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Entrevista com o cronista e poeta paranaense Arzírio Cardoso

27 dez 2021 às 19:23
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Nosso entrevistado é o poeta e cronista Arzírio Cardoso, paranaense, nascido em Campo Largo. É graduado em Letras, pela UTP, e mestre em Estudos de Linguagem e Tecnologia, pela UTFPR. Tem 3 livros publicados, dois de poesia (ambos pela editora Penalux), e um de crônicas (editora Patuá). Seu livro de crônicas “Conheço duas formas de acabar com a vida que são tiro e queda” foi finalista do Prêmio Jabuti, em 2021. Em 2022, publicará “Crônicas de quarentena e outras virulências”, seu quarto livro.

Fale um pouco de seu início como escritor. 

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Comecei a escrever de forma mais regular em 2003, ainda que antes disso, no Ensino Médio, eu já escrevesse esboços de crônicas e poemas. No ano seguinte, 2004, iniciei a graduação em Letras, e foi ali que decidi tentar fazer da escrita um ofício. Escrevi muito e sem publicar nem mostrar os textos a ninguém até 2015, ano em que decidi criar um blog e uma página no facebook, a extinta Formigalhas. Por algum motivo, a página ganhou muitos seguidores e bastante engajamento, o que me levou à publicação do primeiro livro, em 2015 mesmo.

Sente a influência de algum ou alguns autores em sua obra?
A angústia da influência nos persegue sempre. No começo, tudo o que eu escrevia parecia já ter sido escrito antes por alguém, tamanha era minha habilidade inconsciente de assimilar e emular estilos alheios. Isso foi bom, no início. Significava que a leitura era tão apaixonada que eu acabava transformando tudo aquilo em minha própria matéria orgânica. Mas é bom apenas como treino, como etapa inicial do longo processo de tentativa e erro que aos poucos nos conduz na direção de uma voz própria. Claro que ainda hoje sou influenciado por muitos autores, mas acredito que tudo já esteja diluído, a não ser nos casos em que faço metalinguagem e intertextualidade de forma proposital, técnicas de que gosto muito.

Fale um pouco de seu livro que foi finalista do Prêmio Jabuti.
É o livro de crônicas chamado “Conheço duas formas de acabar com a vida que são tiro e queda”, lançado pela Editora Patuá. Os textos foram escritos entre 2017 e começo de 2020. Mas, como costumo dizer, todo livro levou uma vida inteira para ser escrito. Os temas são bastante variados, assim como o estilo de escrita, mas o tom geral é o humor, como o título já sugere (ou grita). Gosto de escrever sobre língua e linguagem, fazer jogos de palavras e brincadeiras com elas, sempre com a seriedade inerente a qualquer brincadeira. Mas também há textos mais reflexivos e filosóficos, alguns com crítica social. E, como é característica do gênero crônica, observações do cotidiano também estão presentes. Diria, então, que é um livro bastante heterogêneo, mas com uma inclinação para o humor.

Como é seu processo criativo? Para escrever uma crônica, por exemplo, você parte de uma palavra? De uma imagem? De uma vivência? De acontecimentos?
De tudo isso que foi elencado na pergunta, em proporções variadas. De qualquer coisa, na verdade. A crônica se alimenta da vida, e a vida comporta tudo. O texto que foi o pontapé inicial do livro, por exemplo, só para continuar a falar de alimentos, escrevi após observar um asterisco numa lata de sardinha. Asteriscos e letras miúdas são um perigo.

Como analisa a sua própria obra? Fale de seu estilo.
Difícil. É muito complicado tentar se afastar dos próprios textos e analisá-los com olhar estrangeiro. Sobre esse olhar absolutamente parcial que temos para as próprias crias, eu gosto mesmo é do que o Leminski fala num poema: “Tudo o que eu faço/ alguém em mim que eu desprezo/ sempre acha o máximo. / Mal rabisco, / não dá mais pra mudar nada. / Já é um clássico”. Ou então a fábula “A águia e a coruja”: a coruja, zangada, chama a águia e diz para ela não comer mais os seus filhotes. A águia responde que é muito difícil diferenciá-los, saber quais são os filhotes da coruja, quais são os de outra ave. A coruja então diz: é simples, quando você encontrar os filhotes mais bonitos que existem, você não os come, pois são os meus. No outro dia, a águia encontra as corujinhas, verifica que são horríveis e as devora.

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Como faz os títulos de suas crônicas e livros? Você escolhe alguma palavra do texto, sintetiza a ideia da crônica ou os títulos surgem na sua cabeça?
O título do livro “Conheço duas formas de acabar com a vida que são tiro e queda” saiu porque adoro criar trocadilhos e outros jogos lúdicos com a língua. Postei a frase na internet e bastante gente riu e comentou. Depois, a partir dela (apesar de ser a última frase do texto) escrevi uma crônica sobre trocadilhos, chamada “Jogos de palavras”.

Qual é a sua expectativa? Espera alguma reação específica dos leitores?
Quanto a um leitor ideal, sempre digo o seguinte: o maior imperativo moral de um escritor brasileiro é continuar escrevendo como se o Brasil fosse letrado. Em outras palavras, jamais subestimo o leitor, jamais fico explicando tudo pra ele como se ele fosse uma tábula rasa. O que espero, portanto, é que os textos sejam compreendidos. O que acontece, no entanto, é que na atividade leitora o que comanda é a subjetividade, então reações as mais variadas sempre acontecem, mesmo as não previstas pelo escritor.  

Segundo a sua percepção, esta época de pandemia é boa ou é ruim para a criação literária? Você se sente mais ou menos inspirado?
A pandemia é ruim por qualquer ângulo que se possa analisar, é uma tragédia inimaginável e horrenda, mesmo que inevitavelmente o morticínio faça nascer arte. Não acho que haja épocas piores ou melhores para a criação literária. É possível fazer arte ruim sobre Auschwitz e boa arte sobre amenidades.   

Que orientações daria para um escritor iniciante.
Que procure apresentar seus textos a pessoas que os critiquem de verdade, a pessoas que apontem as falhas, inconsistências e lugares-comuns sem medo de pesar a mão, a pessoas que possam dizer “isso aí está muito ruim”, o que no começo provavelmente será verdade. E que evite a turma do tapinha nas costas e do “Nossa, que bonito, parabéns!”. Entre a condescendência e o respeito, escolha este último. 


Fale de seus projetos para 2022.
Entre 2020 e 2021, escrevi o livro “Crônicas de quarentena e outras virulências”, que foi o vencedor do Prêmio Literário Cidade de Manaus. Em 2022 será publicado pela Editora Patuá.




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