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NARRADORES

02 ago 2014 às 19:21
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Na alma do conto, na sua estrutura mais intima, vivem dois tipos simbólicos de personagem: o camponês e o marinheiro comerciante. O primeiro, portador de sabedoria milenar, extrai seu saber do cultivo da terra, da observação empírica dos fenômenos naturais, do conhecimento recebido dos antepassados. Herdeiro do impulso de transmitir à descendência as regras morais de convivência social. Ele é o responsável pela sapiência da tradição oral. Há, nessas narrativas, como que o mergulho no mundo ao redor, nas crônicas de famílias, nos feitos dos antepassados, na conquista da terra. Do tecido complexo do trabalho da terra e das relações entre os homens nascem histórias e parábolas que adquirem, pelo lustro de serem tantas vezes contadas, o sabor literário.

Cabe ao segundo personagem arcaico, o marujo, dar amplidão ao mundo. Ele é quem traz ao restrito mundo da aldeia, as notícias de terras desconhecidas, as histórias fantásticas, os monstros do mar, os povos bizarros, as aventuras. Esse marinheiro é que expande as fronteiras da imaginação e transpõe as cercas. No novo mundo, de interior desconhecido, de imensos sertões (sertão é lugar longínquo, longe do mar), o marinheiro é substituído pelo tropeiro, ou o "arriero" na América Hispânica. O viajante, habitante do lugar nenhum, que no lombo de mulas corre trecho e à volta das fogueiras descreve lugares e aventuras improváveis.

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Na vida de hoje, embebida da linguagem da ciência e da razão, onde tudo tem causa e efeito, a explicação substituiu a imaginação. As narrativas imaginativas, ilógicas, serviçais do prazer de ouvir e da imaginação desatada só encontram abrigo na literatura, ultimo refugio dos mitos. Único espaço de um mundo ancestral, cada vez mais desaparecido na turbulência e racionalidade da modernidade. No entanto, são essas camadas profundas, submersas em nós mesmo, o que nos definem como humanos. Sem a expressão através da arte em geral e da literatura em especial, estaríamos amputados da percepção delicada da vida.
Embrutecidos e desumanizados, pois.

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Referencia bibliográfica – "O narrador" de Walter Benjamin.


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