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Entrevista com Flavia Quintanilha

18 mar 2021 às 09:14

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Flavia Quintanilha poeta londrinense é doutoranda em filosofia pela Universidade de Coimbra. Atua como membro colaborador no Instituto de Estudos Filosóficos na mesma instituição e é editora associada na Philosophy International Journal. Publicou os livros Aporias da Justiça (Novas Edições Acadêmicas, 2015) e A mulher que contou a minha história (Kotter – Selo Sendas, 2018). Compõe as antologias Sarau Brasil 2019, Prêmio Poesia Agora – Inverno e Antologia Ruínas (Patuá, 2020). Tem poemas publicados na Revista Literatura &Fechadura, na Revista Carlos Zemek e na Revista Torquato.” Em 2020 recebeu a Menção Honrosa no XVIII Concurso "Fritz Teixeira de Salles” de Poesia pelo poema "Estrela”. Seu novo livro Desabotoar está sendo lançado pela Editora Patuá.

1) Quando começou a escrever poesia?

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Aprendi a ler e a escrever com 5 anos de idade e sempre fui tomada pela ideia de um dia ser uma escritora. Nessa época deixava um caderninho na cabeceira da cama e ali escrevia tudo o que surgia como imagem. Não me lembro ao certo a idade em que os poemas apareceram, mas desde muito menina passei a carregar o tal caderninho por todos os lugares. Até hoje tenho sempre comigo um caderno de notas e nele escrevo meus poemas. Inicialmente tinham uma feição de soneto, mas no início da adolescência isso foi mudando, passando por uma aproximação ao Haikai até chegar ao que escrevo hoje. A vida vai mudando a gente e o escrever é algo como uma metamorfose que vai se transformando com o revelar de si.

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2) Fale de seus autores preferidos.

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Quantas autoras e autores maravilhosos existem, não é mesmo! A cada dia descubro alguma escrita nova e me apaixono. Mas existem aquelas pessoas que sempre revisito e em cada leitura um novo olhar. Dessas, leio todos os dias Helena Kolody e Sophia de Mello Breyner Andresen e que, sem dúvida, são minhas preferidas. Mas quem não se emociona com Wisława Szymborska, e quem não é levado pelo enredo de Maria José Silveira, quem não viaja nas histórias de Maria Valéria Rezende e quem nunca se apaixonou pelos poemas de Luci Collin com a palavra precisa em cada verso? Há tanta delicadeza em Octávio Paz e tanta profundidade em Ferreira Gullar! Quem nunca desejou habitar um poema de Manoel de Barros? E quem nunca viu a face verdadeira do Brasil ao ler Conceição Evaristo? Atualmente tenho lido muito Ricardo Aleixo e conheci recentemente a escrita forte de Cinthia Kriemler e Adriano Moura. Aprendo muito com todas e todos. Na verdade me sinto sempre em falta quando nomeio quem está próximo de mim diariamente, o bom mesmo é ler.


‎3) Como surgem as ideias para seus livros?

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Hum, esta é uma pergunta delicada rs. Certamente não há um método, nunca houve! Meu primeiro livro foi um recorte temporal, esse foi o propósito. Uma maneira de comemorar meus 50 anos e apresentar minha poesia. Meu livro atual, que está sendo lançado pela Editora Patuá, é um livro muito delicado e cuidadosamente organizado para mostrar a brevidade das coisas, da vida em sua simplicidade e profundidade. Um livro que me emociona muito e que marca um novo momento em minha escrita. Ah sim as ideias! Penso que as ideias surgem da vida e da vastidão de coisas que existem no que é viver.


4) Que lugar ocupa a Poesia na sua vida?

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Já parou para pensar quantas flores desabrocham todos os dias e não vemos? As Íris, Tulipas, Lírios … florirão independente de testemunharmos ou não o momento. E há beleza infinita nesse momento. A Poesia tem esse significado para mim. Ela está em tudo! Eu só quero a sorte de testemunhar o momento, não como alguém que possui algo, mas como aquela que se entrega devotamente ao sublime. Para mim, não haveria vida sem Poesia!


5) Qual é a sua expectativa? Espera alguma reação específica dos leitores?

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Sabe… nunca pensei dessa maneira: minha expectativa. Eu faço o que sei fazer. Mas acho que toda pessoa que se entrega à escrita, quem faz dela seu caminho, espera sem dúvida um dia ser lida.


6) Tem algum ritual para escrever, como ouvir música, tomar um café ou algum outro?

