Solidão , verdade e conceito dão vida a fotografia de Moda
Após entrevistar a jornalista Janaína Ávila sobre a importância da informação de moda, decidi entender a função da imagem no segmento.
Recorri ao fotógrafo londrinense Bernardo Sardi, que atualmente mora em São Paulo e estava de passagem pela cidade. O real movimento do mercado, infelizmente, dispensa identidade e conceito de moda, mas como isso interfere na foto? E o fotógrafo? Se deixar iludir com a cópia? Há conceito na moda?
O encontro estava marcado há algumas semanas, desde quando o fotógrafo Rei Santos, disse que Bernardo poderia me ajudar. Combinamos de nos ver no começo de novembro, bastava ligar.
Foto: Bernardo Sardi
[Sexta-feira, 14:30, AM]
- Alô!
- Oi Bernardo, é a Maíra.
- E aí
Oi! Pera aí
Maíra
- Oi! Está podendo falar?
- Então, não, mas
- Confirmado hoje?
- Hoje não dá, consegui mais umas fotos pra fazer vou sair tarde do estúdio, mas amanhã rola, me liga pela manhã e a gente vê como faz, pode ser?
- Pode ser!
[Sábado, 11:05, AM]
- Bernardo, bom dia!
- Oi Maíra! Desculpe por ontem, estava no meio do ensaio e acabei pegando outro cliente, embalei. Não ia conseguir te atender, estou indo no Caximbo agora é jogo rápido. Na hora do almoço , que tal?
-Beleza, chego lá daqui um pouco.
Na lateral do extenso muro do Táxi Aéreo, próximo ao aeroporto de Londrina, se encontra o estúdio fotográfico mais antigo da cidade, Caximbo. Há 16 anos fazendo a alegria do mercado publicitário, encontrei Bernardo numa manhã típica de verão e cliques fotográficos.
Foto: Bernardo Sardi
[Sábado, 11:48, AM]
Toquei a campainha do estúdio.
- Oi, entre, espere aqui na recepção. O Bernardo já vem.
Do lado esquerdo um sofá preto, na parede uma tela de pintura acrílica registrava o choque do mar com areia. Na frente, a luz acesa pendurada no teto descia uns 5 metros até iluminar a mesa de madeira, os papéis e o grampeador. De fundo, uma escada geométrica levava ao segundo andar.
Sentei.
-Desculpe, estava fotografando. Terminei.
- É sempre essa correria quando você vem?
- É sim, eu vou arrumando coisa pra fazer. Hoje não era para fotografar, mas o Caximbo me pediu e eu vim ajudá-lo.
- Entendi.
- Vem cá, vamos ali no fundo, a gente conversa melhor é mais calmo.
Nos fundos do estúdio um corredor cheio de coisas antigas brilhavam ao lado de fusca azul. Na frente via-se a zona oeste de Londrina, em pé e de óculos de sol a conversa começou.
Foto: Bernardo Sardi
Os primeiros cliques
"Eu sempre fotografei, desde pequeno. Quando tinha uns 14 anos eu pegava a máquina escondido do meu pai. Era uma câmera profissional por isso ele não gostava de me emprestar , mas como ele curte essas coisas também, acabava me emprestando. Foi assim até eu comprar minha primeira câmera aos 19 anos, por meios que não vem ao caso agora" conta.
(Risonho me contou, mas prometi guardar o segredo).
" entrei na faculdade e fiz três meses de direito, que meo, não tem nada a ver comigo! Eu pensava assim: Do que eu gosto? Música, foto, música, música, foto, moto e cerveja, mas cerveja boa. Eu acordo ouvindo música porque dormi escutando. A música é essencial na hora de fotografar, cria o clima necessário para as sessão fotográfica. É ela quem traz o olhar mais artístico nas fotos, é ela que me move", fala olhando pra baixo.
- Você é um músico frustrado Bernardo?
"Eu sou! Só que a fotografia dá mais dinheiro. (Risos). Tenho uma banda com alguns amigos, toco bateria também e to esperando minha moto ficar pronta. Até postei uma foto da moto no Facebook. Até ganhei dinheiro com música, mas Aos 22 anos comecei a cursar Design Gráfico (Desenho Industrial), porque é o único curso que tem três anos de fotografia. Na fotografia, comecei fazendo de moda, entrei na faculdade de Design já no mercado, então muita coisa eu já sabia como fazer, era meio que monitor da turma", conta.
Foto: Bernardo Sardi
Apertando o botão
"Eu acredito na subjetividade da arte, afinal, arte só é arte pra quem acha que é. Então a conclusão de alguma obra cabe só a quem tá vendo. A música é arte pra mim, eu só continuo escutando alguém quando ouço e curto demais, porque se escuto só porque "tão escutando", não é sincero.
Eu não tenho problema nenhum em explicar como a foto foi feita. Quando dividia estúdio em São Paulo com mais cinco sócios rola uma troca de experiência incrível a gente se liga pra saber como a foto foi feita, qual luz foi usada Com meus amigos aqui de Londrina também, rola assim. Não vejo problema nenhum com nisso.
Mas tem que ser sincero, tem que dar opinião verdadeira. Se não gostou fala o motivo, argumenta, vem desenvolver o pensamento junto, trocar opiniões, se gostou a mesma coisa tem que rolar, também.
Às vezes o cliente chega com uma imagem de referência da Chanel, por exemplo, e me fala: "Eu quero isso". Eu já falo na lata. "Isso não vai rolar, desiste, não vai dar certo". "Por quê?" Por que é uma produção feita por milhares de pessoas e tem uns cinco milhões investidos nessa foto aí, mas a gente pode fazer isso aqui ó. Que tal? E assim vai. Só criticar também não rola.
Cada marca tem, ou deveria ter, um conceito, um público alvo, uma estratégia de marketing, de comunicação, e, sabendo disso, tem que criar uma identidade visual, um comportamento, pra atingir seu público.
Acho que a fotografia conceitual se alia ao comercial e ao marketing pra vender o produto, mas sempre focado mais no comercial que no artístico" reflete.
Foto: Bernardo Sardi
Artístico autoral
"Eu ainda estou construindo meu senso estético. A moda é comportamento
eu ainda to construindo minha estética visual. Eu gosto de fazer a imagem. De transmitir a verdade, o que está na minha cabeça. Na verdade gosto de umas coisas mais pesadas, umas fotografias com luzes cortadas, coisa que o comercial não usa. Gosto de ir lá e por o dedo na ferida.
No livro "Imaginário Cromático" foi publicado às fotos que fiz quando fiquei 35 dias viajando pela Europa, passei por Bruxelas, Barcelona, Berlim e Londres. Os primeiros 15 dias fui com uma amiga, a Lua Specian, os outros 20 dias fiquei sozinho e por isso o ensaio "Só na cidade".