A greve dos caminhoneiros, que levou a indústria automobilística a suspender atividades em quase todas as fábricas do País por falta de peças, vai interromper uma sequência de 18 meses de crescimento da produção nacional. A previsão é de uma queda na casa dos 20% em relação a maio do ano passado, a primeira desde outubro de 2016.
Projeção com base na média diária de produção de abril, de 12,6 mil unidades, indica que aproximadamente 75 mil veículos deixaram de ser produzidos nos seis dias em que a maioria das fabricantes fechou as portas. O número pode ser conservador, pois grandes marcas, como Ford, General Motors e Volkswagen, começaram a parar antes das demais.
Em maio de 2017, foram produzidos 250,7 mil veículos, o segundo melhor resultado mensal do ano passado, atrás apenas de agosto, com 260,8 mil unidades, incluindo automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. Por causa da greve, o volume do mês passado deve ficar abaixo de 200 mil.
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Algumas marcas já retomaram produção. As fábricas da Fiat em Betim (MG) e da Jeep em Goiana (PE) retomaram atividades em pleno feriado de quinta-feira. A Ford religou ontem as máquinas apenas da filial de Camaçari (BA).
As demais empresas voltarão ao trabalho a partir de segunda-feira, "de maneira gradual", disse o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Antonio Megale.
Em abril, a produção foi de 266,1 mil veículos, portanto, a queda de um mês para outro deve superar os 20%. A Anfavea só vai divulgar dados na quarta-feira. A entidade se preparava para rever, para cima, as projeções de produção e vendas para este ano. O episódio da greve pode atrasar as novas previsões.
A expectativa da entidade feita no início do ano era de alta de 13,2% na produção ante 2017 (para 3 milhões de veículos) e de 11,7% nas vendas (para 2,5 milhões de unidades). No primeiro quadrimestre o crescimento acumulado na produção é de 20,7% (965,8 mil unidades). Nos últimos meses, várias empresas anunciaram retomada de turnos de produção e até algumas contratações.
Já as vendas de janeiro a maio são 17% maiores que em igual período do ano passado, de acordo com dados divulgados ontem pela Fenabrave, entidade que representa as concessionárias de todo o País (leia ao lado).
Recuperação. Segundo executivos do setor, recuperar a produção perdida pode levar até dois meses, dependendo da empresa. A única forma é convocar funcionários para horas extras durante a semana e trabalho aos sábados. Já a recuperação das vendas pode levar três meses ou mais, dependendo da disposição dos consumidores.
"Pela dificuldade de retomada em razão do impacto fatal na confiança que a greve gerou, é possível que leve algum tempo para as vendas voltarem ao normal", disse o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sérgio Vale. Ele não descarta projeções menores de vendas e produção para o ano, "como, aliás, veremos em toda a economia".
Vale ressaltou ainda que o episódio da greve ocorreu num momento em que a Argentina, principal destino das exportações de carros brasileiros, apresenta forte desaceleração de consumo em razão da crise cambial. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.