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Rúgbi volta à Olimpíada, e praticantes esperam vitrine para o esporte

Marcelo Brandão – Repórter da Agência Brasil
23 abr 2016 às 17:47

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Foram mais de 90 anos de ausência, mas o rúgbi está de volta aos Jogos Olímpicos. Esse retorno, justamente na edição do Rio de Janeiro, dá aos praticantes dessa modalidade esportiva esperança de mais visibilidade no Brasil. Além disso, eles esperam que, durante os seis dias de competição, desmitifique-se o caráter agressivo do rúgbi e se conquistem mais adeptos.

"Vamos ter seis dias de exposição máxima em canais de TV abertos e fechados, e isso não tem preço. Sem dúvida, haverá um impacto muito bom na disseminação do esporte e no conhecimento dos brasileiros sobre ele", disse o CEO (diretor executivo) da Confederação Brasileira de Rugby (CBRu), Agustin Danza.

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Segundo Danza, o rúgbi vem crescendo de forma acelerada no Brasil, principalmente nos últimos cinco anos. "Um dos fatores é o rúgbi ter se tornado esporte olímpico. Isso ajuda muito a disseminar, a criar interesse nas pessoas e em organismos que participam do esporte, como escolas e imprensa, dentre outros", afirmou. "E hoje é mais fácil achar rúgbi na televisão. Quase todo final de semana tem rúgbi nos canais por assinatura."

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Parte desse crescimento é comprovada pela criação de times em vários estados e de ligas locais e nacionais. Danza, no entanto, vê no torneio olímpico a janela que esperava para popularizar o esporte entre os mais jovens, nas escolas. "As escolas veem com bons olhos os esportes olímpicos. Durante esses dois anos, o fato de ser [esporte] olímpico tem ajudado bastante, e esperamos que, no pós-Rio 2016, possamos continuar o trabalho do rúgbi escolar."

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A CBRu existe desde 2010, motivada em parte pela participação do rúgbi nos Jogos Rio 2016. O Comitê Olímpico Internacional (COI) exige a existência de uma confederação por trás de cada atleta olímpico. "O que marcou a diferença aqui é que aproveitaram essa necessidade de criar uma confederação para redesenhar todos os princípios de gestão esportiva", explica Danza.


Atualmente, o calendário do rúgbi brasileiro consegue preencher grande parte do ano. No primeiro semestre, são agendados os jogos da seleção brasileira, de 10 a 12 partidas. Ao mesmo tempo, realizam-se os campeonatos estaduais. O segundo semestre é dedicado aos torneios nacionais. Existem torneios de primeira e segunda divisão, além de torneios de rugby sevens (variação do rúgbi tradicional e a mesma modalidade a ser disputada nos Jogos do Rio) feminino e masculino. Não existe rúgbi tradicional feminino.

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De acordo com Danza, existem cerca de 300 times em atividade em todo o país, mas apenas seis estados – São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina – contam com federações para organizar o esporte. Já existem campeonatos locais e nacionais, mas o rúgbi ainda é amador no país. A remuneração, geralmente, vem de patrocínios pessoais e prêmios da CBRu, além do Bolsa Atleta e de programas semelhantes.


Não há planos em um horizonte próximo para profissionalizar o rúgbi. Isso, como explica o CEO da confederação, não prejudica o desenvolvimento do esporte e sua popularização. "Por enquanto, o objetivo é fortalecer o rúgbi amador, os clubes já existentes, fornecer mais competências para eles para que possam estimular seus atletas de um melhor jeito. Não precisa ser profissional para ser bem-sucedido, temos o exemplo da Argentina e do Uruguai, que são muito bons."

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Tackles no Cerrado


Se existe um grupo que torce por essa popularização é o time do UniCeub, de Brasília. Praticante do rugby sevens, o time comandado por Lucas Lopes, o Samoa, treina três vezes por semana no gramado do centro universitário e quer aumentar o número de adeptos.

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O estudante Cláudio dos Santos, de 20 anos, que está há pouco mais de um ano no time, espera que os Jogos do Rio estimulem outras pessoas a treinar. "Espero que as pessoas acabem gostando. A princípio, elas têm um pouco de medo, porque é um esporte de contato e acham que é violento. Mas, se olhar a fundo, vier treinar, vai ver que tem uma técnica para não machucar o adversário, existe um respeito muito grande entre os jogadores."


