Nesta quarta-feira (8) será realizada em diversas cidades do Brasil a "Marcha das Religiões Afro-Brasileiras". Em Londrina, o evento é organizado por representantes das religiões de matrizes africanas e pela União da Juventude Socialista e está programado para começar às 17h, com concentração em frente ao Banco do Brasil do Calçadão. Os manifestantes farão uma caminhada até a Concha Acústica com faixas, tambores e cantigas típicas das suas religiões.
A "Mobilização Nacional das Religiões Afro-Brasileiras em Favor da Liberdade Religiosa" é uma reposta ao Recurso Extraordinário 494601, que tenta deslegitimar a Lei gaúcha 12.131/2004, que permite o sacrifício de animais destinados à alimentação nos cultos das religiões africanas. O Recurso será votado nesta quinta-feira (9) no Supremo Tribunal Federal.
Robson Arantes é praticante do candomblé e um dos organizadores da Marcha em Londrina. Sobre o abate, ele diz que o procedimento é feito de maneira rápida e sem dor para o animal. "O principal objetivo do abate é o direito a uma alimentação saudável da comunidade. Nós criamos ou compramos animais sadios, que não tenham química alguma. Eles são sacralizados, recebem todas as cerimônias e não sofrem, eles não podem sofrer. Então, há todo um cuidado para que esses animais tenham uma morte rápida e sem dor", ele enfatiza.
Leia mais:
Após reforma e ampliação, Londrina entrega Escola Municipal na Zona Norte
Receita Federal retém R$ 3 milhões em produtos nos Correios de Londrina
Londrina EC marca jogo contra o Maringá em Alvorada do Sul
"Senhor dos Anéis": novo filme em animação da franquia estreia em Londrina
Preconceito e intolerância
Em julho deste ano, Júnior Godoy, outro organizador da Marcha e também seguidor do candomblé, recebeu uma denúncia anônima em decorrência do barulho de uma festa que estava sendo realizada em sua casa de axé. "Essa perseguição contra nós de religião de matriz africana é constante. Um exemplo foi uma situação que ocorreu esse ano na minha casa de axé, quando nós fomos denunciados pelo barulho do som dos atabaques (tambores usados em cerimônias e rituais). Os policiais chegaram pedindo que a gente parasse com a festa, pois haviam recebido uma denúncia anônima. Mas eles não levaram o medidor de decibéis e o denunciante também não apareceu. Os policiais simplesmente pediram para que a gente parasse com o barulho e com o culto, se não precisariam levar alguém à delegacia para dar continuidade a denúncia que havia sido feita contra a nossa casa", Júnior relembra.
Andressa Stefano também é praticante do candomblé e está na organização do evento de quarta-feira. Ela acredita que o Recurso é uma demonstração de intolerância religiosa. "Os argumentos utilizados no Recurso Extraordinário 494601 não possuem fundamento ou coerência alguma. Um dos argumentos utilizados é de que a imolação seria um crime ambiental, sendo que só em 2017 foram abatidos 5,84 bilhões de frangos pela indústria, a qual desmata nossas florestas para a criação de gado. O abate doméstico e ritualizado, em pequena escala, utilizado para o alimento das populações de terreiro e do entorno não é o problema ambiental do nosso país. É expressão da cultura, da fé e da religiosidade trazidas pelos negros escravizados e precisa ser respeitada e defendida, inclusive constitucionalmente. Outro argumento, é de que existe o sofrimento animal em nossos cultos, o que também não possui fundamento algum", Andressa afirma. Ela também relembra que o Brasil é um Estado laico e portanto não pode criminalizar uma religião, seus ritos e seus praticantes.
(Sob supervisão da repórter Fernanda Circhia)