Um misto de desilusão e dor marcou hoje (24) o início da demolição das primeiras casas em áreas de risco em Nova Friburgo, após a tragédia da semana retrasada. Homens da Defesa Civil numeraram os imóveis que foram afetados pelos deslizamentos de encostas e as máquinas começaram a derrubar as casas sob o olhar triste dos donos.
O aposentado Hernandes José Raimundo acompanhou a demolição da própria casa, erguida em 1994, sem saber o que o futuro reserva para ele. O imóvel não foi a maior perda. Na enxurrada, morreram seis pessoas da família dele: uma filha, três netos, uma nora e um genro. "O sentimento é de perda total", resumiu. "Trabalhava em uma transportadora, fiz um acordo e eles me pagaram o fundo de garantia e construí aqui. Com a minha idade, não sei se consigo me reerguer".
De acordo com a líder comunitária do bairro Alto da Floresta, Rosa Amélia Lemos Silva, cerca de 60 casas devem ser demolidas. Desde ontem (23) ela auxilia o trabalho da Defesa Civil na identificação dos imóveis e no convencimento dos moradores para que deixem as casas. "Já teve gente que pegou o facão e disse que não sairia e ainda ameaçou se matar", relatou ela. De ontem para hoje, 37 casa foram marcadas.
Leia mais:
Novos planos de saúde poderão ser cancelados com duas mensalidades atrasadas
Clientes da 123miIlhas têm até esta terça (3) para pedir dinheiro de volta
Vinte mil aposentados já compraram passagens pelo Programa Voa Brasil
Anvisa aprova registro do primeiro medicamento para distrofia muscular de Duchenne
Segundo Rosa, a Rua Solimões, onde está a maior partes dos imóveis que serão demolidos, já foi uma reserva florestal. "Primeiro chegou um, depois outro. Como houve a implantação de infraestrutura, vieram mais pessoas." O local, situado na encosta do morro, já sofreu com o desbarrancamento, mas em proporções menores ao do último dia 12.
Asfalto, água e luz comprovam que, apesar dos riscos, as autoridades públicas investiram recursos no bairro condenado. O prefeito de Nova Friburgo disse à Agência Brasil que o bairro não tinha histórico de deslizamentos. "Isso nunca tinha acontecido lá e com a chuva que atingiu a cidade era praticamente impossível prever esse desastre", argumentou a autoridade municipal.
"Agora, temos que rever todas as partes de Friburgo porque a geografia do município mudou completamente", acrescentou o prefeito. Ele ainda rebateu as críticas dos moradores em relação à Fazenda da Laje, local desapropriado pela prefeitura para construção de 3 mil imóveis para as famílias que perderam suas casas na tragédia.
Moradores disseram que o local é longe e de difícil acesso. "A Fazenda fica a 12 quilômetros do centro da cidade. É um local plano onde vamos construir escolas, centro de saúde e colocar toda a infreaestrutura de água e luz", prometeu o prefeito. Segundo ele, a ideia é construir um novo acesso ao local onde será erguido o futuro conjunto habitacional.
Mas no Alto da Floresta a sensação dos moradores é de abandono e incerteza. "Não tenho para onde ir. Vamos esperar para ver se a gente consegue receber o aluguel social", disse o lavrador Thiago Carvalho Fuentes. De acordo com o governo do estado, a primeira parcela do benefício será paga no início de fevereiro, no valor de R$ 500.