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Silêncio! Eu reverencio o silêncio. Mas nunca tive um ritual. Os poemas vêm não sei bem de onde. Mas quando o poema chega ele me domina. Paro tudo o que estou fazendo e tenho que escrever. Entretanto, tenho modificado alguns hábitos e já há algum tempo tenho reservado as manhãs ao ofício da escrita ou ao estudo sobre poesia e literatura. Confesso que tem sido uma experiência maravilhosa. E o que tenho produzido tem um outro valor.


7) Como é seu processo criativo? Para escrever um poema, por exemplo, você parte de uma palavra? De uma imagem? De uma vivência? De acontecimentos?

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Percebo meu processo criativo como uma espécie de condição ou estado meditativo. Os poemas têm surgido muito mais da quietude e isso me alegra como nunca. E pode ser de qualquer momento, uma imagem, um voo de borboleta, as sombras das árvores na parede da casa, um olhar que me atravessa quando ando a pé pela cidade, uma lembrança, um sorriso, uma palavra, a dor invisível de um desconhecido. Qualquer coisa pode ser o portal que me conecta a ele e assim nasce. Mas certamente, nunca à fórceps. Não dá para forjar, entende? É preciso amar o poema, embeber-se de poesia, respeitar o poema. Trabalhar carinhosamente para que a forma apareça, sem podas drásticas ou enxertos desnecessários.


8) Na sua opinião a internet incentiva a leitura de livros ou prejudica?


As duas coisas, rs. Explico.


Por um lado, nunca conheci tantos autores e obras quanto agora. E isso é claro que vem da facilidade de acesso que a internet nos proporciona. Eu sou uma entusiasta do livre acesso à informação. Resenhas, críticas, lançamentos, você pode até falar diretamente com aquela ou aquele autor que você tanto amou ler e que vive em algum lugar desse planeta. A interação é possível e isso é maravilhoso. Também passamos a ter mais acesso às obras pela possibilidade de comprá-las em e-book, por exemplo, ou acessar o acervo de alguma biblioteca em um país qualquer. Eu leio muito pelo Kindle e adoro. Descobri que a leitura também pode ser um ato coletivo lendo dessa maneira, pois quando grifo uma parte que gostei percebo muitas vezes que centenas de outras pessoas também grifaram o mesmo trecho. Isto é incrível!


Por outro lado, é necessário cautela e sinceridade. Cautela, pois essa atividade de leitura ou qualquer outra dentro ou fora da internet não é uma corrida para alcançar o status de "super produção”, ou seja, o que conta não é a quantidade que se empilha numa lista imensa de coisas feitas. Assim, penso a sinceridade. Usando uma frase de Sartre, "só existe realidade na ação”! É lendo a obra e não a resenha que te faz leitor ou leitora. E nesse sentido, mais uma vez, o número contabilizado pouco importa. Importa se li, se fui tocada, se me moveu ou me fez mudar.


Em outras palavras, a internet é necessária para conhecermos obras e autores e é necessário estar fora dela para realizar o ato da leitura.


9) Você acha que o poeta nasce ou ele se faz?


Essa é o que diria de uma pergunta "saia justa”, rs, ainda mais feita a uma filósofa.


Se me fizessem esta pergunta há alguns anos eu diria sem respirar: se nasce! Mas hoje falo na posição de uma existencialista e nesse sentido compreendo que o ser e o fazer caminham juntos. É na prática diária, na dedicação e no estudo consistente que se chega a ser o que se pretende ser. Eu sei que nasci poeta, mas poderia ter deixado isso de lado. Poderia não ter me dedicado ao que faço. Poderia ter abandonado aquilo que penso ser a maneira em que meu ser se manifesta nesse mundo. Acredito que dificilmente grandes poetas tenham se colocado no altar da genialidade por eles mesmos e assim foram reconhecidos. Escrever é também uma prática diária e que precisa ter o outro lado, a leitura de outras pessoas, receber críticas e estar aberto a elas. O que quero dizer é, mesmo que seja você uma pessoa de muitos talentos, faz-se necessário estudar sobre aquilo que quer representar ou realizar.


10) Fale um pouco de seus planos para o próximo ano.


Bem, ainda estou na energia do novo livro "desabotoar” que está sendo lançado esse ano. Também estou participando de um novo projeto "egéria”, pelo Selo Risco, que sairá ano que vem. Um projeto lindo que une escritoras e artistas visuais londrinenses. Neste trabalho terei a felicidade de trabalhar de perto com a talentosíssima Daniele Stegmann. Além disso estou trabalhando em dois novos livros, mas tudo com muita calma.


O que espero, realmente, após um ano de reclusão é poder viajar muito para eventos literários! Rs.

(Entrevista de Isabel Furini com Flavia Quintanilha - Essa entrevista já foi publicada no Paraná Imprensa.)


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