ABRAHAM SHAPIRO
PENSE em quantas pessoas estão encantadas com um texto sagrado neste momento!
PENSE em quantas pessoas estão com suas Bíblias abertas, fazendo descobertas ou encontrando revelações e soluções definitivas para seu autodesenvolvimento, comportamento ético, relacionamentos sociais e trabalho!
PENSE em quantos estudiosos estão aprofundando suas visões, debruçados sobre um pequeno texto ou uma simples palavra, relacionando-o com histórias, lendas e fábulas milenares que farão dele um veículo de sensibilização a pessoas simples, que por sua vez, ficarão admiradas ao acessá-lo e se sentirão verdadeiramente seduzidas pelas imagens, ideias e mensagem que o compõem.
Frente a todo este volume de sabedoria rigorosamente investigada, avaliada e divulgada – hoje, de um modo tão estupendo como jamais se viu antes em toda a história –, o que explica o mundo continuar sendo um lugar de guerras, crimes, concorrência desleal, acusações infinitas, julgamentos injustos, sangue, destruição e exploração? As proporções, intensidade e extensão de todas as desgraças só aumentam a despeito de toda a proliferação das religiões e ideologias santas.
Eu escrevi um livro. Recentemente o publiquei. Muitas pessoas o leram. Elas o recomendaram ou presentearam seus amigos com ele. Recebi menifestações de carinho dos leitores em quantidade suficiente para me alegrar e sentir-me satisfeito com a minha obra. E na verdade gostei de todas. Mas não consigo ter a sensação de "alvo atingido". Eu errei. E errei deploravelmente.
Costumo dizer que meu estilo de escrita segue a linha de camuflagem. Eu sou eminentemente provocativo. Na minha consultoria e nas orientações que ministro aos líderes empresariais eu sou permanentemente desafiador. Mas para não despertar a rejeição do leitor, que busca uma leitura simples e fácil, eu dissolvi cada motivação e lição profunda num meio de histórias e contos curtos, de modo a torná-los agradáveis e digeríveis.
Meu objetivo, porém, manteve-se como sendo levar as pessoas a uma autoanálise do tipo: "Até hoje agi de modo a não beneficiar o meu desenvolvimento pessoal. A partir de agora vou mudar meu comportamento e anexar uma conduta que o favoreça".
Ao longo de anos como coach de executivos e instrutor de gerentes, profissionais liberais e pessoas comuns, vi que a maioria massacrante deles não estuda nem desenvolve suas visões através da reflexão. Eles criam conceitos pessoais sobre as coisas que vivem sem buscar conhecer sequer o significado das palavras que resumem seus estados num simples dicionário. Sentem ciúme, por exemplo, mas não sabem o que é com clareza. Desejam desenvolver suas carreiras profissionais, porém desconhecem "o que", "como" e quais quesitos são necessários para que isto ocorra. E prosseguem por anos e décadas seu trajeto como vítimas de sua própria desgraça: "olhar somente para seus julgamentos e conclusões".
Foram estas as defasagens que eu transformei em livro – simples de entender e fácil de ler.
Sabe o que ouvi dos meus leitores? "Seu livro é lindo"; "é uma proposta maravilhosa de vida"; "faz muito bem ler uma página por dia mesmo quando o abro ao acaso". Ninguém mencionou provocação alguma. Ninguém citou "mudança de comportamento" ou de premissa. Não houve um só depoimento que declarasse ter sentido a minha invasão grosseira à individualidade ou modo de ser do leitor, e o fizesse revoltar-se, ao final, contra sua conduta viciada e paralisante.
Por quê?
Com a mais respeitosa separação entre a Bíblia – que é tudo – e o meu livro – que é nada –, as pessoas sabem identificar a beleza. Mas elas só sabem achar bonito e se empolgar. Elas apenas se deixam encantar, mas aí ficam. Elas não progridem para o próximo nível. No instante seguinte, quase todas prosseguem em sua pequenez, em seu modelo egoísta de existir, tapadas, ignorantes e enraizadas num solo árido e pobre, de onde nada extraem, e que fará suas almas morrerem de inanição de sentido ou propósito.
Deixar-se encantar, enxergar a maravilha, emocionar-se com a beleza, e não se perguntar: "Ok! O que farei a respeito?" é nada mais que reforçar as próprias crenças, modelos mentais, premissas e imaginação infértil, solidificando-os, sem jamais submetê-los a um julgamento e perdendo, assim, a grande chance de mudar para melhor.
O resultado? É o mundo que aí está!
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. É autor do livro "Torta de Chocolate não Mata a Fome - Inspirações para a Vida, o Trabalho e os Relacionamento", editora nVersos, 2012. Contatos: [email protected] ou (43) 8814 1473