Pesquisar

Canais

Serviços

Publicidade
Publicidade
Publicidade
Opep

Brasil avalia entrar em cartel do petróleo em meio à conferência do clima

Phillippe Watanabe, Alexa Salomão e Nicola Pamplona - Folhapress
01 dez 2023 às 10:49
- Pixabay
siga o Bonde no Google News!
Publicidade
Publicidade

Enquanto a discussão de quando será o fim do uso de combustíveis fósseis está no centro da COP28, a conferência da ONU sobre mudanças climáticas, em Dubai, o Brasil sinaliza que pretende aceitar convite para entrar na Opep+, que reúne os integrantes da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) e produtores aliados.


Cadastre-se em nossa newsletter

Publicidade
Publicidade

Nesta quinta-feira (30), primeiro dia da COP28, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que o Brasil deseja integrar a entidade. "Esperamos nos juntar a este distinto grupo e trabalhar com todos os 23 países nos próximos meses e anos", disse, em encontro com membros da Opep+, que incluem Rússia e Arábia Saudita.

Leia mais:

Imagem de destaque
R$ 65 milhões

BNDES anuncia crédito para projeto que prevê levar internet a favelas

Imagem de destaque
Descontos indevidos

Saiba como consultar descontos de associações no benefício do INSS

Imagem de destaque
Renovação

Novos SUVs compactos com motorização híbrida flex estreiam em 2025

Imagem de destaque
Saiba mais

CNU divulga nota das provas nesta terça-feira (8); veja como consultar


Na reunião, ele contou ainda que o presidente Lula "confirmou nossa carta de cooperação" com o grupo a partir de janeiro de 2024. Procurado, o Palácio do Planalto informou em nota que o convite, feito durante visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Arábia Saudita, é para "membro observador" e que os demais detalhes estão sendo analisados.

Publicidade


Na reunião desta quinta, a Opep+, que funciona como um cartel, decidiu promover uma política de cortes voluntários na produção de petróleo de seus membros, que resultarão em uma redução de quase 2 milhões de barris de petróleo por dia a partir de 2024.


Os cortes de produção promovidos pela Opep+ costumam elevar os preços do petróleo no mercado global, e as nações se beneficiam de cotações mais altas.

Publicidade


O Brasil é hoje o oitavo no mundo na produção de petróleo. Em março, Silveira anunciou planos para escalar a produção nacional e tornar o Brasil o quarto maior produtor global. A região conhecida como margem equatorial, no litoral norte do país, é a nova fronteira de exploração almejada pela Petrobras.


Para conter o aquecimento do planeta em 1,5°C, meta do Acordo de Paris para evitar eventos climáticos mais extremos e mais frequentes, a AIE (Agência Internacional de Energia) afirma que novos projetos de petróleo e gás não devem ser levados adiante. Atualmente, a temperatura média do planeta já é 1,2°C mais elevada do que no período pré-industrial.

Publicidade


Especialistas ouvidos pela Folha criticam a intenção brasileira de adesão à Opep+, que se contrapõe à imagem de liderança ambiental que o presidente Lula (PT) coloca em discursos internacionais.


"O Brasil na diplomacia tem afirmado querer ser ou ser o 'paladino do 1,5°C'. Ou seja, trabalhar com cenários mais ambiciosos, mas também mais seguros de contenção do aquecimento global", afirma Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa.

Publicidade


Unterstell frisa que o cenário de 1,5°C não comporta os planos de produção petrolífera colocadas por empresas e por países detentores de reservas de combustíveis fósseis -entre eles, o Brasil- e que este convite em meio à COP28 se torna "constrangedor" para o governo Lula.


"O Brasil se tornar membro da Opep+ seria um tanto anacrônico nesta década ou nas anteriores. Agora confirmar essa intenção de se tornar membro durante uma COP -e, no caso durante a COP, que tem combustíveis fósseis no centro das negociações-- é no mínimo inoportuno", diz.

Publicidade


Esta não é a primeira vez que o Brasil é convidado a entrar no grupo: a última vez foi em 2019, quando o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) anunciou convite feito pela Arábia Saudita, mas o processo não andou.


Contradição

Publicidade


Stela Herschmann, especialista em política climática do Observatório do Clima, relembra que o Brasil chega com bons resultados para apresentar na COP28 no quesito desmatamento da amazônia, que, em linhas gerais, é a principal fonte brasileira de emissões de gases-estufa. Porém, isso não é suficiente.


