O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa confirmou nesta terça-feira (23), em depoimento na Polícia Federal, que recebeu propina da petroquímica Braskem para agilizar a venda de nafta pela estatal. Em depoimento complementar perante os investigadores da Lava Jato, Costa disse que, entre 2006 e 2012, recebeu em média de US$ 3 milhões a US$ 5 milhões por ano, em contas na Suíça.
Segundo Costa, o dinheiro foi transferido para Bernardo Freiburghaus, um dos operadores financeiros do esquema, que está foragido. Costa disse que participou de uma reunião na qual estava presente Alexandrino de Salles de Alencar, executivo da Odebrecht, controladora da Braskem, para tratar dos pagamentos. No depoimento, Costa explicou que a compra da nafta era mais vantajosa por meio da Petrobras, devido ao alto custo do frete.
"Acerca de ter presenciado a pessoa de Alexandrino de Alencar tratando do assunto relativo ao pagamento de propinas, recordar-se de ter participado de uma reunião em um hotel de São Paulo em que estavam o declarante [Costa], Janene [ex-líder do PP, falecido em 2010] e Alexandrino, sendo que nesta oportunidade foi tratado de forma clara o assunto relacionado ao pagamento de vantagens ilícitas em troca de benefícios à Braskem na compra de nafta da Petrobras, conforme valores anteriormente mencionados", diz trecho do depoimento.
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Ontem (22), Alencar pediu afastamento da empresa. Em carta à diretoria da Odebrecht, ele disse que pretende se dedicar integralmente à sua defesa. Em documento enviado ao juiz federal Sérgio Moro, que determinou a prisão, a defesa de Alencar alegou que não há motivo para que ele continue preso, porque prestou depoimento na Polícia Federal e não ocupa mais o cargo na empreiteira.
Em nota, a Braskem garantiu que todos os pagamentos envolvendo a Petrobras foram feitos dentro da legalidade. "Todos os pagamentos e contratos da Braskem com a Petrobras seguiram os preceitos legais e foram aprovados de acordo com as regras de governança da companhia. É importante ressaltar que, ao contrário de qualquer alegação de favorecimento da Braskem, os preços praticados pela Petrobras na venda de matérias-primas sempre estiveram atrelados às mais caras referências internacionais de todo o setor, prejudicando a competitividade da indústria petroquímica brasileira."
A Braskem também afirmou que não foi favorecida com a compra de matérias-primas da Petrobras. A petroquímica garantiu que, em 2009, recebeu descontos na compra em relação a contratos anteriores, mas justificou que foi concedido devido à queda de preço no mercado internacional.
"Mesmo com desconto em relação aos preços do contrato anterior, a Braskem pagava preços mais altos que as referências internacionais, com notórios efeitos negativos para competitividade da Braskem e da petroquímica nacional. Na ocasião, a Braskem reduziu os preços praticados com boa parte dos seus clientes em linha com a exigência do momento. E demonstrou, assim, claro entendimento do mesmo cenário de crise e compromisso com a sustentabilidade da sua cadeia produtiva", concluiu a empresa.