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Assionara Souza autora de "Cecília Não é um Cachimbo"

30 ago 2010 às 19:16

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Assionara Souza é contista, ensaista e professora. Nasceu em Caicó (RN), em 1969. Mora em Curitiba. Leciona Literatura Brasileira e Produção Textual. É mestranda em Estudos Literários pela UFPR e estuda trânsitos entre literatura e artes plásticas na obra de Osman Lins, e autora de dois livros de contos editados pela 7Letras, Cecília Não é um Cachimbo (2005) e Amanhã. Com sorvete (2010).

A entrevista foi realizada pelo e-mail:

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1. Você tem paixão pelos livros? Você lia quando era criança?

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Gosto dos livros. Mas ultimamente tenho gostado mais ainda daqueles que não foram escritos. Pelo menos estes guardam-se puros e intocáveis. Os livros são como pessoas, a gente nunca sabe o que pode acontecer com eles. Alguns são imprevisíveis; e outros mais previsíveis e chatinhos. Tenho fechado com a máxima do poema "Liberdade", de Fernando Pessoa: "Livros são papéis pintados com tinta." Então, não acho que o livro pelo livro seja importante, mas a relação que temos com esses objetos é que faz toda a diferença. Eu não lia livros clássicos quando criança. Como o Drummond no poema "Infância", ou seu eu lírico, que leu a extraordinária história de Robinson Crusoé. Por outro lado, eu ouvia muita conversa de adulto. Na minha família nós sempre tivemos grandes contadores de histórias, e uns poucos fantasistas, também. O que vem a ser, em alguns casos, quase a mesma coisa.

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2. Como surgiu o livro de "Amanhã. Com sorvete"?


Fui escrevendo textos. E quando vi tinha um livro pronto.Acho que isso deixa transparecer um certo amadorismo de minha parte.Há pessoas que fazem um projeto, traçam planos para escrever um livro único. Com relação a esse livro, eu selecionei, entre os muitos textos escritos, alguns que talvez se comunicassem melhor. Embora ainda tenha deixado escapar no conjunto uns três ou quatro que realmente não parecem participar da ideia geral do livro. De qualquer modo, assino todos. Fui eu que escrevi e traz o meu jeito de pensar. É um livro leve.Mas de uma leveza aparente.

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3. Se você tiver que escolher um conto de seu livro "Amanhã. Com sorvete", qual escolheria e por quê?


Bom, de certa forma, eu já escolhi todos esses contos que estão no livro. Não sei se os escolhi bem. Tenho muito texto. Escrevo sempre. Em todo caso, gosto das histórias mais divertidas. Essas que podem causar uma sensação melhor no leitor. Não sei se tenho muito a dizer. É bem difícil hoje dizer algo novo ou original. As coisas mais originais são tão simples. E atingir a simplicidade é para poucos; considerando que os grandes sábios pouco se arriscam a dizer uma única palavra. Nós escritores, no geral, somos tagarelas demais. E tagarelice resulta quase sempre em literatura enfadonha.

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4. Qual é sua relação com os leitores de seus livros de contos?
A maioria são meus amigos. Então, posso dizer que tenho uma relação boa. Não tenho milhares de leitores. Se algum dia isso acontecer, acredito que eu particularmente não terei relação direta com esses leitores, uma vez que eles estarão mais envolvidos com o universo das personagens. O escritor, na maioria das vezes (estou falando no meu caso) atrapalha o próprio livro. É quem menos pode opinar sobre o livro que escreveu. Principalmente porque, se o livro está escrito, não há absolutamente nada mais a dizer sobre ele. Se eu fosse vizinha ou amiga pessoal de um desses grandes (Salinger ou Kafka) jamais me atreveria a falar sobre literatura. Talvez um bom assunto fosse o cuidado que se deve ter ao trocar uma plantinha de vaso.


5. Você também orienta oficinas na Fundação Cultural de Curitiba. Você acha que é possível formar escritores ou escrever é um "dom", como uma marca de nascença?

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Não sei muito bem. Mas tenho uma impressão de que não se escolhe ser escritor. É uma condição que vai se contruindo de acordo com o modo de ver o mundo e a necessidade que sentimos de traduzir esse modo de ver. Mas a literatura é a arte que menos demanda em termos de material físico. Ao contrário da escultura, que exige que se tenha um grande bloco do melhor mármore; ou a pintura com suas telas e tintas e tudo o mais; a escrita só exige de quem escreve um lápis e um pedaço de papel. E hoje é a época em que mais se evidencia a verdade de que, sim, qualquer um pode se tornar um escritor. Os escritores que chegam às oficinas de criação literária sabem disso. E são bastante convincentes para provar que é simples ser um escritor. Mas a questão não está somente nisso. Escrever é uma baleia branca. Você vai sempre buscá-la. Mesmo sabendo que ela é maior que você. É angustiante.


6. Você já teve em suas aulas algum aluno com talento excepcional para a escrita, quase um "gênio", como se fala popularmente?

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Não acredito em gênios. Acho que isso é uma especulação publicitária.Há alguns iluminados: Jesus, Buda, Einstein ou Darwin. Os talentos excepcionais podem muito bem não saber fazer um arroz. Então é tudo muito relativo. As artes e a ciência selecionam demais a sociedade como se somente aqueles que puderam propor um teorema de sua imaginação e provar como ela funciona é que sejam dignos de serem chamados de gênios. Um homem simples que viveu toda a vida quieto e sem expressar muitas palavras pode igualmente ser um gênio sem que ninguém tome conhecimento do fato. Isso sim me parece genial.


7. Que conselho pode daria aos novos escritores?


Escritores, não deem ouvidos para conselhos de outros escritores. Nenhum destes servirá pra vocês.


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