Pesquisadores do Geaps (Grupo de Estudos em Atividade Física, Psicologia e Saúde) da UEL (Universidade Estadual de Londrina) concluíram a primeira etapa de um estudo inédito com pacientes hospitalizados em tratamento para transtornos mentais que utilizam exercícios físicos como terapia complementar ao tratamento farmacológico. Os estudos tiveram início no segundo semestre de 2024 com um grupo de 150 pacientes diagnosticados com depressão e esquizofrenia, internados no Hospital Vida de Londrina.
Os primeiros resultados apontam exatamente o que o projeto de pesquisa previa: a efetividade de um programa de exercício físico multimodal, como estratégia aplicável em clínicas e hospitais psiquiátricos. Os dados comprovam que o exercício pode ser utilizado como terapia complementar ao tratamento tradicional, em que são prescritos medicamentos abordagens médicas, psicológicas e sociais.
Os pesquisadores verificaram que o grupo estudado apresentou redução de intercorrências como agitação psicomotora, insônia, agressividade e desorganização do comportamento. Outros sintomas que apresentaram melhora significativa estão ligados à excitação do cérebro na esquizofrenia como redução de alucinações, delírios e aceleração do pensamento. Os dados coletados mostram ainda benefício no comportamento geral.
Leia mais:

Ressarcimento a vítimas de descontos indevidos deve começar em 24 de julho, diz presidente do INSS

Acidente com três carros e uma ambulância deixa um morto e seis feridos em Bandeirantes

Hospitais privados poderão abater dívidas por atendimento ao SUS

Prefeitura de Arapongas flagra casos de descarte irregular de lixo e notifica responsável
O “Programa de exercícios físicos multimodais em pacientes com depressão: uma abordagem complementar no contexto hospitalar” é a dissertação de mestrado da médica psiquiatra Carolina Alves Nicolau, para o Programa de Pós-graduação Associado em Educação Física UEM-UEL, orientado pelo professor Helio Serassuelo Junior, do Departamento de Ciências do Esporte. O projeto conta ainda com participação do doutorando do programa, Gustavo Baroni Araújo.
Dados epidemiológicos divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e que constam da justificativa do projeto de pesquisa, apontam que a depressão é uma das principais causas de incapacidade no mundo. A estimativa aponta que mais de 300 milhões de pessoas sofrem desse transtorno, o que evidencia alta prevalência e a necessidade de estratégias eficazes de tratamento. O Brasil é o país que apresenta a maior prevalência na América Latina com aproximadamente 11,7 milhões de pessoas com a doença (OMS, 2023).
Diversas capacidades físicas
As intervenções com os pacientes foram realizadas durante quatro semanas, totalizando oito sessões, com duração de aproximadamente 50 minutos, com intensidade gerenciada. O programa foi construído e aplicado pelo professor de Educação Física Bruno Marson Malagodi, do Departamento de Ciência do Esporte da UEL.
Segundo o orientador da pesquisa, professor Helio Serassuelo, os exercícios trabalharam diversas capacidades físicas voltadas à promoção da saúde como coordenação motora, agilidade, força, flexibilidade e equilíbrio. Ele chama a atenção para o desenvolvimento do potencial social dos pacientes, que tiveram a oportunidade de trabalhar em duplas e grupos.
O doutorando do programa, Gustavo Araujo, que participa da pesquisa, explicou que antes da aplicação do programa foi realizada uma triagem com todos os pacientes, que consistia na aplicação de dois instrumentos. A triagem avaliou a aptidão para a prática de atividade física e cognitiva. Também foram levantadas informações sociodemográficas, relacionadas a condição de saúde e a presença de comorbidades. Foram excluídos os pacientes que não obtiveram pontuação satisfatórias na triagem inicial.
O doutorando explica ainda que, em comum, todos os participantes estavam internados para tratamento, com múltiplos transtornos. Em geral pacientes com esquizofrenia e depressão são internados nas fases consideradas agudas, em curta permanência quando necessitam de cuidados intensivos.
Saúde física e mental
A médica psiquiatra Carolina Nicolau explica que decidiu iniciar o projeto após constatar o potencial do exercício físico como terapia complementar para tratamento de casos de depressão. Segundo ela, saúde física e mental está interligada. Tratamentos convencionais envolvem a prescrição de psicofármacos de diversas categorias, que exercem a função de regulação de neurotransmissores (serotonina, noradrenalina e dopamina) para a remissão dos sintomas.
Segundo a médica, apesar da grande relevância, o uso de medicamentos apresenta algumas limitações. Ela descreve na pesquisa que a taxa de resposta a um medicamento antidepressivo é de aproximadamente 50%. O uso de antidepressivos a longo prazo pode apresentar diversos efeitos colaterais e a altas taxas de desistência e recaída.
Além disso, o uso prolongado pode causar o desenvolvimento de sintomas de abstinência quando descontinuados de forma abrupta, contribuindo para a dependência psicológica em alguns casos.
“Os exercícios produzem uma melhora no cérebro, perceptível em várias regiões cerebrais a partir da redução dos sintomas depressivos com bem-estar e melhoria da autoestima”, sintetiza.
Dependência química
Para o próximo semestre os pesquisadores deverão promover novas sessões com pacientes depressivos do hospital, estendendo o programa também para pacientes hospitalizados em tratamento para dependência química. O objetivo será criar um protocolo de atividade física que possa ser utilizado em outros hospitais e clínicas psiquiátricas como alternativa de terapia complementar, aliada ao tratamento tradicional.
A ideia do Grupo de Estudos Geaps é que a partir de maio de 2025 o projeto retorne para a sua segunda etapa, onde novos dados serão coletados e analisados. Também existe a possibilidade de novas abordagens no programa de exercícios e nos instrumentos aplicados.