O anúncio do governo cubano do encerramento do programa Mais Médicos com o Brasil após declarações do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) pegou muitos municípios de surpresa. Os prefeitos, principalmente de regiões mais distantes, estão receosos com um possível retrocesso na decisão. Em Londrina, o secretário municipal de Saúde, Felippe Machado, vai no caminho contrário. Em entrevista à FOLHA, ele explicou que "a cidade não deve ter dificuldades na reposição, até porque temos mais profissionais brasileiros do que de Cuba".
Porém, Machado disse estar "esperançoso na convocação que será feita pelo Ministério da Saúde de novos servidores. Se o chamamento não tiver sucesso, é óbvio que enfrentaremos uma piora no atendimento da atenção básica". Segundo a prefeitura, são 10 médicos que atuam nos postos do conjunto Aquiles Stenghel, Maria Cecília, Chefe Newton, Jardim do Sol, Vila Fraternidade, Panissa (Avelino Vieira) e do distrito de Paiquerê, na zona rural.
Os salários são pagos integralmente pelo governo federal, mas a administração municipal arca com uma espécie de bolsa-auxílio. "É uma ajuda de R$ 2 mil pra custear despesas comuns", comentou.
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Polêmica
Secretários municipais de Saúde e prefeitos reagiram à interrupção da cooperação técnica entre a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e o governo de Cuba, que possibilitava o trabalho de cerca de 8,5 mil profissionais cubanos no programa Mais Médicos. Em nota conjunta, o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) e a Frente Nacional de Prefeitos (FNP) apelaram para a manutenção dos profissionais cubanos no Brasil sob risco de faltar atendimento à população.
Segundo as entidades, com a decisão do Ministério da Saúde de Cuba de rescindir a parceria, mais de 29 milhões de brasileiros poderão ficar desassistidos da atenção básica de saúde. Eles pediram que o presidente eleito Jair Bolsonaro reveja a decisão de aplicar novas exigências para a permanência dos cubanos no país.
Os profissionais de nacionalidade cubana representam, atualmente, mais da metade dos médicos do programa, o que poderá acarretar em "um cenário desastroso" para pelo menos 3.243 municípios. "Dos 5.570 municípios do país, 3.228 (79,5%) só têm médico pelo programa e 90% dos atendimentos da população indígena são feitos por profissionais de Cuba", informa a nota.
Bolsonaro fala
Bolsonaro disse que manterá o programa Mais Médicos e vai substituir os cerca de 8.500 profissionais cubanos por brasileiros ou estrangeiros. Ele afirmou que os cubanos que quiserem atuar no país devem revalidar os diplomas. A afirmação ocorre no momento em que Cuba informou que vai se desligar do programa por não aceitar as exigências feitas pelo novo governo.
"Estamos formando, tenho certeza, em torno de 20 mil médicos por ano, e a tendência é aumentar esse número. Nós podemos suprir esse problema com esses médicos. O programa não está suspenso, [médicos] de outros países podem vir para cá. A partir de janeiro, pretendemos, logicamente, dar uma satisfação a essas populações que serão desassistidas."
(com informações da Agência Brasil)