O Portal Bonde conversou com exclusividade com um estudante da Universidade Estadual de Londrina (UEL) que participou da série de protestos em Curitiba, na última semana, contra o projeto de lei que alterou o sistema de custeio do ParanaPrevidência, o fundo previdenciário dos servidores públicos estaduais. O jovem, que preferiu não se identificar com medo de represálias, detalhou a truculência sofrida por ele e alguns amigos no último dia 29, quando um cerco da Polícia Militar (PM) deixou mais de 200 feridos no entorno da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). "Não tinha para onde correr", contou em entrevista concedida à reportagem nesta sexta-feira (8), uma semana e dois dias após o que foi definido por ele como "massacre".
O estudante contou que precisou socorrer uma criança durante a ação policial. "A menininha deveria ter uns seis, sete anos. Eu a encontrei, perdida, no meio da confusão, enquanto fugia das bombas lançadas pelos policiais. Consegui colocá-la no meu ombro e sair correndo. Depois do tumulto a entreguei para um homem, que deveria ser o pai dela", detalhou.
O jovem também disse que viu policiais "chutando a cabeça de professores de 40, 50 anos", pessoas sendo pisoteadas enquanto tentavam fugir do cerco da PM e muita "violência física, psicológica e verbal". "Os policiais passavam por cima, riam da gente, ironizavam a nossa manifestação... Foi uma mistura de sentimentos a todo tempo. Sentia raiva, desespero, frustração, medo...", afirmou.
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O rapaz lembrou, ainda, que a ação policial teve início no dia 27, quando os oficiais invadiram o acampamento dos professores com o intuito de guinchar o caminhão de som do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato). "A gente tentou fazer um cordão para impedir a ação, mas acabamos atingidos por spray de pimenta. Já na terça, dia 28, tivemos todos os nossos passos acompanhados por policiais infiltrados. Foi quando eu percebi que a situação não ia ser tranquila, e, por mais pacíficos que fôssemos, todo mundo estava ali à mercê de um contexto que não tinha para quem pedir socorro", argumentou.
Prisões
O estudante também comentou o fato de quatro colegas, também alunos da UEL, serem detidos por policiais à paisana durante a manifestação. "Saí correndo quando percebi que o acampamento estava com infiltrados. Eles foram levados do nada, enquanto participavam da manifestação de forma pacífica", disse. Em depoimento ao Ministério Público (MP), os alunos disseram que foram agredidos e humilhados pela PM.
Uma estudante revelou, ainda, que foi obrigada a ficar nua durante revista. As policiais acusadas pela universitária negaram o ocorrido e comunicaram que têm a intenção de processá-la. O jovem ouvido pelo Bonde garantiu que a aluna supostamente humilhada ficou "em estado de choque" após ser liberada pela polícia.