Descendo a Serra do Mar, um conjunto de sensações tomava nossos sentidos.
A princípio, garoa, neblina, muitas curvas e o coração apertado. Já viajávamos desde a madrugada. De repente tudo mudava: sol forte, montanhas enormes e uma mata de verde intenso respingada por flores lilás, roxas e amarelas, as curvas diminuíam e nossa ansiedade aumentava. Já estava chegando.
"Vamos ver quem vê o mar primeiro".
Esta frase ajudava demais, vidros abertos, pescoço esticado e logo após a leve colina a gritaria e depois de uma rápida discussão a juíza decidia que todos viram ao mesmo tempo.
Da imensidão azul esverdeada o vento soprava aquele cheiro, lembrança olfativa que acalma, a maresia.
Chegamos: descarrega, carrega e arruma.
Todos cansados, todos acomodados, todos dormindo.
Muito cedo meu pai me chama. "Vamos na rede"?
Barcos sobre a areia, a luz do sol faz brilhar corpos bronzeados e molhados, que num esforço lento e constante trazem para a praia uma enorme rede que vem recheada de frutos do mar. Tempos de fartura.
Com peixes pulando entre as pernas, vão separando as variedades em grandes cestos de palha trançada.
As pescadinhas saem do cesto ainda arfando e junto com um bom punhado de camarões vão para a nossa cozinha. Minha mãe limpa, tempera, cobre e resfria.
Agora é praia: cadeiras, barracas, isopor, pranchas, raquetes, bolas, etc.
Meio dia, após uma manhã de sol ardente e atividade intensa a fome é de antes de ontem...
Um rosto vermelho e besuntado de creme branco sorri com o prato na mão, na fila da panela para cobrir o peixe de capa crocante com o molho de camarão.

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