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surto

17 ago 2009 às 20:30
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Tem algumas coisas nesta minha vida que me perseguem, este blog, por exemplo, é uma delas. Faz tempo que perdi a vontade de escrever sobre um assunto tão polêmico que até eu mesma tenho dificuldade em praticar: o cuidado com o meio ambiente. Este blog começou com a proposta de dar dicas sobre como sobreviver com menos e ser mais feliz, mas como falar disso se, na prática, termino o mês sempre no vermelho. Este mês mesmo estou de férias e fiz uma viagem de uma semana para o Nordeste, que me custará bons cento e poucos reais por mês até meados do ano que vem, quando tenho que tirar outras férias porque a cabeça e o corpo pedem descanso. De verdade, adorei as minhas férias. Fui conhecer Aracaju, capital do Sergipe, um dos estados mais esquecidos do nosso país, mas que é repleto de belezas naturais capazes de deixar qualquer um extasiado. A história não fica atrás. Nossa guia, por exemplo, Aninha Souza, é neta de uma portuguesa e uma índia xocó, de um avô holandês e outro, bem sergipano, que era polícia nos tempos do cangaço. A vó portuguesa de Aninha teve até os cabelos queimados enquanto se escondia, dentro de um balaio cheio de algodão, dos cangaceiros que invadiram seu sítio, lá para as bandas de Canindé do São Francisco. Pois é, pela primeira vez tive a oportunidade de me banhar nas águas do velho Chico, o São Francisco, aquele rio que corta o maior número de estados brasileiros e que virou polêmica pelas obras de transposição de suas águas. Paz é como defino o que senti ao mergulhar nas águas limpas, que a chuva escureceu, mas que no verão são verdes como esmeralda. Deixei muitos problemas por lá, para que a marola do rio desaguasse nas ondas do mar e que o imenso Atlântico levasse para bem longe. Se possível, dissolvesse o mal para que nunca mais voltasse. Longe do aconchego sergipano, da deliciosa tapioca de queijo de coalho e até do forró, que não parava de tocar, cheguei em São Paulo, onde moram meus pais e onde passarei o resto das férias, com vontade de descansar, de curtir o apartamento, a tv à cabo e deixar as possibilidade loucas da metrópole para quem realmente gosta de aventura. Não precisou muito para que meus planos fossem por água abaixo. Não é que ao levar minha vó ao dentista - um simples trajeto de 15 minutos sobre a ponte Aricanduva - tive uma revelação. Deixar a garagem do prédio, seguir até a avenida, subir o viaduto, atravessar o Tietê, dobrar duas direitas, duas esquerdas e estacionar deveria ter levado nada mais que 15 minutos. Chuva, caminhões e excesso de carros me tomaram 45 minutos, uma chegada atrasada à dentista e uma tremenda claustrofobia. Sem falar na choradeira, porque minhas mãos não paravam de tremer e as lágrimas de cair, de tanto nervoso e vontade de fugir dali, assim que vi a última saída ficando para trás e só carros e mais carros me engolindo até o próximo farol. Quarenta minutos de viaduto, 40. Nasci, cresci e vivi em São Paulo por 22 anos, sei bem como é. Mas bastaram seis anos de Londrina, de interior, para ficar com pânico de congestionamento. Teve um momento, já sobre o viaduto, que me vi entre três caminhões soltando monóxido de carbono dentro do meu carro, que estava com o vidro fechado por causa da garoa. E ainda tive que ouvir a vó perguntar: - "Filha, é o cheiro de perfume que está te incomodando né?" Claro, vó, se a sua colônia tem perfume de fumaça, pode até ser. Em Aracaju, que tem quase o mesmo número de habitantes de Londrina, cerca de 600 mil pessoas, não há tráfego. De jeito algum, em hora alguma e a vista é o mar ou o rio Sergipe, que corta a capital e desemboca no oceano. A cidade é limpíssima e as casas, grandes e bem acabadas. Deve ter favela, mas não vi, afinal, os guias só mostram o lado bom do destino, mas mesmo assim tenho certeza que o título de capital da qualidade de vida do Brasil - desbancando Curitiba - foi muito bem aplicado à Aracaju. E as bandeirolas celebrando São João não são só um brilho a mais para quem está tão acostumado ao cinza. São símbolo de esperança para quem quer dar o primeiro passo. No viaduto, entre os caminhões, tive a certeza de que não quero voltar para a metrópole. E prometi a mim mesma que farei de tudo para fincar raiz onde moro há menos de cinco minutos do trabalho, para onde vou à pé. Mesmo que caminhe sobre o cocô das pombas.
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