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OS VELHACOS - Resenha de Isabel Furini

13 set 2019 às 09:37

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A Literatura é considerada um espelho do mundo. Muitos autores defendem a ideia de que a Literatura não é só passatempo, pois ela é uma arma poderosa para a humanidade. O escritor pode expressar suas ideias, pensamentos, emoções, inquietações através de um personagem. A literatura é uma maneira de interpretar o mundo.

Ao ler o livro "Os Velhacos" (Editora Insight, 192 páginas), percebemos essa obra como uma maneira de olhar a sociedade, a política, as relações humanas, e valorizamos mais esse romance.

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Miguel Araújo e João Marques, personagens do livro "Os Velhacos", ficaram na história da cidade como grandes homens e eram cultuados como heróis, mas quando seus descendentes realizam um estudo mais aprofundado percebem que foram simplesmente homens com seus sonhos, seus preconceitos e suas fraquezas. Os autores destacam a ambição desmedida: "O astuto Miguel Araújo tinha olhos treinados para vislumbrar qualquer oportunidade de ganhar dinheiro."

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Trata-se de um bom romance, que nos permite entender melhor o mundo e compreender também os movimentos da alma humana. O livro de Helena Douthe e Franccis Yoshi Kawa cumpre essa função reveladora do romance, pois além de retratar o mundo político com suas falsas promessas, traições e sede de poder e enriquecimento, mostra como os personagens amam, sonham e sofrem. Nesse universo de "Os Velhacos", os personagens estão pintados com as cores da vida: amores, esperanças, decepções, coragem, medos, ciúmes e traições. A gama de sentimentos é muito ampla, porque Helena e Franccis criam personagens complexos.

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Os patriarcas das famílias Marques e Araújo são vistos como heróis pela história oficial, mas essa imagem idealista é desintegrada quando documentos escondidos são revelados. As duas famílias amigas se tornam antagonistas. A trama começa no final do século XIX e termina nos anos 70, o tempo revela as ações e o carácter de cada personagem.


Destacamos a figura da protagonista Juliana Araújo, filha de Tereza. Lemos que "Tereza era dona de casa déspota e mãe tirana. Impunha uma rigorosa regra de conduta aos seus filhos, baseada na sua interpretação do que era certo ou errado. Juliana foi criada no regime de terror religioso, onde quase tudo era pecado. Reprimida pela mãe, Juliana era extremamente disciplinada e controlada até na sua manifestação de alegria."

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Com o tempo Juliana vai conquistando sua liberdade, conseguindo superar as limitações religiosas e morais que a mãe lhe impôs, e mostra ao leitor que era uma mulher capaz de lutar, de se manter firme. Essa é uma característica positiva da obra, a mudança psicológica dos personagens.


No sétimo capítulo, percebemos os objetivos da protagonista: "Juliana organizou o primeiro comício, achava que precisava sair na frente, dar exemplo de ética, manter a disputa em alto nível". Juliana surpreende o leitor, quando no décimo terceiro capítulo, frustrada com as artimanhas da oposição, decide lançar dinamites na praça da cidade.

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O livro foi escrito a quatro mãos, mas não incorre no erro de mostrar dicotomia. A história é verossímil. Os autores conseguiram criar um narrador que mantêm sua posição de observador do início ao final da obra.


O romance "Os Velhacos" é atual porque retrata os bastidores da política, os perigos, as desilusões, os rancores. Helena Douthe e Franccis Yoshi Kawa criaram um enredo que desperta a atenção dos leitores, pois a transformação psicológica dos personagens é produto da luta para manter a imagem, da luta pelo poder.


Os autores conseguiram imprimir um ritmo rápido, as descrições são curtas e marcantes. Os diálogos estão bem construídos. Os Velhacos é uma obra para ler e refletir.

Isabel Furini
É poetisa, escritora e educadora. Seus textos foram premiados no Brasil, Espanha e Portugal.
Contato: [email protected]


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