Quem está há tempo no mundo do vinho, já deve ter ouvido falar, sobre o famoso Julgamento de Paris. Quem está entrando agora, aproveite a oportunidade para descobrir um dos marcos na história da Vinicultura mundial, mas principalmente nos países do Novo Mundo.
O julgamento de Paris, que aconteceu em 24 de Maio de 1976, entrou na história por mostrar definitivamente que os países do chamado "Novo Mundo", que são aqueles que não estão na Europa, poderiam fazer grandes vinhos a ponto de competir e ganhar dos tradicionais e até então intocáveis vinhos franceses.
Neste julgamento o inglês Steven Spurrier, então um simples dono de uma loja de vinhos em Paris, resolveu colocar frente a frente os melhores franceses na opinião dele, com alguns vinhos californianos, que ele conhecera durante uma visita àquela região. Para se ter uma ideia do calibre dos franceses, havia entre os tintos (todos Cabernet Sauvignon), nada menos que um Chateau Haut-Brion 1970, Chateau Mouton-Rothshild 1970, Chateau Montrose 1970, Chateau Leoville Las-Cases 1971, entre outros que se juntaram a 5 californianos. Na competição dos brancos (todos Chardonnay), alguns franceses imponentes como Bâtard-Montrachet 1973, Puligny-Montrachet 1972, Mersault Charmes 1973 e mais outros, competiram com 5 californianos.
As degustações foram todas às cegas e participaram do julgamento 9 profissionais, entre sommeliers, produtores e profissionais do mundo do vinho.
O resultado? O branco californiano Chateau Montelena 1973 bateu com boa margem de diferença todos os outros competidores e o também californiano tinto Stags Leap Cabernet Sauvignon 1973 bateu com diferença apertada para o Mouton-Rothshild todos os outros Cabernets do evento. Foi um evento pequeno, mas que marcou uma nova era no mercado mundial do vinho, pois países com menor tradição vinícola viram que os franceses não eram imbatíveis e começaram a produzir bons vinhos.
Vinho – Pontuação final (soma das notas dos 9 juízes)
BRANCOS
Chateau Montelena 1973 (EUA) - 132
Meursault Charmes Roulot 1973 (FR) - 126,5
Chalone Vineyard 1974 (EUA) - 121
Spring Mountain 1973 (EUA) - 104
Beaune Clos des Mouches Joseph Drouhin 1973 (FR) - 101
Freemark Abbey Winery 1972 (EUA) - 100
Bâtard-Montrachet Ramonet-Prudhon 1973 (FR) - 94
Puligny-Montrachet Les Pucelles Domaine LeFlaive 1972 (FR) - 89
Veedercrest Vineyards 1972 (EUA) - 88
David Bruce Winery 1973 (EUA) - 42
TINTOS
Stag’s Leap Wine Cellars 1973 (EUA) - 127.5
Château Mouton Rothschild 1970 (FR) - 126
Château Haut-Brion 1970 (FR) - 125.5
Château Montrose 1970 (FR) - 122
Ridge Vineyards Monte Bello 1971 (EUA) - 103.5
Château Léoville-Las-Cases 1971 (FR) - 97
Mayacamas Vineyards 1971 (EUA) - 89.5
Clos Du Val Winery 1972 (EUA) - 87.5
Heitz Cellars Martha’s Vineyards 1970 (EUA) - 84.5
Freemark Abbey Winery 1969 (EUA) - 78
Curiosidades do evento:
- Você sabia, por exemplo, que, tanto na categoria dos tintos como na dos brancos, eram seis vinhos da Califórnia contra quatro da França?
- Sabia que os juízes da degustação eram nove, todos franceses, e que eles adotaram a escala de notas até 20 pontos?
- Sabia que a vitória americana na ala dos tintos foi bem menos expressiva do que na dos brancos?
Um brinde!
Diego Juchnievski