O arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Londrina, dom Geremias Steinmetz, se surpreendeu com a escolha do cardeal Robert Francis Prevost como novo papa. Na tarde desta quinta-feira (8), no Vaticano, o estadunidense com cidadania peruana foi anunciado como o papa Leão XIV, novo líder da Igreja Católica.
Os motivos para a surpresa do arcebispo de Londrina vão da curta carreira do agora papa Leão XIV como cardeal - cerca de dois anos -, o que o levava a ser pouco cotado no conclave, e à proximidade recente com as atividades religiosas do Brasil.
Isso porque dom Geremias Steinmetz estaria nesta semana junto ao cardeal Robert Francis Prevost na Assembleia-Geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que seria em Aparecida (SP), e terminaria justamente nesta sexta-feira (9). O agora papa Leão XIV seria o pregador do retiro dos bispos, mas cancelou a agenda por conta da morte do papa Francisco.
Leia mais:

Luto: artista plástico londrinense deixa obra criativa e instigante

Câmara de Londrina aprova LDO de 2026 em 1° turno

Em Londrina, greve das creches filantrópicas é mantida por tempo indeterminado

Ministério Público arquiva inquérito da PM sobre suposto confronto em Londrina
“Me surpreendi, sim, com a escolha. Ele seria o pregador do nosso retiro, trabalharia dois dias inteiros com a gente, quarta e quinta-feira. Rezaríamos e conversaríamos com ele”, relembrou o arcebispo de Londrina ao citar a coincidência.
“A CNBB propôs um encontro com o Conselho Permanente, do qual participo. Quando discutimos sobre transferir a assembleia por conta da morte do papa Francisco, o argumento foi que já não tínhamos mais o pregador do retiro, já que o cardeal previsto não poderia vir (por causa do conclave). Foi uma baixa. Tínhamos muita expectativa sobre o retiro que ele iria preparar. Levamos a assembleia para 2026, logo depois da Páscoa, e vamos ver até lá. Temos a missão de entender as principais inspirações do novo papa, que deverão entrar nas novas diretrizes. Muito trabalho pela frente", seguiu dom Geremias.
'ATUAÇÃO MUITO AMPLA'
O arcebispo de Londrina destacou as características do novo papa e sua proximidade com a América Latina. Prevost é nascido em Chicago, nos Estados Unidos, e logo se juntou aos agostinianos - aqueles que seguem a doutrina religiosa de Santo Agostinho - em 1977. Em 1982 se tornou sacerdote da Ordem de Santo Agostinho, em Roma, e em 1985 foi para sua primeira missão agostiniana no Peru. Foram dois anos no país, para onde retornou em 1988, seguindo pelos próximos dez anos.
Em 1999 voltou para Chicago, mas em 2014 foi nomeado pelo papa Francisco como administrador apostólico da Diocese de Chiclayo, sendo nomeado bispo em 2015. Em 2020 foi nomeado administrador apostólico de Callao, também no Peru, de onde saiu em 2023 para ser eleito cardeal em Roma. Só se tornou cardeal-bispo em fevereiro de 2025.
"Eu diria que é um homem, em primeiro lugar, de uma atuação muito ampla. Trabalhou no mundo da formação dos agostinianos na América Latina e também na Europa. Foi uma trajetória muito rápida. O trabalho principal dele aconteceu no Peru, com forte influência dos agostinianos na região. Portanto, quando ele foi chamado para Roma, foi feito bispo, depois inclusive foi administrador de outra diocese. Logo, foi chamado novamente a Roma e rapidamente se tornou cardeal. Isso ocorreu em um período curtíssimo de tempo, e agora, pouco depois, já foi eleito papa”, pontuou dom Geremias.
CONTINUIDADE DO TRABALHO DE FRANCISCO
“Penso que é um homem, pelo que se vê, simples, mas com muita consciência do trabalho, da missão e da Igreja hoje. A continuidade do trabalho do papa Francisco, ou pelo menos das grandes inspirações do papa Francisco, penso que estão comprovadas”, indicou o arcebispo.
Um ponto de dúvida sobre a atuação do papa Leão XIV é nas questões sociais. Considerado progressista moderado, é defensor dos imigrantes e já criticou a política do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre a deportação de estrangeiros no país.
Em sua conta no X (antigo Twitter), o novo papa já fez críticas ao novo governo, questionando a falta de consciência de Trump e do vice J.D Vance: "Jesus não nos pede para classificar nosso amor pelos outros", republicou em fevereiro deste ano.
Já quanto à comunidade LGBTQIA+, a posição do novo papa é ambígua. Enquanto cardeal, mostrou reserva a práticas que possam "contradizer o evangelho". Entretanto, recentemente, defendeu o decreto do papa Francisco, chamado Fiducia Supplicans, que permite bênçãos a casais divorciados e homossexuais.
“Na questão mais particular da família, é preciso discutir como ele recebeu a exortação apostólica Amoris Laetitia (A alegria do amor, em latim), sobre a alegria do amor, que trata de toda a questão dos recasados, da comunidade LGBTQIA+ e de todo o acolhimento misericordioso que a Igreja precisa continuar fazendo. Em seus discursos, ele usa pelo menos uma vez a palavra ‘misericórdia’, e esses são temas que não voltam atrás”, apontou Steinmetz, indicando que as obras de Francisco quanto aos assuntos dificilmente vão retroceder.
“Isso envolve também a iniciação cristã. Há todo um trabalho para que se possa continuar, de fato, discernindo, especialmente na questão da família, que também precisa continuar construindo pontes de misericórdia e acolhida, para que todas as pessoas, independentemente de qualquer coisa, sejam reconhecidas como filhas e filhos de Deus e acolhidas pela Igreja. Também, nas nossas comunidades, as pessoas não podem ser desprezadas por uma ou outra opção em sua vida. Isso vale também para a questão do estado, que deve acolher a todos. Ninguém tem o direito de discriminar ninguém”, concluiu dom Geremias.
Leia também:
