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Poemas de Thomas Brenner

24 fev 2022 às 00:18

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METAMORFOSE


e, tentando queixar-se, emitiu um mugido,

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e ficou aterrada ao som da própria boca.

Leia mais:

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cidade vazia

silêncio

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persigo um novilho

silêncio

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afio a navalha

faísca

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ó

noite sem olhos

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assist

a

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no vale do asfalto

sem luz


indago o novilho

- Jesus?


olhares alhures

a rês


tem olhos humanos

talvez


olhou-me de baixo

do alto


riscou o seu casco

no asfalto


marcou o seu nome

no chão


novilho: meu pai, meu

irmão


me lanço ao bezerro

abraço


imploro o perdão

escaço


me vejo cercado

rebanhos


milhares de olhares

estranhos


navalhas incêndio

silêncio


cidade vazia



CAMPINA DE VIDRO II


alguns acreditam que Curitiba

é algo de Helena Kolody


Emiliano Perneta

Bento Mossurunga


ainda que no mapa

ela se estenda


por campinas de barracos

em rios suburbanos


(esgoto exposto é Curitiba

a contragosto)


alguns acreditam que em Curitiba

nunca se derramou uma gota de sangue


**


o mecânico recuou assombrado

diante do que escorreu da torneira


a dona de casa manchou a louça

com o mesmo líquido colorido


represas regadas

com sangue humano


nem mesmo a caixa d'água

do condomínio


escapou da maldição

a seca duraria mais de um ano


***


uma grande nuvem

se formou sobre Curitiba


todos correram

para as ruas


com panelas, bacias

latas e garrafas e tudo que podiam


o prefeito anunciou na TV

o alívio chegaria, enfim


mas uma intensa chuva negra

cobriu de luto todas as luzes de natal


****


nossos monumentos

continuam nus na escuridão


marchando sobre a campina sem saber

quando o vidro se romperá


e toda Curitiba escorrerá

pelo ralo, o halo, o ânus do mundo






Thomas Brenner


Nasceu em março de 1982 (Curitiba/PR). Publicou o livro Desaforos, aforismos & outros foras (Editora Penalux, 2013) e a plaquete Ressurreição (Editora Primata, 2021) – ambos de poemas.

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