ABRAHAM SHAPIRO
Um vendedor de refrigerantes de Minas Gerais participou de uma palestra motivacional de vendas em que foi convidado a rebolar em público. Ele moveu uma ação jurídica contra a empresa. Vai receber uma indenização de R$ 25 mil por danos morais. Quem informa é a assessoria de imprensa do Tribunal Superior do Trabalho. O processo alega que após o evento o funcionário passou a sofrer com brincadeiras de mau gosto dos colegas, e que numa ocasião, o chefe chegou a questionar sua opção sexual na frente da equipe, além de ter pedido a ele para se levantar e rebolar numa reunião.
Deu no que deu!
Muitas empresas insistem em achar que motivação é sinônimo de palhaçada e algazarra durante uma convenção. É o bom e já viciado estilo "pão e circo" da Roma antiga. Para corrigirem mazelas organizacionais, estas empresas levam seus funcionários a um bom hotel por alguns dias, contratam palestrantes que se aproveitam desta convicção maluca e, com dinâmicas questionáveis e às vezes até imorais, cobram uma fortuna para promoverem gritarias e piadinhas com que creem melhorar vendas e relacionamentos.
Estupidez! A prova está na notícia de indenização que veio de Minas.
Esta empresa deve ter aprendido a lição.
Motivação é algo interior do ser humano. O que qualquer empresa pode fazer, de fato, para motivar funcionários – além de manter um ambiente respeitoso e psicologicamente saudável – são ações objetivas. Quer saber quais? Treinar "o que" eles devem fazer, "como" fazer, "o padrão de desempenho" que é esperado, remunerá-los em conformidade ao mercado, pagá-los pontualmente, incentivar a realização de metas mensuráveis e oferecer boas perspectivas de desenvolvimento. Aliás, qualquer RH que se preze saberá implantar esta política com o pé nas costas e equilibrando uma vassoura na ponta do nariz.
O entusiasmo que se colhe de uma palestra destrambelhada de gritos e farra é instável e efêmero. Já na hora seguinte, estes funcionários lembrarão apenas de que riram muito. Quando retornarem à empresa, continuarão achando que o chefe é exigente demais e que o patrão só quer enriquecer às suas custas.
Agora eu pergunto: isto é motivação?
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Abraham Shapiro é consultor e coach de líderes. Sua filosofia de trabalho, em uma só palavra, é: simplicidade. Contatos: [email protected] ou (43) 8814 1473