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Treinador de crianças carentes

Estimulador de sonhos: zona norte de Londrina se despede de Thiago Ramalho, voluntário há 10 anos

Bruno Souza - Especial para o Portal Bonde
10 set 2024 às 14:20
- Arquivo pessoal
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A zona norte de Londrina se despediu, na última quarta-feira (4), de um dos maiores nomes do voluntariado da região: Thiago Ramalho. Conhecido por dar aulas de futsal para crianças carentes, ele era visto como um estimulador dos jovens sonhadores do Jardim Vista Bela, ao mesmo tempo em que agregava ensinamentos que perdurarão para sempre nos corações dos seus alunos.


Ramalho, que era professor de Educação Física formado pela Unopar e pós-graduando em Treinamento Esportivo na UEL (Universidade Estadual de Londrina), sofreu um ataque cardíaco aos 40 anos de idade. Ele já atuou como professor nos Colégios Estaduais Hugo Simas e José de Anchieta e no Colégio de Aplicação da UEL. O treinador deixa a esposa, Caroline, e dois filhos, João Pedro Lobão e Israel Lobão, de 16 e 13 anos, respectivamente.

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Durante dez anos de trabalho totalmente social e voluntário, o professor nunca cobrou mensalidade dos alunos. O projeto era uma missão de vida e uma realização para ele. Com pouca estrutura, fazia muito pelas famílias do bairro em que residia e era reconhecido pela sua dedicação.

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Para o filho mais velho, João Pedro Lobão, o trabalho de Ramalho representava para as crianças, além de um incentivo para seguir sonhando, a presença paterna, que muitos ali careciam.

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"Ele representava para as crianças aqui do bairro um exemplo de pai. Muitas não tinham o pai presente. Quando ele levava para o jogo, a maioria das vezes quem estava ali era só o meu pai. Como treinador, pai, torcedor e conselheiro", relembra.


João Pedro diz que as ações do seu pai serão levadas para sempre como exemplo. "Meu pai era perfeito. Só tenho a agradecer a Deus pela vida dele. Ele foi um exemplo de pai."

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Desde 2014, Ramalho atendeu cerca de 350 crianças e adolescentes no Projeto Crer Futsal. Entre eles, Victor dos Santos, de 24 anos, que virou o seu braço direito. O jovem viu nas aulas gratuitas a oportunidade de mudar de vida. Pouco tempo depois, percebendo que o treinador não tinha qualquer tipo de ajuda, ofereceu-se para apoiar o projeto como auxiliar técnico.


"Ele sempre trabalhou sozinho e sem ajuda nos treinamentos. Logo, enxerguei uma necessidade e sabia que eu seria útil ajudando nos treinamentos, campeonatos, eventos e festivais. No fundo, eu sabia que não seria um jogador de futebol profissional, mas já tinha uma concepção que também poderia me sentir realizado em outra função no esporte", diz Dos Santos.

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O jovem criou vínculos profundos com Ramalho. Segundo ele, a relação passou a ser de "pai e filho", tanto pelas oportunidades que recebeu, quanto pelos ensinamentos e acolhimento familiar.


"Sempre estávamos reunidos em família, comemorando aniversário, Natal e virada de ano. Me tratava como filho e sempre me aconselhava, incentivava e me colocava em lugares que jamais imaginei que poderia frequentar."

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Da esquerda para a direita, Victor dos Santos, Thiago Ramalho e algumas das crianças do Projeto Crer - Arquivo pessoal


Da esquerda para a direita, Thiago Ramalho, o filho e a esposa e João Pedro, filho mais velho - Arquivo pessoal


Semente que rendeu frutos


Victor dos Santos era visto por Thiago Ramalho como uma semente que se tornou uma árvore frutífera. Bastante ligado a práticas religiosas, o treinador foi o responsável por direcionar o rumo profissional e espiritual do menino que, quando conheceu, tinha apenas 14 anos. 


"Quando entrei no projeto, não tinha perspectiva sobre o meu futuro, mas sempre observava e via o quanto ele me valorizava. A partir de então, estava decidido que queria me tornar professor de Educação Física,  atuando na área da educação e também esportiva", salienta.

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Com apoio de Ramalho, Dos Santos se tornou atleta de alto rendimento, árbitro de futebol e treinador de futsal do Projeto Crer. Também passou a estudar Educação Física Licenciatura na UEL, seguindo os passos do seu mestre.


"Para o Thiago, isso foi algo mágico, porque sempre estava viajando e representando o projeto e o bairro. Quando olhava para ele, enxergava o quão competente e profissional era. Seus ensinamentos promoveram um enorme aprendizado", afirma.

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Ramalho era PCD (Pessoa Com Deficiência) desde o nascimento e superou diversos obstáculos ao longo da vida. No entanto, nunca permitiu que as suas limitações físicas contivessem a sua ânsia em servir o próximo. Dos Santos, relembra que ele proferia, entre uma dica e outra em quadra, frases impactantes que expressavam a sua vivência e fé.


"Uma frase importante que sempre estava presente no vocabulário dele e que até hoje não me esqueço: 'Sem aprender a andar, com Deus dei o primeiro passo'."


Agora, o braço direito de Ramalho segue com o projeto voluntário. As ações ocorrem na Escola Municipal Américo Sabino Coimbra, no período noturno, no Vista Bela.


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