Um casal de Londrina leva à risca um dos juramentos mais importantes do casamento: o de amar tanto na saúde como na doença. Keiliziane de Faria Oliveira, de 37 anos, e Carlos Gabriel Honório, de 41, enfrentam juntos as sequelas do câncer e da meningite e, imersos em uma constante tempestade, tentam encontrar no amor e na fé o alicerce para não sucumbir à ventania.
Keili - maneira como a psicóloga prefere ser chamada - diz que a sua vida é um "turbilhão de emoções". Ela relata que tudo começou com um incômodo no seu mamilo direito, que logo evoluiu para pontadas e manchas na pele. Um pouco antes, ela já percebera a necessidade de tratar um problema no útero e aguardava para retirar alguns miomas. "Lembro que marquei com o oncologista duas vezes, mas precisei desmarcar por conta do trabalho."
No mesmo período em que já pensava em procurar tratamento médico, outro assunto passou a ter mais importância. Carlos se programou para uma cirurgia de retirada das amígdalas, por causa da sinusite, para, em seguida, dar atenção total à cirurgia da retirada dos miomas de Keili.
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"Lembro dele dizendo que, como seria mais tranquila [a cirurgia de sinusite], em sete dias já estaria recuperado e depois me ajudaria com a minha cirurgia de miomas, que, pelo programado, seria maior."
O procedimento, que deveria ter sido simples, teve complicações médicas que colocaram a relação de Keili e Carlos novamente em um furacão. "Infelizmente, ele acabou sendo vítima de complicações médicas que acarretaram em vários problemas graves. Então, começou a batalha pela vida. Por causa da meningite, teve vários AVCs (Acidentes Vasculares Cerebrais), AVCI (Acidente Vascular Cerebral Isquêmico), infecção no cérebro, hemiparesia [paralisia no rosto]", relembra a psicóloga.
Em pouco tempo, a vida do casal virou de ponta-cabeça com os dois enfrentando duas das doenças mais mortais e agressivas do mundo.
Dois meses na UTI
Novos percalços
Tratamento contra o câncer
Após o seu diagnóstico, Keili conta que começou uma "nova batalha". O câncer estava em um estágio avançado e o tratamento tinha urgência para começar. De mãos atadas, os familiares se apegaram à única alternativa viável a eles, as orações.
"O tratamento foi muito pesado. Eu apresentei todos os efeitos colaterais esperados e as intercorrências também. Na primeira transfusão de sangue, tive complicações cardíacas. Durante o tratamento, tive complicações sérias que me levaram à internação."
O tratamento intensivo debilitou a psicóloga. "Terminei as seis quimioterapias muito debilitada fisicamente. Tive Neutropenia Febril [febre que pode levar à morte]. Como estava muito mal, precisei de internação. Recebi transfusão de sangue pela segunda vez. Foi um momento muito sofrido", salienta.
Todo o tratamento de Keili foi feito no Hospital do Câncer de Londrina. Ela ressalta que os profissionais fizeram toda a diferença. "Amo todos que passaram direta ou indiretamente por mim."
A cura
Os médicos decidiram fazer a mastectomia radical em Keili - procedimento cirúrgico que consiste na remoção total da mama afetada pelo câncer -, além do esvaziamento axilar do lado direito. A cirurgia foi um sucesso e o médico contou a boa notícia que a psicóloga tanto aguardava.
"Foi uma cirurgia muito mais rápida que o previsto. Quando retornei ao médico, ele empurrou um papel e disse: 'você acertou o bilhete premiado da loteria'. Eu não entendi, então ele disse: "você está curada, não há mais lesões, removemos tudo."
Religiosa e extremamente feliz com a sua recuperação, ela viu nas palavras do profissional o milagre que tanto pedira. "Mais uma vez, vi a mão de Deus cuidando e zelando de cada detalhe."
Amigos e solidariedade
Desde o começo do "furacão", o casal sobreviveu com a ajuda de amigos, familiares e pessoas próximas. Carlos se afastou do ofício que tinha há dez anos e Keili foi demitida dos dois trabalhos que tinha, pois precisou se dedicar à saúde do esposo.
Carlos só passou a receber o auxílio-doença em dezembro de 2023, cerca de quatro meses após se afastar do trabalho. O casal sobreviveu por meio da solidariedade de conhecidos e do seguro-desemprego de Keili.
A rotina também mudou. Os dois precisam fazer fisioterapia duas vezes por semana, além de acompanhamento com neurologista, para ele, e imunoterapia, para ela, a fim de evitar a volta do câncer. "Estamos reaprendendo a viver nesse novo molde. Não é fácil, mas é possível e estamos no caminho. Enquanto houver fé, há esperança e muito amor."
Carlos voltou a andar e a falar, mas apresenta sequelas irreversíveis. Segundo a esposa, ele deverá se aposentar em breve devido à condição física e neurológica. Ela afirma que os médicos ficaram abismados com a evolução do operador de logística.
"Quando os médicos olham o tamanho da lesão, falam que é impossível ele fazer o que faz. Era para estar na cama. Ele tem a mão comprometida e o rosto paralisado, mas anda. Os médicos não conseguem explicar."
Para ajudar o casal com qualquer quantia, acesse a chave pix: [email protected].