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vida de submissão

17 ago 2009 às 20:31
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Um dia estava eu com meu companheiro fotógrafo César Augusto fazendo uma matéria sobre a Galera de Deus que quer transformar a realidade da Zona Leste de Londrina (conto mais sobre essa ong num outro post) quando o olho treinado do repórter fotográfico descobriu um furo de reportagem: uma equipe de agentes da dengue limpava uma casa velha de madeira que pegou fogo há um ano, a pedido da Secretaria de Saúde. Até ai nada demais, não fosse o fato da família estar vivendo numa imundície tamanha, que até ninho de rato e foco da dengue foram encontrados no quintal cheio de cinzas. Com a inocência de toda criança, moleques vizinhos encontraram um ratinho perdido na rua e amarram ele à calçada, com uma coleirinha mínima, como se fosse um cachorrinho. César fez foto para posteridade e devo confessar que este foi um dos momentos mais bizarros - e nojentos - que eu já experimentei na vida. Dai que eu preparei uma matéria sobre o caso: entrevistei os moradores, pedi auxílio à Secretaria de Assistência Social, retornei à casa uma semana depois para ver se estava tudo limpinho e nada. Nem a vida deles tinha melhorado sequer um pouquinho, nem a matéria foi publicada. E conversando com a minha amiga jornalista Carol Avansini, chegamos à conclusão que os miseráveis são mesmo ignorados pela sociedade. A gente passa por eles e finge que não vê. Damos mais valor à vida das pombas, coitadinhas, que às pessoas que vivem abaixo da linha da miséria e quase sempre não têm o que comer e se sujeitam aos piores trabalhos em troca de um prato de arroz e feijão de ontem. Pois resolvi salvar a reportagem e inclui pensamentos elaborados por um sociólogo que vive a realidade da favela no dia a dia do trabalho. Devo dizer que não gostei do que aprendi com ele. Isso porque ele me fez enxergar que não são só os miseráveis que são esquecidos, nós também. Mas como vivemos nossa vidinha egoísta, olhando para o próprio umbigo, com medo do mundo, não percebemos que uma minoria governa nossas vidas: nossos direitos são respeitados até o momento em que eles, os políticos, estão ganhando algo em troca. Mas se um rebelde resolve falar mais alto, questionar, certamente ele não viverá muito para contar sua história. Ou a verdadeira história do mundo. Disse o sociólogo: "Está na Constituição: ser cidadão quer dizer ter acesso a direitos básicos como educação, saúde, trabalho, transporte, informação". Dolorido encarar a verdade nua e crua de que só é cidadão quem tem dinheiro para comprar tais direitos. Mas como disse a Carol, "acho que já é válido ter pelo menos a consciência de que tudo está errado, ainda que sejamos poucos para tentar mudar a situação". Difícil se livrar dessa vida de submissão, mas será que esta é mesmo uma guerra perdida? Quem quiser ler sobre a "família suja da Rua Santa Rita", fique ligado no caderno Cidades da Folha de Londrina... quem sabe os miseráveis ganhem a chance de serem vistos por tantos outros que não só os agentes da dengue e as lentes do fotógrafo.
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