Pode não parecer, mas tudo o que você pensa sobre o mundo ao seu redor, desde família,
trabalho, até relacionamento amorosos, depende da mídia. Até pouco tempo atrás, estava
vinculado às grandes empresas de mídia, hoje está muito vinculado à internet.
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Quem não é consumidor frequente de notícias pela internet vai dizer que é exagero da minha
parte, alegando que só falo isso porque sou jornalista. Nem pensar. Está mais do que provado
cientificamente que as notícias são um grande impulsionador das redes sociais. Elas não só
pautam as discussões, como até as dancinhas do Tik-Tok. Não por acaso, o combate às notícias
falsas é um dos maiores desafios no planeta hoje.
Este já seria um motivo mais do que importante para tratarmos de uma discussão que está
ocorrendo de forma silenciosa no Congresso Nacional por meio do Projeto de Lei n o 2630,
conhecido como PL das Fake News. O projeto discute direitos e deveres para a internet no país
e no bojo dela está a possibilidade de remunerar o jornalismo profissional pelas grandes
empresas que dominam a internet. Em outros países já existe uma regulamentação semelhante,
como na Austrália e na França. A legislação foi criada porque o jornalismo profissional tem na
propaganda sua principal fonte de financiamento, mas os anúncios estão migrando e para a
internet. Outro fator que motivou a normatização é o fato de que as notícias geram tráfego e
engajamento na internet, mas quem lucra são apenas as empresas de tecnologia, com destaque
para Google e Facebook (Meta).
Existem duas possibilidades em debate. A primeira é que seja realizada uma negociação direta
entre as empresas de tecnologia e as organizações de mídia sobre os valores que seriam pagos.
Esta proposta é defendida pelas grandes firmas de mídia, como Grupo Globo. Obviamente,
porque ela estaria livre para negociar livremente o valor que receberia, sem interferência nem do
governo, nem dos empregados. Sem contar que estaria livre para aplicar os recursos da forma
como quisesse, sem necessariamente investir no jornalismo. Basta lembrar que a empresa está
há anos fazendo “a limpa” no jornalismo, demitindo sumariamente quem tem salários mais
altos. O que também está acontecendo em nível regional -uma tendência inevitável.
A segunda proposta em debate, defendido por entidades como a Federação Nacional dos
Jornalismo (Fenaj), é criar um fundo a partir dos recursos oriundos das empresas de tecnologia.
O fundo teria gestão multissetorial, isto é, por meio de uma colegiado representativo dos mais
diversos segmentos da sociedade, de forma que os recursos fossem usados para beneficiar
minorias, desertos de notícias, educação midiática e outras formas de fortalecer o jornalismo
profissional independente das grandes empresas de mídia.
É óbvio que a segunda proposta está sendo duramente atacada pelas grandes empresas de mídia,
que querem manter jornalistas, entidades de verificação e associações sob seu crivo por meio da
dependência financeira.
Assuntos densos, merecem maior discussão. Volto na semana que vem com mais ;)
*Lucas V. de Araujo: PhD e pós-doutorando em Comunicação e Inovação (USP). Professor da
Universidade Estadual de Londrina (UEL), parecerista internacional e mentor Founder Institute. Autor de
“Inovação em Comunicação no Brasil”, pioneiro na área.