Para quem fez a carreira junto com a evolução do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), poder compartilhar a comemoração dos 80 anos do órgão, hoje (29), além da satisfação profissional, é fazer o que gosta e ter a certeza de que o resultado de seu trabalho é fundamental para o país. Cimar Azeredo Pereira começou a carreira como coletor de informações. Com o passar do tempo ocupou várias funções e atualmente é gerente da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE, responsável por uma das mais importantes pesquisas do instituto, a PNAD Contínua, que, entre outras informações, mostra a evolução do mercado de trabalho, com os níveis de emprego.
"Em plena crise, é nossa responsabilidade colocar à disposição da sociedade um retrato do mercado de trabalho, que sofre reflexo desse cenário econômico que vemos hoje. O produto tem que retratar a realidade. Essa é a grande missão do IBGE, retratar a realidade", afirmou.
Os pesquisadores também têm seus momentos do dia a dia como consumidores, clientes e usuários e é assim que acabam verificando, na vida pessoal, o que os dados analisados na vida profissional estão indicando, especialmente com relação à inflação. "Se você percebeu que a batata está aumentando no supermercado que você compra, fica querendo ver como vai ser nos números das pesquisas e, quando vai olhar, verifica que subiu mesmo. Isso é perceber e mostrar a realidade", disse Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE, que, entre outros indicadores, é responsável pelo cálculo do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mostra o patamar da inflação.
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A coordenadora, que começou no instituto como estagiária e já passou por vários momentos diferentes da economia brasileira, lembrou que nos períodos em que o país enfrentou a hiperinflação, muitos fatores influenciavam a elevação dos índices. "Naquela época, quando saída o aumento do salário-mínimo todo mundo aumentava, aumentou a gasolina todo mundo aumentava. Depois, quando a economia se tornou mais estável, a linha de se trabalhar com as informações se tornou mais fina. Na hiperinflação, ela era autoexplicativa. Com a economia estabilizada, por exemplo, o arroz está aumentando por uma questão de safra", disse. Eulina também coordena o Sistema de Índices da Construção Civil, no qual os preços coletados para a elaboração dos indicadores, que servem de parâmetros para licitações de obras públicas.
Mudanças no Brasil
Nesses 80 anos, as pesquisas do IBGE se espalharam com o resultado do trabalho nas unidades das capitais de todos os estados brasileiros e nas 584 agências distribuídas pelo país. O Brasil ficou sabendo que a população passou de 42 milhões para 205 milhões de pessoas, que as famílias não se restringem mais a um casal formado por um homem, uma mulher e filhos, que a expectativa de vida dos brasileiros aumentou, que o país é cada vez mais urbano, que houve avanços na educação, mas que, apesar disso, ainda há muitos jovens fora da escola. As pesquisas apontaram também que as mulheres que trabalham ainda recebem cerca de 70% do rendimento dos homens, como também pretos e pardos em diversos indicadores sociais não chegam ao patamar do que tinham os brancos há dez anos. As informações são públicas e estão disponíveis no site do IBGE.
"A robustez que o IBGE tem, com o número de pesquisas e de informações publicada, e com a credibilidade que ao longo do tempo eles vem conquistando, é muitíssimo importante o cidadão poder fazer as suas escolhas, não só na hora de votar, mas para entender o que está acontecendo com a economia", afirmou a professora de economia do Instituto Coppead de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppead/UFRJ), Margarida Gutierrez. "É muito importante esse trabalho que o IBGE desenvolve no sentido de manter a sua independência", disse.
Para a professora de economia do programa de MBA da Fundação Getulio Vargas (FGV), Virene Roxo Matesco, parte das informações necessárias para o cidadão brasileiro, foi conhecida por meio dos censos demográficos do IBGE e são usadas para decisões importantes. "Os responsáveis pela elaboração das políticas públicas deste país precisam conhecer o país para tomar decisões corretas, então,quando o IBGE divulga uma pesquisa, está fornecendo para a sociedade informações valiosíssimas para o processo decisório", ressaltou Virene.
O economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes, disse que, para avaliar o desempenho do setor, não pode ficar sem os dados produzidos pelo IBGE. "Nos dados do comércio, não há uma pesquisa nacional sobre o faturamento do comércio com a abrangência da pesquisa do IBGE, com a clareza de metodologia que o IBGE utiliza", disse, acrescentando que o trabalho do instituto retrata o Brasil. "Todo mundo lembra que, no banco da escola, a gente estudava geografia, e todos os dados e fotos vinham do IBGE, instituto responsável por apresentar o Brasil para a gente. É ele que tira o melhor retrato do Brasil, para entendermos um pouco melhor o país que a gente vive", completou.