Menos de dois meses após ser transferido para o presídio federal de Porto Velho (RO), o chefe máximo do PCC, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, foi levado na sexta-feira (22) para outra unidade de segurança máxima, desta vez em Brasília. Outros três líderes da facção também foram alvo da operação - um sinal de que o governo pode adotar o rodízio em prisões federais para dificultar a reorganização da cúpula do PCC e planos de fuga.
Além de Marcola, foram transferidos Cláudio Barbará da Silva, o Barbará; Patric Velinton Salomão, o Forjado; e Pedro Luiz da Silva, o Chacal. Inaugurada em outubro, a unidade de Brasília é a mais nova administrada pela União e abriga outros presos pertencentes à facção paulista. Entre eles, o irmão de Marcola, Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, o Marcolinha, considerado um dos seus principais conselheiros.
Marcolinha havia sido transferido para Brasília no dia 13 de fevereiro, com Reinaldo Teixeira dos Santos, o Funchal, e Antônio José Muller Júnior, o Granada. Na ocasião, um total de 22 membros do PCC foi retirado do sistema prisional de São Paulo para presídios federais.
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A operação de ontem foi coordenada pela Secretaria de Operações Integradas, criada pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro. Marcola e os demais foram levados de Porto Velho por aeronaves da Força Aérea Brasileira. Também participaram da segurança agentes do Departamento de Penitenciário Nacional e do Comando de Operações Táticas da Polícia Federal.
Em nota, o ministério afirmou que a transferência fazia parte de protocolos de segurança de "alternância de abrigo dos detentos de alta periculosidade ou integrantes de organizações criminosas, entre as unidades prisionais federais". Segundo a pasta, a medida seria estratégica para o isolamento dos chefes de facção e para enfrentar o desmonte dos grupos criminosos.
Moro ligou para o governador do DF, Ibaneis Rocha (MDB), para informar a transferência. Para reforçar a segurança, a Força Nacional passou a fazer proteção do perímetro das áreas que contornam a penitenciária. Mesmo assim, Rocha se queixou. "Quero deixar claro o meu repúdio a essa atitude impensável do ministro Moro. Estão trazendo para dentro do DF o crime organizado, e o DF não foi feito para o crime organizado. Bandidos precisam de isolamento, e não é a 6 km do Palácio do Planalto que teremos esse isolamento."
Ação de inteligência
Alvo de ameaças do PCC, o senador Major Olímpio (PSL-SP) diz que o rodízio de prisões federais para líderes como Marcola serviria para pegar a facção "de surpresa" e dificultar a reconstrução da cadeia de comando. "Com rodízio maior, a liderança não cria vínculo com a unidade nem consegue captar funcionários por corrupção", disse. "Marcola é a maior liderança criminosa do País, tem muito poder e comanda uma estrutura empresarial. A tendência é que ele passe por outras unidades depois."
Outra vantagem seria frustrar planos de fuga. Em fevereiro, o governo decretou Garantia da Lei e da Ordem (GLO) para reforçar o perímetro das penitenciárias em Porto Velho e Mossoró (RN). "Brasília, além do maior aparato de segurança, fica no centro do Brasil: é mais difícil operar uma aeronave clandestina para o resgate", afirmou. "Se eles tinham algum plano de fuga, vão começar do zero."
Ex-corregedor do presídio de Porto Velho, o juiz federal Élcio Arruda defende que é mais difícil ocorrer fuga na capital federal. "Porto Velho está a poucos quilômetros da Bolívia, sabemos que o Marcola possui diversos parentes lá. Esses contatos demonstram uma facilitação maior para um projeto de fuga."
Para Arruda, lideranças de "maior envergadura" devem passar por rodízio entre as prisões, mas é preciso evitar que membros de uma mesma facção fiquem concentrados em determinada unidade. "Deve haver rotatividade com objetivo de o Estado marcar sua presença", disse. "Historicamente, junção de lideranças é um facilitador da convergência de ideias. O ideal é fazer o hibridismo (entre os grupos criminosos)."