"O Brasil quer ser uma liderança climática global. Qualquer liderança global climática precisa ter um posicionamento firme e forte sobre eliminação dos combustíveis fósseis", afirma.


"Qualquer declaração desse tipo, de entrar na Opep+, vai na linha contrária do que se espera de um país comprometido com a descarbonização."


O interesse do atual governo em intensificar a exploração de petróleo, apesar da crise climática, já foi explicitado em falas de Lula. Sobre a pesquisa na bacia Foz do Amazonas, solicitada pela Petrobras, o presidente já disse que gostaria de "continuar sonhando" com ela, a despeito de negativa do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).


Para Juliano Bueno de Araujo, diretor técnico do Observatório do Petróleo e Gás e do Instituto Internacional Arayara, o Brasil e o presidente Lula agem com dubiedade na questão ambiental e climática.


"Uma hora, coloca a proteção ambiental no centro político exterior de seu governo e, ao mesmo tempo, acelera a exploração fóssil", diz Araujo.


Camila Jardim, porta-voz do Greenpeace Brasil, também afirma que "aproveitar sua passagem pela COP28 para ingressar na Opep+ seria um movimento equivocado" para Lula. "Esperamos que Lula lidere pelo exemplo ao invés de se aliar ao lado petroleiro da força."


Secretário do MME (Ministério de Minas e Energia) durante o governo Michel Temer e presidente da ABPIP (Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo e Gás), Márcio Félix pondera que é preciso olhar um convite do gênero por dois ângulos.


"O Brasil é grande nesse setor, tem produção crescente, se tornou um super exportador. E veja bem, não tem só a Petrobras. Empresas gigantes do mundo estão aqui", diz. "A Opep+ observa isso, e nesse aspecto é uma demonstração da importância que o Brasil assumiu no contexto global."


Ele lembra, porém, que as determinações de cortes de produção e a fixação de cotas para seus membros podem ser entraves para o Brasil.


"A ideia de limitar a produção do Brasil é algo inimaginável, que teria repercussões sobre bolsas de valores e a confiança em relação ao país", afirma. "É preciso ver qual seria o papel do Brasil, como seria o seu termo de adesão. Se seria apenas um observador, mas o quanto poderia observar?"


Rumos econômicos


Um dos argumentos favoráveis à adesão do Brasil é a possibilidade de acompanhar de perto reuniões que decidem os rumos do mercado. Uma fonte na Petrobras disse que antecipar esses movimentos seria estratégico.


Já o professor do Instituto de Energia da PUC-Rio David Zilberstein, que foi diretor-geral da ANP (Agência Nacional de Petróleo), diz não haver razões para um país de economia aberta aderir à Opep+.


"Não vejo utilidade para o Brasil se submeter a disciplina de um cartel. Não teria nenhuma vantagem e não seria um membro relevante", afirma.


Zilberstein também lembra que o Brasil tem uma dinâmica econômica e política muito diferente da adotada por integrantes tanto da Opep quanto da Opep+.


Às vésperas da COP28, a força da indústria dos combustíveis fósseis no Brasil também se mostrou no Congresso. O texto que trata do marco regulatório das eólicas em alto-mar, aprovado na Câmara na terça-feira (29), foi desfigurado, incluindo a obrigatoriedade de contratação de usinas térmicas a carvão, fonte de energia extremamente poluente.


Araujo critica o passivo ambiental criado pela contratação de térmicas a carvão e critica o fato de a conta desses contratos recair sobre os consumidores de todo o país.


"Lembrando que tanto o RS [Rio Grande do Sul] como SC [Santa Catarina] foram os estados mais atingidos por fortes enchentes que trouxeram bilhões em prejuízos. E isso não vai parar", diz o especialista. O Sul tem concentração de termelétricas que terão operação prorrogada.


Segundo o texto aprovado, a operação das térmicas vai ser prorrogada de 2029 a 2050, e a energia será contratada pela EMBPar (Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional).


Imagem
Google deleta contas inativas há dois anos a partir de sexta; veja como proteger fotos e documentos
O Google começa a deletar na próxima sexta-feira (1º) contas inativas há pelo menos dois anos, segundo informe publicado pela empresa em maio.
Publicidade

Últimas notícias

Publicidade
LONDRINA Previsão do Tempo