Os antigos donos e acionistas do Banco Bamerindus comemoraram ontem a atitude do Banco Central que reconheceu ter havido irregularidades no processo de liquidação do banco paranaense. O ex-presidente do Bamerindus, José Eduardo Andrade Vieira, disse que a postura do Banco Central poderá desencadear um processo para mostrar a caixa-preta do governo federal que envolveu o processo de intervenção no Bamerindus, em março de 1997. "Espero que o Banco Central dê continuidade nas averiguações", afirmou Andrade Vieira.
Para o ex-presidente do banco, é de extrema importância trazer à tona detalhes do processo de intervenção. Ele ressaltou que houve muito mais irregularidades na liquidação e no processo que antecedeu à intervenção. Andrade Vieira citou como exemplo o caso da "venda" da Seguradora Bamerindus.
O então liquidante José Carlos Alvarez vendeu a seguradora para o HSBC pelo preço de seu valor patrimonial, que girava em torno de R$ 400 milhões, sem levar em conta que a empresa era saudável. Sequer houve avaliação da seguradora. Segundo Andrade Vieira, a lei proíbe que o liquidante venda um ativo. "O correto teria sido avaliar a seguradora e fazer um leilão público", disse. O leilão permitiria ganhar um preço melhor, pois a empresa poderia ser disputada por mais de um concorrente.
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Isso aconteceu quando o Itaú vendeu 50% de sua seguradora. O banco conseguiu um ágio de 50%. Andrade Vieira afirma ter uma relação de operações e procedimentos mal feitos que resultaram em prejuízo para o Bamerindus e em benefício para o banco que assumiu, o inglês HSBC.
Um dos acionistas minoritários do Bamerindus, Paulo Sérgio Feres, disse que os fatos que vieram à tona, ontem, comprovam o que eles sempre denunciaram, ou seja, que houve irregularidades no processo de intervenção. "Já sabíamos que o Gustavo Franco (diretor e posterior presidente do Banco Central) era um irresponsável pela forma como foi feita a intervenção", acusou. Ele lembrou que o Bamerindus, um banco com 2 milhões de clientes e com mil agências no País, foi "entregue de graça" para o HSBC. "Ainda por cima, o HSBC pôde financiar junto ao governo federal o dinheiro para comprar o Bamerindus", disse Feres.
A Folha de S.Paulo, em reportagem publicada ontem, revelou que a liquidação do Bamerindus foi mal administrada e causou prejuízos à massa falida. O relatório de fiscalização do BC mostrou que pelo menos R$ 19 milhões foram perdidos com a negociação de apenas 47 dívidas de empresas com o Bamerindus.
O diretor de Finanças Públicas e Regimes Especiais do BC, Carlos Eduardo de Freitas, disse que a instituição não é responsável por eventuais prejuízos causados à massa falida do Bamerindus. "O BC não administra instituições financeiras sob liquidação, só indica liquidantes, que respondem com seus bens por eventuais prejuízos", disse o diretor.
Freitas negou que o BC tivesse indicado mal o liquidante do Bamerindus. "A indicação foi feita com base no desempenho passado dessas pessoas. Até aquela época, tínhamos boas referências do liquidante", disse, referindo-se a Gilberto Loscilha, afastado há um ano, após a investigação.