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O vendedor de sonhos (crítica literária)

06 mar 2010 às 11:31

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O Vendedor de Sonhos: O chamado foi escrito por Augusto Cury, médico, psiquiatra, psicoterapeuta e um escritor de sucesso. Suas obras já venderam mais de 10 milhões de exemplares no Brasil.

O numero de exemplares vendidos deixa as pessoas curiosas e chama novos leitores. A pergunta é: como um livro consegue atingir um índice de vendas tão significativo?

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O romance tem abordagem psicológica e emocional, procura dar lições de vida e critica a sociedade contemporânea (um hospício global). No início da narrativa um homem ameaça se jogar do alto de um edifício, em São Pablo. Seu nome é Júlio César Lambert. Ele é um professor universitário.

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Um sujeito maltrapilho consegue aproximar-se do suicida e realiza um gesto incomum, oferece um sanduíche (isso encanta os leitores). Logo Júlio e o desconhecido passam a dialogar.

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A história de Júlio pode ser parecida com milhares de histórias, (fato que comove o leitor). Júlio já traiu a esposa, contraiu dívidas e seu filho, João Marcos, envolveu-se com drogas.


O homem maltrapilho, que para alguns é um sábio e para outros, um louco, modifica a vida das pessoas. Faz lembrar aquela frase do famoso lingüista Alfred Korzibsky (1879-1950), popularizada pela Neuroglinguística: "mapa não é território". O maltrapilho fala como um mestre e muda os mapas mentais. Mas quem é o vendedor de sonhos? Para dar mistério à obra, o narrador não revela quem é o personagem.

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Ao sair do prédio a multidão cerca-os. O vendedor começa a dançar, forma-se uma roda, Júlio é puxado para dançar é sente-se invadido pela sensação de profunda alegria. O Mestre interrompe a dança e faz uma pergunta filosófica à multidão: Quem são realmente vocês?


O Mestre convida um bêbado, Bartolomeu, um falso Milagreiro, Edson, e outros personagens a compor um grupo. Ele fala frases belas e de impacto: "O Ser morre quando deixa de se sentir importante", "Não posso mudar o que fui, mas posso construir o que serei.", "Toda mulher é bela. A beleza não pode ser padronizada."

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E o Mestre vira ídolo. É convidado a um Mega Show para milhares de pessoas e mostram um filme... revelando o passado do mestre. Mas, os ensinamentos são superiores ao homem que os proclama. Ou não são?


O vendedor de sonhos vende o velho sonho de ser livre. De eliminar padrões, fraquezas. Assuntos já tratados com excelência pelo filosofo Nietzsche em "Assim falou Zaratustra". Mas Nietzsche é radical. Ele acreditava que uma pessoa livre é sempre incompreendida, condenada à solidão. A solidão do super-homem. E, além disso, Nietzsche era um gênio capaz de examinar os interstícios da alma humana, capaz de esfolia-a, mostrando-a sem artifícios.

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O mestre da obra de Nietzsche fala no vazio. Faz lembrar aquela afirmação de Gorgias: (...) "ainda que o ser fosse conhecido, o conhecimento seria incomunicável pela linguagem". O herói de Nietzsche permanece na solidão. Alguns o escutam, mas ninguém o entende. O peso da solidão e da responsabilidade da própria vida assusta.


Cury, ao contrário, faz um personagem que é aceito e seguido por alguns e odiado por outros. Os discursos do vendedor de sonhos sempre cativam alguém. Ele consegue seguidores. Longe da solidão de Zaratustra, o vendedor de sonhos é um ser gregário. E sejamos honestos, esse personagem encanta, pois mantém o leitor dentro na zona de conforto.


O livro de Cury tem seu valor, pois critica à sociedade globalizada e desumanizada, esquecida de valores como compaixão, carinho e compreensão. A construção da narrativa é de obra de auto-ajuda, sem linguagem literária, fato que irrita aos amantes da literatura, mas que faz vibrar os amantes de livros de auto-ajuda. Lembremos que a obra já foi publicada em 50 países.


E o velho ditado permanece: É impossível agradar a todos.

O Vendedor de Sonhos, Augusto Cury.
(Academia de Inteligência, 2008, 296 pág.).


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