Uma imagem de Nossa Senhora do Carmo esculpida há mais de 200 anos foi furtada na noite de ontem da capela do Quilombo do Carmo, na zona rural de São Roque (SP). Além de ser a padroeira da igreja construída em sua homenagem, a santa era ''dona'' das terras da vila. A imagem barroca, provavelmente trazida de Portugal, é anterior à instalação da capela, ocorrida no final do século 18. A igreja não tinha segurança. O furto foi constatado apenas na manhã de hoje, quando uma religiosa percebeu que uma janela estava aberta.
Para entrar, o autor do furto arrombou a fechadura da porta dos fundos da igreja. A vila fica a 22 km da área urbana e, até a tarde de hoje, a polícia não tinha pistas do ladrão. A imagem tem grande valor histórico e cultural para os moradores do local, reconhecido pela Fundação Cultural Palmares como remanescente de quilombo.
De acordo com registros da Mitra Diocesana de São Paulo, uma fazenda de 2.175 hectares foi doada à Nossa Senhora do Carmo, representada pela Província Carmelitana Fluminense, em meados do século 18. As 87 famílias negras que trabalhavam na fazenda eram consideradas ''escravos da santa''. Quando foram libertos, no final do século 19, os negros continuaram morando na vila, mas eles próprios se consideravam moradores do "terreno da santa".
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A partir de 1930, a vila sofreu forte pressão imobiliária e a área ocupada pelos negros ficou reduzida a menos de 5%. O furto abalou a comunidade. Os fiéis iniciam esta semana uma novena para que a imagem seja recuperada. De acordo com o antiquário e pesquisador Marcelo Coimbra, a imagem furtada não aparece na relação das peças sacras mais conhecidas do Estado, o que pode dificultar a localização. "Não há registro de imagens de Nossa Senhora do Carmo do século 17, por isso acho que ela era mais recente, do século 18 ou 19".
A santa, que se caracteriza por trazer nas mãos um escapulário, pode ter sido trazida do Rio de Janeiro pelos carmelitas, daí a possibilidade de sua origem europeia. Para Coimbra, não é possível estimar o valor sem uma análise da peça. "Mais que o valor comercial, tem de ser levado em conta o valor histórico e religioso", disse.