"Muitos gostam do esporte e acabam não aderindo, porque acham que é um esporte violento. Mas, com o esporte voltando a ser olímpico, pessoal vai ver de outra maneira e aceitar", acrescenta Lucas Lopes.

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Os atletas do UniCeub treinam jogadas de corrida em velocidade, passes, tackles – jogadas onde um atleta derruba o adversário no chão para impedir seu avanço – debaixo de um sol de meio-dia nada amistoso. Em determinado momento, um dos jovens, extenuado, pergunta ao treinador: "Samoa, posso beber água agora?". Depois de um breve silêncio, vem a resposta simples, seca: "não".


"É um horário bastante cruel, mas é bom para engrossar a casca. Quem quiser tacklear e jogar rúgbi tem que estar grosso", diz o treinador. A demonstração de disciplina e exigência de Lopes, no entanto, passa longe de ser desumana. Cerca de 5 minutos depois, todos são liberados para beber água e descansar.

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"Eu gosto muito de treinar aqui, mesmo tendo só eu de menina, porque me acrescenta muito. O Samoa me ajuda, e eu melhorei bastante desde o meu começo nos treinos", diz Williane de Oliveira, de 19 anos. Há quase um ano ela pratica o rúgbi, esporte que já conhecia pela televisão, onde também acompanha o futebol americano, uma espécie de "filho" de rúgbi.


Convidada por um amigo, Williane passou a treinar. Atualmente, é a única mulher no time, mas isso não a incomoda. Nem as críticas de amigos ou parentes sobre a suposta truculência do esporte. "Às vezes, a gente treina tackle, ruck, e fica muito dolorida. Aí, falam: 'mas, também, o que você vai inventar de jogar?' Mas eu gosto muito, acho que vale a pena. É como pessoas que malham. Sentem dor depois de ir à academia. Eu sinto a dor depois do treino. Para mim, é muito bom, adquiro força, resistência."


Esporte de cavalheiros


No rúgbi, o nível de respeito entre adversários, e também ao juiz, é bem diferente do que se vê no futebol. Para quem está acostumado a ver jogadores simulando faltas, discutindo com o juiz e com os adversários, pode parecer estranho o comportamento dos atletas em uma partida de rúgbi. Os tackles podem passar uma impressão de agressividade que não se confirma.


"É preciso respeitar muito as regras, os adversários e o juiz. Você aprende a nunca falar com o juiz, a não quebrar uma regra, não simular uma lesão e não tentar machucar o adversário. Além disso, uma torcida nunca vaia a outra, nunca vaia o juiz. É um esporte que prega o respeito absoluto pelas regras", explica Danza.


Ao final das partidas, existem dois rituais tradicionais entre os adversários. Caso o time vencedor entenda que o adversário se esforçou e valorizou a partida, ele forma um corredor na beira do gramado para aplaudir os rivais em sua saída, reconhecendo seu esforço. Outro ritual, chamado de "terceiro tempo", visa à integração entre os atletas dos dois times.


"Sempre depois de cada jogo, tem o terceiro tempo, como a gente costuma chamar. Os dois times se juntam para beber uma cerveja típica, jantar e trocar histórias do jogo. Os jogadores dos dois times se misturam, falam dos lances. Essa é uma tradição que se mantém desde as divisões de base até o mais alto nível do rúgbi", conta o diretor executivo da confederação.


Entenda o rúgbi


O principal objetivo do jogo é conduzir a bola ganhando terreno no campo adversário. São 15 atletas em cada time – no rugby sevens, modalidade olímpica, são apenas sete – que precisam avançar enquanto o time adversário tenta impedir o progresso, bloqueando e levando os jogadores do outro time ao chão.


Os passes para a frente, no entanto, são proibidos. Passes com as mãos, apenas para trás. Apenas chutes podem ser dados para a frente mas, nesses casos, os atletas do time com a posse só podem tentar pegar a bola se estiverem na mesma linha ou atrás do chutador. Os 15 jogadores se dividem em duas posições principais. Os forwards disputam a bola nas faltas e reinícios de jogo e os backs carregam e tocam a bola para marcar pontos.

Os pontos podem vir através de um try, quando o jogador leva a bola até a área no fundo do campo adversário. Há também os chutes de conversão, que são cobranças nas quais a bola deve passar entre as traves, também posicionadas no fundo do campo. As partidas são divididas em dois tempos de 40 minutos em campos de tamanho semelhante ao futebol praticado no Brasil.


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