Morreu na manhã deste sábado (27), aos 83 anos, o arquiteto paulistano Ruy Ohtake, que assinou obras como os hotéis Unique e Renaissance, além da sede do Instituto Tomie Ohtake, todos na capital paulista. Filho primogênito da artista nipo-brasileira Tomie Ohtake, ele tinha um câncer de medula.
A morte foi confirmada por seu irmão, o gestor cultural e artista gráfico Ricardo Ohtake. "Para Ruy, arquitetura era uma obra construída. E ele deixou uma quantidade muito grande de obras como legado", diz.
A empresária Marcy Junqueira, casada com Ricardo, lembra a dedicação de Ruy pela profissão. "Depois que a família almoçava junto aos domingos, deixávamos ele no escritório. Eu acho que ele tinha um amor pela arquitetura e foi o exemplo mais incrível que eu vi na minha vida" afirma.
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O governador de São Paulo, João Doria, lamentou a morte do paulista. " Um grande mestre da arquitetura tal qual sua mãe, Tomie Ohtake, foi nas artes. Ambos contribuíram muito para a cultura e os valores do Brasil. Meus sentimentos aos familiares e amigos", escreveu nas redes sociais.
Ruy Ohtake assina mais de 300 projetos no país que vão desde casas a prédios comerciais cheios de cores, curvas e espelhos que se destacam no horizonte. São dele também projetos do Parque Ecológico do Tietê, concluído em 1976, e o de Indaiatuba, em 1991.
Formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (Universidade de São Paulo) em 1960, ele desenvolveu sua obra a partir a escola paulista de Vilanova Artigas e Paulo Mendes da Rocha. Em 1961, fundou o seu escritório, na capital paulista, e logo passou a desenvolver projetos de residências, além de edifícios comerciais e industriais.
E foi inspirado por Nyemeyer e Aleijadinho que Ohtake começou a usar de forma mais ousada curvas e cores -algo que a arquitetura paulista até então não usava muito.
Em 2019, em depoimento à Folha, Ruy desabafou ao dizer que achava que a população gostava muito dos seus trabalhos, mas os arquitetos, não.
"No começo, eu ficava preocupado porque a inteligência da arquitetura levantava polêmica. Há um establishment aqui, e eu dei um passo à frente. Todo rompimento no que está instalado gera polêmica com quem está na vanguarda, mas a arte e a arquitetura avançam em saltos", afirmou o paulista.
"Hoje, acho que estou no caminho de contribuir com a arquitetura contemporânea brasileira. Em todas as minhas obras, me preocupo com a liberdade criativa, a surpresa e a inovação. Acho que meu desafio é dar continuidade à arquitetura do país, e não ficar estancado como ficamos em São Paulo."
Considerado um dos principais arquitetos contemporâneos do país, ele recebeu vários prêmios durante sua carreira. Em 1971, por causa de obras urbanas, foi agraciado com o Prêmio Carlos Millan, concedido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil. O mesmo órgão ainda o homenagearia, em 2016, com uma colenda por sua contribuição à arquitetura do país.
Para o atual presidente do IAB de São Paulo, Fernando Túlio, Ruy Ohtake é um arquiteto que se caracteriza por sua versatilidade e que conseguiu estabelecer uma linguagem própria. "Ao mesmo tempo em que dialogava com aspectos do modernismo brasileiro, trazia uma linguagem mais orgânica, pautada por materiais novos, curvas", diz.
Entre os anos de 1979 e 1982, Ohtake ainda presidiu o Condephaat, Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico. Foi também professor na Universidade Mackenzie, no início dos anos 1960.
Como professor, lembra o irmão Ricardo, ele foi convidado para ser paraninfo de muitas turmas de arquitetura e gostava de ter contato as gerações mais novas. "Ele sempre achou importante ter uma atuação na a formação dos estudantes e de novos arquitetos".
Nos anos 1980 projetou a Embaixada do Brasil em Tóquio, cuja fachada curva e envidraçada é característica sua.
O arquiteto Agnaldo Farias, autor de "La Arquitectura de Ruy Ohtake", publicado na Espanha, destaca que, ainda que comprometido com o viés político de suas obras, ele jamais deixou que esse substrato "o distanciasse da atividade projetual, o que fez liberando sua própria expressão até o ponto em que seu trabalho passasse a revelar sua condição de produto inequívoco de uma subjetividade", como diz no livro, citado pela Enciclopédia Itaú Cultural.
Além das obras arquitetônicas, Ruy tem assinatura marcante em mobiliários. Por muito tempo criou mobília especificamente para as casas de sua autoria, sem demanda de mercado, mas como detalhamento ou complemento da sua concepção espacial da moradia.
Usou o concreto para estantes, mesas e sofás, explorando formas inusuais, muitas vezes circulares, desafiando o peso do material.
Quando resolveu se aventurar mais especificamente pelo design, nos anos 1990, utilizou vidro e aço, em que se destaca também o uso expressivo das cores, traço que marca toda a sua arquitetura.
O velório será realizado neste sábado, em cerimônia aberta apenas para a família, e ele será cremado no Horto da Paz, também na capital paulista. Ele deixa dois filhos, Elisa e Rodrigo.