O ex-diretor de Marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, que fugiu para a Itália para evitar cumprir a condenação a 12 anos e sete meses de prisão no processo do mensalão, está contratando advogado italiano para avaliar a possibilidade de pedir que a Justiça da Itália reexamine sua condenação. Mesmo com a confirmação da polícia local de sua entrada no país, Pizzolato só pretende aparecer publicamente depois que tiver resolvido essa questão, o que, avalia o grupo de amigos que o assessora no Brasil, poderá demorar até quinze dias. A possibilidade de sucesso de um pedido, por parte do Brasil, de extradição, é nula: o ex-diretor do BB tem dupla nacionalidade (brasileira e italiana), e nenhum dos dois países extradita seus nacionais.
Um dos pontos não resolvidos é o papel do PT. Amigos de Pizzolato começaram a conversar com parlamentares do partido para examinar se a legenda poderia entrar com a ação na Itália ou participar dela de alguma forma. O objetivo é atingir o que os amigos do ex-diretor do BB consideram o principal pilar da Ação Penal 470 do Supremo Tribunal Federal (STF): o suposto desvio de dinheiro público da Visanet. Pizzolato sustenta que não houve desvio, nem os recursos eram do Estado, o que inviabilizaria a acusação de peculato (desvio de verba oficial por funcionário público). Antes da fuga, vários advogados examinaram o caso no Brasil. Cogitou-se recorrer à Corte Interamericana de Direitos Humanos, mas ela não examina mérito de decisões, apenas sua forma.
Segundo amigos, Pizzolato estaria "positivamente surpreso" com a repercussão da documentação que tem sido divulgado a seu respeito. "Por que não quiseram ver os documentos antes?", teria perguntado.
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Contrainformação
A fuga de Pizzolato do Brasil ainda é objeto de versões contraditórias. Inicialmente, dizia-se que o ex-diretor fora em automóvel do Rio até o Paraguai, passara a pé a fronteira provavelmente em Pedro Juan Caballero, e de lá teria ido em outro veículo para a Argentina. Com uma segunda via do passaporte italiano, teria ido de avião para a Itália. A segunda versão dizia que Pizzolato teria passado pelo Paraguai e ido para Buenos Aires, de onde seguiu com documento de viagem provisório, para a França. De território francês, teria ido para a Itália de carro.
Ontem, afirmava-se que o ex-diretor fora de carro até Santa Catarina e andara dez quilômetros "até o Paraguai". Mas do outro lado de Santa Catarina já é território argentino. De Buenos Aires, com um documento de viagem obtido com identidade italiana, Pizzolato teria ido para a Espanha e seguido de trem para a Itália, onde teria penetrado a pé - não se esclarece por onde.
Também não ficou claro qual documento Pizzolato usou para embarcar. Seus dois documentos de viagem oficiais (brasileiro e italiano) foram entregues à Justiça brasileira. Os amigos do ex-diretor insistem que ele obteve um documento provisório e dizem que Pizzolato saiu por Buenos Aires, apesar da inexistência de registros recentes do ex-diretor no país vizinho e da afirmação do governo italiano que não lhe deu novo documento.
O vai vem das versões, passadas aos pedaços para diferentes órgãos de comunicação desde a segunda-feira, parece parte da estratégia de despiste de Pizzolato para dificultar a sua localização. Amigos do ex-diretor explicam que a fuga foi operada por três "núcleos": um no Brasil, outro na América do Sul e outro na Europa. Só Pizzolato teria conhecimento da operação completa.
Vídeo
Um amigo de Pizzolato, Miguel do Rosário, postou nesta quinta-feira na internet um vídeo de nove minutos, feito antes da condenação, em que o ex-diretor se defende. Ele acusa a Procuradoria Geral da República e os ministros do STF de terem ignorado provas que o inocentavam e pede que os petistas não aceitem as acusações de corrupção. Aparecem o ex-presidente do PT José Genoino e o senador Eduardo Suplicy (SP), que abraça o ex-diretor.