Moradores de sete capitais brasileiras respiraram ar impróprio para a saúde nesta quinta-feira (5), em mais um dia em que as queimadas se propagaram pelo país devido à combinação explosiva de calor, seca, vento forte e ação humana.
Leia mais:
CNU convoca mais de 45 mil para prova de títulos; prazo para envio de documentos começa
Ibama apreende peixes ornamentais nativos no aeroporto de Guarulhos que iriam para Hong Kong
Brasil registra aumento de casos de febre oropouche
Avião fica sem combustível do futuro bem no dia de lançamento no Brasil
Campo Grande, Cuiabá, Rio Branco e Porto Velho tinham ar insalubre por volta das 17h desta quinta, enquanto em Belo Horizonte, Manaus e Rio de Janeiro a insalubridade existia para pessoas de grupos considerados sensíveis, como crianças, idosos e doentes respiratórias e cardíacos.
Além das capitais, também foram afetadas cidades em uma grande faixa que vai de noroeste a sudoeste do país, atingindo também pontos a sudeste. Cacoal e Guajará-Mirim, em Rondônia, e Itaperuçu, no Paraná, tinham condição considerada perigosa, segundo dados levantados pela Folha na plataforma da IQAir, empresa suíça que monitora a qualidade do ar no mundo em tempo real.
Apesar de apresentar condição moderada, o ar da cidade de São Paulo estava insalubre na região da Vila Carrão (zona leste), mesma situação registrada no município de Osasco, na região metropolitana. Em Mairiporã, também na Grande São Paulo, um incêndio de grandes proporções atingiu o Parque Estadual da Cantareira.
O número de cidades paulistas com focos de incêndio quadruplicou em três dias. Na segunda-feira (2), apenas Pedregulho, Jardinópolis, Dois Córregos e São Simão tinham áreas em chamas. Nesta quinta, porém, o número chegou a 16, caindo para dez no final da tarde, de acordo com a Defesa Civil.
Em uma das regiões mais afetadas pelos incêndios, escolas estaduais do Acre suspenderam aulas em razão da intensidade da fumaça.
Ante o risco para a saúde, medidas como a adotada pelo Acre poderiam ser mais frequentes e articuladas, segundo a médica Evangelina Araújo, diretora do Instituto Ar.
Ela diz que estados são os entes responsáveis por desenvolver políticas de monitoramento e respostas a emergências relacionadas à qualidade do ar, segundo resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente, mas a atuação costuma ser negligente.
São apenas 11, segundo a especialista, os estados que cumprem tais programas: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espirito Santo, Pernambuco, Bahia, Ceará, Goiás, Distrito Federal, Paraná e Rio Grande do Sul. O Ministério do Meio Ambiente conta 16.
"Com as queimadas, agora, esses estados estão perdidos e não têm medidas emergenciais para proteger a população", diz Evangelina.
O governo Lula promete entregar até o início do próximo ano um guia técnico para monitoramento da qualidade do ar, além de investir R$ 120 milhões para 11 estações de medição em estados desprovidos dessa tecnologia.
Embora seja atribuição dos estados dar respostas aos chamados eventos críticos, a avaliação do Ministério do Meio Ambiente é de que o apoio federal será necessário para capacitar e coordenar as crises.
Isso permitiria repostas pontuais padronizadas, como suspensão de atividades diversas, como ocorre em países como França e China. "Estamos pegando os estados pelas mãos, mas ainda caberá a eles colocar em prática as ações", diz Adalberto Maluf, secretário nacional de Meio Ambiente Urbano e Qualidade Ambiental.
Os estados citados com qualidade insalubre do ar foram procurados para comentar os dados, sendo que dois, Acre e Minas Gerais, retornaram até a publicação.
No Acre, a gestão do governador Gladson Cameli (Progressistas) informou ter dispensado servidores dos grupos de risco do trabalho presencial e suspendido aulas, como já informado. Um gabinete de crise foi criado, e o desfile de 7 de Setembro está cancelado.
Em Minas, a secretaria de Saúde da gestão Romeu Zema (Novo) apresentou uma série de recomendações que afirma ter repassado à população, como consumo de líquidos e busca pelos serviços de saúde em caso de sintomas respiratórios.
É a fumaça das queimadas a responsável pela piora das condições para se respirar em grande parte do país, diz o meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador-geral de operações do Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais).
"Estamos em uma seca intensa, que começou no ano passado com uma estação de chuvosa deficitária", afirma Seluchi.
A estiagem é mais severa até mesmo onde já chove pouco nesta época, segundo Seluchi. Ele cita a região do reservatório Três Marias em Minas, na cabeceira do rio São Francisco, cuja expectativa era de 120 milímetros de precipitações de maio a agosto. "Não choveu absolutamente nada", diz.
Com vegetação muito seca, incêndios anualmente provocados se transformaram em queimadas catastróficas neste ano, afirma o especialista. "São queimadas que dependem a atividade humana, pois não são naturais", diz.