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Para 'cidade não virar lixo', prefeito do interior de SP expulsa moradores de rua

16 jul 2021 às 15:47

O prefeito Edivaldo Brischi (PTB), de Monte Mor, cidade localizada no interior de São Paulo removeu moradores de rua do centro da cidade, em carros da prefeitura, justificando que não deixará o município "virar um lixo". O órgão público afirmou que encaminharia essas pessoas para suas cidades de origem, mas não houve confirmação de quantos moradores foram retirados e seus locais de destino. Um dos grupos buscou a polícia após afirmar ter sido levado à força para outro município.


Em vídeo, Brischi disse que irá mostrar como se governa uma cidade e falou que podem ficar bravos com ele, já que "agora tem prefeito nessa cidade",


Nas mídias, o prefeito afirma que na quinta-feira (15) mandou fazer seis viagens transportando os sem-teto. Citou as cidades de Rio das Pedras, Bauru, Campinas, São Paulo e Orquídeas. Disse ainda que nesta sexta (16) haveria mais duas viagens -para Itararé e São Rafael.


"Preciso cuidar da minha cidade. Pessoas do bem me ajudem! Me apoiem! Tem muita gente metendo o lôco (sic) no Edivaldo. O lôco (sic) no prefeito. Só que eu não aguento mais essa situação. Eu não posso ver minha cidade virar um lixo", disse o prefeito.


Apesar de dizer que o destino dos sem-teto seria a cidade de origem, um grupo (seis homens e duas mulheres) registrou queixa na Polícia Civil de Boituva, a 85 km de Monte Mor. Segundo o registro, eles afirmaram que foram levados para a cidade contra a vontade deles.


"Eles disseram que foram colocados numa van e trazidos para cá, sem o consentimento deles. Na verdade, eles disseram que nem sabiam para onde estavam sendo levados", afirmou o delegado em Boituva, Emerson Martins.


O grupo foi encaminhado para o serviço de assistência do município. Um inquérito foi aberto para apurar a prática do crime de constrangimento ilegal. O caso ainda pode ser denunciado ao Ministério Público.


O prefeito Edivaldo Brischi diz que já tentou buscar alternativas para os moradores de rua na cidade, mas não teve sucesso. "Eu tenho uma grande preocupação. A gente fez um trabalho com eles; levou eles (sic) pra morar em alguns lugares. Teve gente que foi ser caseiro e o que aconteceu? Eles voltaram pra rua. E por que voltaram? Porque eles já têm o benefício deles. Todos eles têm benefício e a maioria da população fica sustentando eles com marmita", afirmou o prefeito.


"Quem vai querer trabalhar se tem a pinga deles? A marmita deles? Se vocês quiserem ajudar alguém, que ajude um pai de família que acorda às 5 horas da manhã, às 4 horas da manhã", disse.


Segundo o prefeito, moradores de rua provocam vandalismo. Ele ainda garante que quebraram os banheiros públicos instalados na rodoviária- e que seriam responsáveis por atos obscenos praticados em locais públicos.


A Prefeitura de Monte Mor se pronunciou por meio de nota, no início da tarde desta sexta. "Sobre a transferência em questão (para Boituva), vale ressaltar que só ocorreu após ser oferecida a possibilidade de retornarem para suas cidades de origem. Sendo assim, a transferência somente ocorreu para aqueles moradores que concordaram."


Segundo a nota, o município diz que ainda não foi contatado pela Prefeitura de Boituva nem pelo Ministério Público, e que os que ficavam próximos ao terminal rodoviário estavam sendo acompanhados pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Social, desde o início do ano, "com todo o trabalho específico de praxe, incluindo triagem e abordagem social".

Algumas medidas de gestões municipais com moradores de rua já se tornaram polêmicas em outras cidades. Em fevereiro, a Prefeitura de São Paulo instalou pedras debaixo de um viaduto no bairro Tatuapé para evitar a concentração de sem-teto.
As pedras foram removidas, após protestos -o padre Júlio Lancelotti quebrou a marretadas parte delas. Depois do episódio, uma favela surgiu no local.


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