A Polícia Civil investiga possível crime na morte de três pessoas que realizaram exame de ressonância magnética, no hospital Vera Cruz, em Campinas (SP), na última segunda-feira. Os primeiros resultados do Instituto Adolfo Lutz, divulgados nesta sexta-feira, descartaram a presença de bactérias nos soros usados na aplicação de contraste (composto químico, a base de gadolínio, usado para melhorar a qualidade das imagens e do diagnóstico).
O dado confirma a linha de investigação central de morte provocada por uma reação a um produto químico injetado nas vítimas (propositalmente, acidentalmente ou involuntariamente). Na primeira coletiva de imprensa realizada pelo grupo multidisciplinar que investiga o caso - composto por polícia, secretarias de Saúde de Campinas e do Estado, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Instituto Médico Legal (IML) e Instituto de Criminalística (IC) -, as autoridades informaram que o caso ainda é "um mistério".
Nenhum dos pacientes apresentava problemas de saúde e todos fizeram ressonância magnética do crânio, segundo a direção do hospital. Dois passaram mal minutos depois do exame e um paciente chegou a deixar a unidade médica, mas retornou após sentir dores. As vítimas foram a auxiliar administrativa Mayra Cristina Monteiro, de 25 anos, o empresário Pedro Ribeiro Porto Filho, de 36 anos, e o zelador Manuel Pereira de Souza, de 39 anos.
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Com base no que foi apurado até o momento, quatro hipóteses estão descartadas: 1 - de um quadro infeccioso provocado por um agente biológico; 2 - de uma reação natural alérgica ao produto do contraste; 3 - de superdosagem do contraste aplicado; 4 - de uma falha nas máquinas de ressonância com superexposição ao seu campo magnético.
O delegado do 1º Distrito Policial (DP) de Campinas, José Carlos Silva, afirmou que todo material apreendido no Centro Radiológico do Vera Cruz e as imagens do circuito interno ainda estão sendo analisados para se determinar o que aconteceu e quem foram as pessoas que tiveram contato com esses pacientes e com os produtos e materiais utilizados nos exames. Tanto polícia como autoridades de saúde consideram que tenha havido contaminação por algum agente químico nesse procedimento, por falha humana, por ação intencional ou involuntariamente. "Vamos confrontar os resultados de exames para eventualmente apontar algum culpado, ou quem tenha causado, ou mesmo qual foi a causa dessa morte. A contaminação por envenenamento ou intoxicação que é a mais forte, ela tanto pode ser culposa (sem intenção de matar), como dolosa (com intenção de matar), como pode ser acidental", explicou o delegado.
Reconstituição
Silva disse que deve pedir uma reconstituição formal dos exames "para fechar alguns pontos obscuros". "A polícia ainda não sabe exatamente quem administrou os medicamentos, quem operou as máquinas. Há algumas divergências, que podem ser naturais", diz o delegado. Para ele, essa dinâmica de como foram feitos os exames, junto com os resultados dos laudos necroscópicos e toxicológicos, determinarão uma resposta para o enigma.
O secretário de Saúde de Campinas, Carmino Antonio de Souza, revelou nesta sexta que as vítimas podem ter passado por um processo semelhante ao que ocorreu no organismo das vítimas da tragédia de Santa Maria (RS), com a perda de capacidade de oxigenação dos tecidos. "As vítimas, pelas análises, pode ter tido uma meta-hemoglobinemia, que é um quadro transformação da hemoglobina, que deixa de oxigenar, e a pessoa falece por incapacidade de oxigenação dos tecidos. Um pouco parecido com o que aconteceu em Santa Maria, mas lá por causa da fumaça. Aqui, pode ter sido causada por uma substância química", afirma Souza.
Os três pacientes também apresentaram uma rápida destruição dos glóbulos vermelhos (responsáveis pelo transporte dos gases no sangue) e uma redução grande das plaquetas (responsáveis pela coagulação). O diretor do IML, João Miller, informou que os resultados dos primeiros laudos conclusivos devem sair somente dentro de 10 a 20 dias.