Todos nós, em algum momento, recebemos a incumbência de preservar a natureza. A importância dela é intrínseca ao ser humano, parte integrante desse conjunto.
O termo biodiversidade ou diversidade biológica designa a variedade de formas de vida, desde os microorganismos até a flora e a fauna silvestres, além da espécie humana. É fundamental relacionar o conceito de biodiversidade ao significado de ecossistema, que compreende um sistema natural complexo composto por comunidades conectadas que interagem entre si, influenciados por fatores abióticos, como o clima e o relevo.
No Brasil, pelo grande território e riquezas naturais, a biodiversidade chama a atenção no contexto mundial. Aspectos como regulação do clima, controle de pragas da agricultura e de vetores de doenças, manutenção do ciclo do carbono e de outros nutrientes indispensáveis à vida são garantidos justamente por essa tal de diversidade biológica.
Entretanto, na mesma medida em que a biodiversidade presenteia o homem, este retribui com impactos ambientais negativos. A explosão demográfica das últimas décadas agrava os níveis de poluição, associada ao uso indiscriminado de recursos naturais, culminando com as mudanças climáticas. Cada vez mais habitats são alterados ou extintos para atender às "necessidades" do ser humano.
Diante de tantos problemas ambientais, de ordem tão complexa, será que realmente nos atentamos ao valor da natureza - ou, da biodiversidade?
Mesmo sob o ponto de vista antropocêntrico, o valor da biodiverisdade é uma questão pouco considerada. A importância da biodiversidade para a medicina é um bom exemplo. A reflexão é bem simples. Os recursos naturais, sejam eles renováveis ou não, se esgotam. Espécies de plantas, fungos, bactérias e animais são extintos.
Mas, em um dessas espécies em extinção, não conhecida pela ciência, havia uma propriedade específica importante para a cura de uma doença: o câncer. Uma vez extinta, encerram-se as possibilidades de encontrar essas informações genéticas.
A biotecnologia e a medicina preventiva têm progredido rapidamente com a contribuição de áreas como a genética e a bioquímica, além da descoberta de vacinas e antibióticos. A cada 150 medicamentos prescritos e comercializados nos Estado Unidos, 118 são compostos por elementos naturais, encontrados em plantas, fungos, bactérias e animais.
Os exemplos não são algo distante da realidade. O Instituto de Biociências (IB) da Universidade de São Paulo (USP) revelou, por meio de uma série de experimentos, que espécies vegetais comuns no Brasil inibem a linhagem de células cancerígenas. As plantas dos gêneros Croton e Astraea apresentam extratos com capacidade de inibir a geração de tumores, como o câncer de pulmão e leucemia. Embora considerado um estudo preliminar, a importância da descoberta é evidente.
Assim, o investimento em pesquisa é cada vez mais necessário para a concretização de descobertas, como também é preciso conservar a sua fonte: a biodiversidade.
Não se trata de considerar a natureza como um bem intocável, mas de conservar as áreas protegidas e implementar novas áreas. Apesar das modalidades de proteção existentes no Brasil no âmbito do Sistema Nacional de Unidades de Conservação - Lei 9.985/2000, surge uma questão.
Já que a biodiversidade não segue os limites das fronteiras delimitadas pelo homem, o que determina que um local seja digno de proteção em detrimento de outro?
Para responder a essa difícil pergunta, a melhor (e talvez única) saída é desenvolvermos a sensibilidade de nos compreendermos a nós mesmos como parte integrante da natureza. Em vez de encarar a árvore e o bicho ameaçados de extinção como obstáculos no caminho do progresso econômico, nem como algo bonito lá na Amazônia, distante do cotidiano e das atitudes de cada um. Talvez assim valorizemos o real significado da palavra biodiversidade.