O movimento sindical está satisfeito com a conscientização da sociedade brasileira em torno da necessidade de aumentar o valor do salário mínimo para R$ 180,00. "Isso já é fato. O desafio agora é como financiar o aumento do salário mínimo nas contas do governo, onde o impacto é maior", afirmou Cid Cordeiro, presidente do Departamento Intersindical de Estudos Estatísticos (Dieese). Esse debate já está mobilizando diversos setores da economia.
Empresários, acadêmicos e trabalhadores são unânimes em afirmar que o combate à sonegação seria a alternativa mais viável para criar os recursos necessários para cobrir o déficit da Previdência Social. Representantes desses setores rejeitam a proposta do governo de aumentar impostos para cobrir os gastos com o aumento do salário mínimo.
Cordeiro defende que entre os mecanismos que poderiam financiar o buraco da previdência seria a formalização da mão-de-obra. Destacou que nos anos 90 cresceu de forma assustadora a informalidade no mercado de trabalho que não recolhe taxas de INSS. Cordeiro sugere ainda que o governo deveria promover o crescimento econômico para elevar as receitas do governo. Segundo o economista, a mudança na conjuntura econômica seria suficiente para elevar as receitas de que o governo precisa, sem elevar a carga tributária.
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A Central Única dos Trabalhadores vai se reunir a semana que vem em São Paulo para fechar uma posição em torno do assunto, disse Roberto Von Der Osten, presidente da CUT-PR. Osten defende que o governo deveria taxar as grandes fortunas e setores que pouco contribuíram em recolhimento de impostos para o país até agora. Outra alternativa seria o governo cortar gastos e promover uma fiscalização mais eficiente, acrescenta.
Para o empresário Benedicto Kubrusly, presidente do Sindicato da Indústria de Autopeças, o aumento da carga tributária como forma de cobrir o custo do salário mínimo nas contas do governo seria o tiro de misericórdia nos setores da economia que ainda trabalham na formalidade. Ele destacou que as pessoas físicas e jurídicas estão sufocadas e não aguentam mais pagar impostos. "Enquanto se pensa em elevar a carga tributária, a economia informal será mais uma vez compensada porque ganha eficiência e produtividade", ironiza.
Para Kubrusly, a situação criada em torno do salário mínimo é uma hipocrisia. Cada vez que o governo pensa em criar impostos, o setor formal da economia se recolhe ainda mais. Citou sua própria experiência como exemplo. Ele teve de fechar uma loja de auto-peças que mantinha em Curitiba, porque não aguentou a concorrência de lojas do varejo que compram e vendem sem nota fiscal. "Entre cair na informalidade e fechar, optamos pela segunda alternativa", afirmou.
Para o economista e professor da Universidade Federal do Paraná Luiz Vamberto de Santana, o governo deveria suspender os subsídios que ainda concede a certos setores da economia. Santana disse que o combate às formas sofisticadas de sonegação é fundamental, mas a revisão da concessão de subsídios é urgente. Ele apontou os subsídios dados aos empresários do setor de álcool e açúcar no Nordeste, que não beneficiam o trabalhador nem o consumidor. Para Santana, o desmonte da estrutura de fiscalização é uma das causas para o crescimento do índice de sonegação no país.