O agricultor Jovani Rosso, de 26 anos, estava próximo ao palco quando foram acesos os sinalizadores que acabariam por incendiar a boate Kiss, no centro de Santa Maria, Rio Grande do Sul, matando pelo menos 231 pessoas na madrugada do último domingo.
Assim que o fogo começou, iniciou-se um grande tumulto de pessoas tentando sair da casa noturna. Rosso estava entre aqueles que conseguiram escapar da boate sem maiores ferimentos. Mas ele logo perceberia que o desastre tinha proporções maiores.
"Eu vi que tinha um monte de gente lá dentro, e chegou um momento em que o pessoal parou de sair", disse Rosso à BBC Brasil.
Leia mais:
A partir desta sexta-feira, sites não podem vender 48 marcas de whey protein
Mãe se desculpa após discussão dentro de avião e diz que filho fez 'birra ridícula'
Hora trabalhada de pessoa branca vale 67,7% mais que a de negros
Mulher que viralizou ao não ceder assento vai processar mãe após exposição
Morador da cidade de Manoel Viana, a cerca de 180 km de Santa Maria, ele havia ido com um grupo de sete amigos para a boate. Entre eles estava seu irmão Delvani Rosso, de 20 anos.
Quando percebeu que muitos não estavam conseguindo deixar a casa noturna em chamas, Rosso, assim como outros frequentadores que estavam lá no momento, decidiu entrar para ajudar. Colocou a camisa no rosto para tentar se proteger da espessa fumaça produzida pela combustão do isolamento acústico da boate e passou a retirar o máximo de pessoas que podia.
"Havia muita fumaça. Eu entrava até o meu limite, uns 30, 40 metros no máximo e ia puxando as pessoas para fora. Elas estava todas deitadas, nenhuma se mexia, algumas estavam pretas, queimadas", disse.
"Eu só pensava em salvar as pessoas, o máximo que eu pudesse, nem me importei muito com o resto."
A fumaça impedia que ele conseguisse ver quem ele estava resgatando.
Pouco depois, ele teria uma surpresa: em vídeos gravados pelos populares e publicados na internet, viu que seu irmão e alguns amigos estavam entre as pessoas puxadas da boate por ele e outras pessoas.
"Os bombeiros ainda não estavam entrando. Eu puxava as pessoas e levava até eles do lado de fora", disse Rosso, que pegou uma lanterna emprestada de policiais para conseguir enxergar melhor o interior da casa. No total, Jovani perdeu quatro amigos no incêndio.