O governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), em visita a Londrina nesta quinta-feira (20), prometeu que as investigações sobre a morte de dois jovens em um suposto confronto com a PM (Polícia Militar) no último sábado (15) serão apuradas de maneira isenta, mas enfatizou que o policial é treinado para reagir se for atacado.
Por se tratar de uma ocorrência envolvendo militares em serviço, a PM está investigando o caso. Para garantir isenção e imparcialidade, foi decidido que o inquérito policial militar será conduzido por uma equipe de Maringá (Noroeste). Já a Polícia Civil tem dois inquéritos em andamento: para investigar o suposto confronto e as mortes e outro para analisar o excesso das manifestações.
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Antes de falar sobre a segurança pública do estado e as medidas que estão sendo tomadas sobre o caso, o governador se solidarizou com as mães pela perda dos filhos. "A gente sabe que a dor de uma mãe nunca é apagada, né? E fica minha solidariedade a elas que infelizmente acabaram perdendo seus seus filhos", declarou, esclarecendo que o ato solidário "não entra na questão da ligação dos jovens com o crime".
Ratinho afirmou em seguida que os confrontos são evitados pelos policiais, mas, quando ocorrem, tendem a apresentar resultados piores para os criminosos, já que os agentes são preparados para ações desse tipo.
"Como o nosso policial é muito bem treinado, muito provavelmente quem vai levar azar vai ser o bandido, né? E tem levado azar. O que nos cabe nessa situação de Londrina é o que eu determinei de imediato: fazer com que toda a investigação aconteça também pela Polícia Civil, pela corregedoria da Polícia Militar de Maringá para justamente não ter nenhum tipo de interferência local", explicou.
Ainda durante a coletiva, ele ressaltou que as ações de vandalismo que ocorreram em Londrina na segunda-feira (17) são artimanhas da criminalidade para jogar a população contra a polícia. Segundo o governador, o estado está a procura dos autores dos crimes.
"Obviamente que quando você vai para cima do crime e começa a asfixiá-lo, ele começa de alguma maneira a reageir. Uma das reações é jogar a população contra contra a imprensa, contra os policiais, contra as forças armadas. Mas nós sabemos quem são, né? Existe uma força de inteligência muito grande aqui do estado para entender como é que funciona e quem são esses atores."
Os números da segurança pública do Paraná, de acordo com Ratinho, são reflexo da ação do estado no combate à criminalidade. Novos armamentos também foram anunciados para reforçar a atuação das policiais.
"Só para vocês terem uma ideia, quando eu assumi o governo, em 2019, o Paraná tinha 20 mil presos. Hoje, nós estamos com 40 mil presos. [...] [Vamos adquirir] Novas viaturas, novos armamentos, tecnologia. Vão chegar mais três helicópteros. Agora, vou entregar a partir de março 1.500 fuzis, 2 mil tasers, 250 drones que enxergam à noite, inclusive com calor do corpo, mesmo se o bandido estiver numa mata escura".
Câmeras corporais
O governador do Paraná também foi questionado sobre as câmeras corporais, uma das demandas mais citadas por familiares dos mortos nos supostos confrontos. Segundo ele, há recursos separados, mas existe um trâmite burocrático que pode durar meses até que a licitação seja efetivada.
"Foi formada no ano passado uma equipe técnica para analisar os tipos de tecnologia. Então, a gente está analisando aquilo que se adequa melhor à realidade das polícias do Paraná. Eu já disponibilizei no ano passado para o orçamento deste ano R$ 20 milhões para compra. Conforme forem chegando, serão instalados", disse.
Ações da PM
Após os diversos protestos por causa da morte dos jovens, a PM de Londrina deflagrou uma operação integrada para conter os atos de vandalismo na região. Nesta quinta-feira (20), as ações foram ampliadas com o lançamento da Operação Força Total Brasil XII, que visa intensificar o policiamento ostensivo e prevenir ações criminosas de qualquer natureza.
De acordo com o Tenente-Coronel Ricardo Eguedis, comandante do 5º BPM (Batalhão da Polícia Militar) de Londrina, o reforço no policiamento vindo de outros município garantiu a segurança da cidade.
"Esta ação compõe as outras ações de atividades de proteção e segurança em Londrina. Tivemos diversas operações com efetivos de outros batalhões da capital do estado. Temos um helicóptero a mais trabalhando no policiamento, inclusive noturno. Neste momento, tudo funciona normalmente na cidade e a polícia vai garantir que isso continue", salientou.
Relembre o caso
Um adolescente de 16 anos e o empresário Wender da Costa, de 20, foram mortos em um suposto confronto com a PM na noite de sábado (15), no Jardim Santiago, Zona Oeste de Londrina. O boletim oficial da PM relatava que os jovens haviam reagido a uma abordagem policial e estavam armados em um carro roubado, o que teria provocado a reação dos agentes de segurança. Entretanto, as famílias negam veementemente a ligação dos dois com o crime e acusam os policiais de truculência.
O caso tomou uma proporção ainda maior com o atentado a dois ônibus de turismo no domingo (16), que foi relacionado pela PM aos protestos pelas mortes dos jovens. No entanto, as famílias negam o envolvimento com os atos de vandalismo.
Na terça-feira (18), as mães dos dois mortos foram à sede do MP conversar com o delegado do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) sobre medidas a serem tomadas para "atestar a inocência dos jovens". Elas estavam acompanhadas de cerca de 100 pessoas oriundas da Bratac e da advogada Iassodara Ribeiro, que as representa juridicamente.
Nesta quinta, a reportagem teve acesso ao documento do MP protocolado um dia após a morte dos jovens. O texto, assinado pelo magistrado Marcus Renato Nogueira Garcia, expõe o pedido do órgão para que houvesse a investigação e a comprovação, por meio de exames detalhados, de todas as acusações feitas pela PM.
O IML (Instituto Médico Legal) de Londrina enviou ainda na terça-feira o laudo de necropsia dos dois jovens à Delegacia de Homicídios do município. De acordo com o chefe-adjunto da Polícia Científica, Maurício Nakao, além da necropsia, outros exames - como toxicológico, balístico e no veículo em que os jovens estavam - devem ficar prontos nos próximos dias. Segundo Nakao, laudos desse tipo demoram mais para ficar prontos devido ao envio para Curitiba, que só acontece a cada 15 dias.
A reportagem entrou em contato com a Delegacia de Homicídios de Londrina, mas o delegado Miguel Chibani, responsável pelo caso, não quis dar entrevista. A advogada das famílias também foi procurada, mas também preferiu não se pronunciar. A Sesp (Secretaria de Segurança Pública) do Paraná, em nota, confirmou que o caso está em investigação. A assessoria da PM também foi procurada, mas não respondeu até a publicação deste texto.
*Colaborou Simoni Saris
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