteligência tornou-se um profissional de sucesso. Natalina colecionava cada fato de sucesso do filho e ao encontra-lo lhe mostrava o quanto foi insatisfatória sua atuação nesse e naquele sucesso e que ele deveria se envergonhar. Sua inveja era nítida. O filho vencendo sentimentos compreendeu a destrutividade materna, foi embora dali e fundou sua própria família.


Natalina sabendo da notícia de que seria avó correu para a casa dele e imediatamente iniciou um plano de destruição de mais essa felicidade. O filho pediu que ela fosse embora. Natalina, toda magoada e sentindo-se injustiçada e sem opção, se foi, mas antes furtou da casa de seu filho a roupinha que havia dado ao netinho que chegaria e um quadro de pintura de grande valor emocional do filho.


7 – Ananda ao frequentar certa clínica dentária, ouviu a seguinte frase em três ocasiões diferentes e de três funcionárias também diferentes, incluindo uma das dentistas:
"Você está linda, MAS você deve acordar às seis horas da manhã só para se arrumar, não é mesmo¿".


É óbvio que, após a palavra "mas", com o claro sinal da inveja o que veio antes foi desqualificado.


Para finalizar, o tema da inveja e do ciúme é assunto vasto e de grande extensão. Trata-se de um sintoma de doença psíquica que pode partir da neurose e se desenvolver em psicose. O indivíduo que vivencia tal quadro psíquico não tem serenidade interior e provoca sofrimento em si e em seu ambiente.


Que esse pequeno estudo possa servir de alerta para que as pessoas procurem um profissional da saúde psíquica para tratamento, pois esse quadro psíquico não vai melhorar por si só.


E que ao procurar um profissional tenha o devido cuidado de verificar se o profissional possui formação em psicologia clínica, o que requer que o próprio profissional também tenha feito psicoterapia, que tenha feito supervisão além daquela da faculdade e que tenha feito análise didática no tipo de psicologia que diz aplicar.


Todos os demais profissionais estão totalmente incapacitados para atendimento psicológico, embora afirmem possuir legitimidade para fazê-lo devido ao nosso Conselho de Psicologia não possuir o devido controle sobre as práticas ilícitas, o que origina assim, desconfiança diante da ciência da Psicologia e casos clínicos mal tratados que só tendem a se complicar ainda mais após terapia inadequada.


Agradeço ao Psicólogo Junguiano Dorneles Benato por sua orientação e sabedoria.


Bibliografia consultada:
FREUD, Sigmund – Esboço de Psicanálise – vol. XXIII
JUNG, Carl Gustav – Psicogênese das Doenças Mentais – vol. III
JUNG, Carl Gustav – O Desenvolvimento da Personalidade – vol. XVII
JUNG, Carl Gustav – Psicologia do Inconsciente – vol. VII/I
HARTMANN, Heinz – Psicologia do Ego e o Problema de Adaptação
KLEIN, Melanie –Inveja e Gratidão –Um Estudo das Fontes do Inconsciente
SPITZ, René A. – O Primeiro Ano de Vida
SMIRNOFF, Victor – Psicanálise da Criança
VENTURA, Zuenir – Inveja - Mal Secreto

Texto de Lunardon Vaz – Março de 2016.
e-mail: [email protected]


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