O centro de Londrina assistiu nesta quarta-feira (22) à terceira mobilização contra o aumento da tarifa do transporte coletivo, que no começo do ano passou de R$ 2,30 para R$ 2,65. Cerca de 100 pessoas se reuniram na Praça Rocha Pombo, ao lado do Terminal Urbano - que por volta das 17h30 já não recebia mais ônibus por determinação das empresas que administram o serviço. A precaução foi em vão, uma vez que os manifestantes resolveram, minutos antes das 18h, subir a Avenida São Paulo e tomar o rumo da rotatória entre as avenidas Higienópolis e JK. Mesmo assim, no horário de pico os usuários precisaram chegar até o terminal para serem instruídos sobre o ponto mais próximo de cada linha. Ao final da mobilização, pelo menos sete pessoas foram presas por atos de vandalismo.
Com palavras de ordem, bandeiras e cartazes, a marcha parava em cada cruzamento para se fazer notar, complicando o tráfego. Nenhum episódio de vandalismo foi registrado no percurso até a chegada à esquina da rua Espírito Santo com a Higienópolis.
Foi neste ponto que ocorreram as primeiras depredações. Um grupo atirou uma máquina de lavar louças no meio da rua, enquanto outro ateou fogo em pneus e tapetes. As duas pistas ficaram interditadas por aproximadamente 10 minutos. Depois, o grupo desceu a avenida em direção à JK, liberando o outro lado da via, que sobe para a Sergipe.
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Já na rotatória, todos os sentidos foram bloqueados. Diante do Colégio Estadual Vicente Rijo, quatro ônibus que estavam no ponto foram parados. Dois conseguiram dar ré e sair pela Rua Guararapes, enquanto os restantes foram "tomados" pelos manifestantes. O primeiro teve seus vidros pichados e os pneus esvaziados. O motorista Darci Servolho, de 46 anos - 10 deles na Transportes Coletivos Grande Londrina (TCGL) -, permaneceu no interior do automóvel. "Não recebemos nenhuma instrução da empresa, fomos pegos de surpresa, na rua. A gente fica um pouco apreensivo, mas eles [manifestantes] falaram que era para eu ficar tranquilo", disse.
Minutos depois, um grupo invadia o outro coletivo parado para quebrar parte dos vidros a chutes. Tanto o motorista quanto o cobrador já estavam no exterior. "A gente já sabia. Eles [TCGL] falaram para não ir para o terminal, mas a gente não esperava que eles fossem descer a Higienópolis", afirmou o cobrador Evandro Ramos, de 23, funcionário da TCGL há um ano.
Agentes da CMTU chegaram às avenidas e montaram desvios para ruas paralelas uma quadra antes da rotatória. O expediente evitou que o fluxo fosse direcionado ao protesto. Mesmo assim, muitos motoristas tiveram que esperar por vários minutos no interior dos seus carros, sobretudo na pista da JK que vem da Unifil.
Por volta das 18h45, os manifestantes liberaram o cruzamento e subiram a rua Anita Garibaldi. Ao chegarem à esquina entre Alagoas e Hugo Cabral, uma divergência entre os grupos provocou discussões sobre o itinerário a ser seguido. Uma parte pedia que a mobilização fosse à Concha Acústica - o que acabou acontecendo -, enquanto outros queriam o Terminal Urbano e alguns poucos cogitaram a Prefeitura.
Um policial à paisana, que acompanhava o protesto, foi identificado e pressionado pelos integrantes da mobilização. Eles o acusavam de estar filmando rostos.
Enquanto discutiam, alguns participantes do protesto pegaram sacos de lixo e os jogaram no meio da rua. Garrafas foram quebradas na calçada e até um colchão foi alvo dos vândalos, que tentaram incendiá-lo, mas não tiveram sucesso. Integrantes do Movimento Passe Livre (MPL) começaram a discordar das depredações e houve bate-boca. "Não vamos mexer com lixo não, tem trabalhador que vive dos recicláveis", lembrou uma manifestante no meio do tumulto. "Isso daí não passa onde eu moro", rebateu um rapaz mascarado.
"O comitê não aprova, mas entende a radicalidade como uma resposta da juventude ao verdadeiro vandalismo, que foi esse ataque das empresas e da Prefeitura à juventude e aos trabalhadores", argumentou a estudante Maíra Vieira, porta-voz do MPL, sobre os atos mais enérgicos. Ele própria ajudou a recolher dejetos esparramados pelas ruas.
Dali em diante, as sacolas deixadas sobre as calçadas da Hugo Cabral continuaram a ser o alvo de parte dos manifestantes. Do alto dos prédios, moradores corriam às janelas para ver seu lixo se transformar no sparring da revolta dos jovens.
O corpo do protesto foi se desintegrando pelo centro de Londrina e o núcleo que sobrou alcançou a Concha Acústica por volta das 19h30. Mais tarde, às 20h, a Polícia Militar foi até o local e abordou quem ainda estava por lá.
De acordo com o MPL, manifestantes foram agredidos e pelo menos 10 pessoas foram detidas. A Polícia Militar confirmou pelo menos sete prisões, três delas no 6º Distrito. Eles são acusados de danos ao patrimônio.
Reunião com Kireeff
Nesta quinta-feira (23), às 14h, o comitê do MPL se reúne com o prefeito Alexandre Kireeff na Prefeitura. Eles vão formalizar o pedido de remoção do aumento do preço da passagem. "O nosso principal objetivo, nesta conversa, é fazer o preço voltar ao que era, mas também defenderemos as outras bandeiras do movimento, que são o passe livre para todos os estudantes e desempregados e a estatização do serviço", revelou Maíra Veira, representante do movimento.
A porta-voz, no entanto, não acredita que o diálogo servirá para o cancelamento do aumento. "Ele [prefeito] foi quem veio nos procurar para a conversa, mas não esperamos muita coisa dele. O importante é manter os protestos, nossa mobilização é na rua", afirmou. Maíra prevê que a volta às aulas, sobretudo na Universidade Estadual de Londrina (UEL), reforçará os futuros protestos.
Para esta quinta-feira (23), a realização de um ato em frente à Prefeitura de Londrina é estudada pelo MPL.