A mistura ''explosiva'' de comportamento de risco (relações sexuais sem uso de preservativo) entre adolescentes, início da vida sexual cada vez mais cedo e uma possível falta de informação sobre Aids resulta em números preocupantes em Londrina.
Depois de quatro anos sem casos entre adolescentes, nos últimos dois anos foram detectados 10 casos de Aids em jovens com idade entre 13 e 19 anos, todos por transmissão sexual.
X., um desses adolescentes, descobriu que tinha Aids aos 16 anos e alerta: ''Meus amigos também têm comportamento parecido, de deixar rolar (sexo) sem camisinha''.
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O número de casos entre adolescentes pode parecer pequeno se comparado com outras faixas etárias e com o total (210), também detectados em 2001 e 2002 os adolescentes representam cerca de 5% do total, enquanto 62% dos casos se concentram na faixa entre 25 e 39 anos.
Mas o enfoque muda se a comparação for feita com os quatro anos anteriores, quando nenhum caso entre adolescentes foi detectado.
Outro fator preocupante é que entre os 10 casos de adolescentes com Aids, sete são moças e três são rapazes.
O número resulta em uma proporção de 2,3 casos femininos para cada masculino, muito maior que a atual proporção de um caso de Aids feminino para cada caso masculino na população adulta.
Segundo dados do Ministério da Saúde, Londrina acompanha o que acontece no País, que também registra na faixa etária entre 13 e 19 anos duas meninas contaminadas para cada rapaz.
A coordenadora do programa municipal de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e Aids, Rosângela Alvanhan, avalia que muito mais que falta de informação, os números revelam falta de autocrítica e auto-estima dos adolescentes.
Isto aconteceria, segundo a coordenadora, principalmente entre as meninas, ainda vitimadas por uma educação machista que coloca o sexo como uma forma de satisfazer o homem e que não possibilita o conhecimento do próprio corpo.
Segundo informações do Ministério da Saúde, as adolescentes estariam se relacionando com parceiros mais experientes e teriam menos poder de negociação para exigir o uso de preservativo.
''O adolescente não pensa que pode acontecer com ele, ele não acha que é vulnerável como qualquer outra pessoa, e no caso das meninas, o comportamento mostra ainda uma submissão da mulher, é o homem que decide se quer ou não usar preservativo'', acredita Rosângela.
Uma pesquisa divulgada no ano passado pelo médico Fernando de Paula, da Secretaria de Saúde, em parceria com o pneumologista Olavo Franco Filho, da Universidade Estadual de Londrina (UEL), já alertava para o comportamento de risco entre os adolescentes da cidade.
A pesquisa revelou que 70% das meninas entrevistadas mantêm relação sexual sem utilizar qualquer método preventivo e apesar disso 54% das garotas acham que não correm risco de contrair alguma DST.
Dos meninos, 44% responderam que já mantiveram relações sexuais sem proteção e 50% disseram não temer DSTs.
A pesquisa também revelou que os adolescentes estão começando a praticar sexo aos 14 anos e 42,7% deles tem vida sexual ativa.
Para a pesquisa, foram entrevistados 2 mil adolescentes de diferentes classes sociais com idade entre 12 e 18 anos, entre novembro de 2001 e maio de 2002.