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Troca de cartas

Amizade de papa com mulher atrasa beatificação

BBC Brasil
02 jun 2009 às 09:01
Papa João Paulo 2º trocou cartas por 55 anos com amiga polonesa - Divulgação
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A troca de correspondências entre o papa João Paulo 2º e a amiga psiquiatra polonesa Wanda Poltawska, durante mais de 50 anos de amizade, pode atrasar o processo de beatificação do papa, de acordo com informações divulgadas pelo jornal italiano La Stampa neste final de semana.

O atraso, segundo o La Stampa, pode acontecer porque a correspondência entre Karol Wojtyla e Wanda Poltawska não foi totalmente disponibilizada para a comissão que cuida do processo de beatificação do papa, que foi iniciado poucas semanas após a sua morte, em abril de 2005.

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De acordo com a publicação, Wanda Poltawska agora deverá entregar todas as cartas, para que elas sejam analisadas pelos peritos do Vaticano.

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"Os teólogos examinadores devem pedir todo o material conservado pela senhora Poltawska, para eliminar dúvidas e ambiguidades que possam motivar contestações futuras, ligadas à inédita correspondência com uma mulher leiga, cujo conteúdo é desconhecido em todo o Vaticano", disse ao jornal La Stampa o cardeal José Saraiva Martins, prefeito emérito da congregação para a causa dos santos, que deu inicio ao processo de beatificação.

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De acordo com o cardeal Saraiva Martins, toda a correspondência pessoal deveria ter sido entregue durante a fase diocesana do processo, em Cracóvia, na Polônia. Agora, que o processo chegou a Roma, será preciso mais tempo de trabalho por parte da comissão vaticana, composta por oito teólogos.


"São 55 anos de correspondência, uma vida, portanto será preciso pesquisar mais para evitar problemas futuros, inclusive, porque não é comum uma correspondência tão ampla entre o papa e uma amiga de juventude", afirmou o cardeal, segundo a publicação.

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Campo de concentração


A amizade entre Karol Wojtyla e Wanda nasceu quando os dois eram jovens, logo após a Segunda Guerra Mundial, durante a qual ela ficou presa em um campo de concentração, onde foi cobaia de experiências de médicos nazistas.

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Poltawska visitou diversas vezes o papa no Vaticano, em sua residência de verão, em Castelgandolfo, e até no hospital onde João Paulo 2° ficou internado após o atentado de 1981. No hospital, ela disse que lia romances em polonês para ele.


"Passei a metade de seu último ano de vida em Roma. Estava também a seu lado no dia 2 de abril de 2005, no quarto onde morreu, no Vaticano", disse Wanda Poltawska ao jornal.

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Ela, o marido e os filhos, teriam se tornado muito próximos de João Paulo 2°.


Amizade

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O padre Adam Boniecki, colaborador de Karol Wojtyla quando era bispo de Cracóvia e depois no Vaticano, disse ao La Stampa que João Paulo 2° sempre se relacionou de forma espontânea com leigos e religiosos. A presença de Wanda Poltawska e sua familiaridade com o papa, no entanto, provocava desconforto e mau humor na Cúria, segundo ele.


Na opinião do vaticanista Andréa Tornielli, não há nada de suspeito na amizade entre Wojtyla e Wanda Poltawska.

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"Pensar que destas cartas possa aparecer uma relação não limpa entre os dois quer dizer que não se entendeu nada sobre papa Wojtyla. Ele acompanhou e ajudou Wanda a esquecer o drama que viveu no campo de concentração, abençoou o casamento dela, batizou seus filhos, sempre houve uma grande amizade com toda a família", disse Tornielli à BBC Brasil.


A senhora Poltawska, atualmente com 88 anos de idade, declarou ao jornal La Stampa, que tem uma "mala cheia" de cartas, e que não destruiu nenhuma.


Parte das cartas foi entregue aos examinadores da causa de beatificação em Cracóvia, e outra parte foi publicada em forma de livro. A maioria delas, no entanto, continua guardada em sua casa.


Em algumas das cartas, publicadas pelo jornal no domingo passado, eles escrevem sobre a doença de Wanda (um tumor do qual ficou curada) e sobre as próximas férias que passariam juntos.


Contradições


De acordo com o vaticanista Andréa Tornielli, nas cartas não há nada de negativo contra João Paulo 2°, que costumava manter uma relação epistolar e de amizade com muitos jovens e casais que havia acompanhado espiritualmente.


O problema, segundo ele, é que nas cartas há informações que não coincidem com as que o secretário do papa, cardeal Stanislaw Dziwisz, forneceu ao Vaticano.


"Creio que haja contradições entre algumas coisas escritas e testemunhadas por Wanda Poltawska e o que foi escrito e testemunhado pelo secretário, sobretudo no que se refere à nomeação de alguns bispos".


Processo


Na avaliação do vaticanista Andréa Tornielli, se fosse necessário analisar toda a documentação relativa a João Paulo 2°, o processo de beatificação ficaria parado, pois, durante 27 anos de pontificado, foram acumuladas toneladas de material.


"O arquivo secreto do Vaticano nem chegou a ser consultado. Há muito material que não foi entregue ou consultado e pessoas que não testemunharam. Se fosse preciso esperar todos, levaria 10 anos só para começar a escrever", afirma.


Os peritos do Vaticano examinaram a "Positio", documentos e depoimentos relativos ao processo de beatificação de João Paulo 2°, no último dia 13 de maio. Nesta avaliação, eles teriam levantado dúvidas a respeito de alguns pontos.


Entre os itens que precisam de um exame mais detalhado estariam as nomeações de alguns bispos criticados por sua conduta moral e o beijo que João Paulo 2° teria dado no Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, em maio de 1999, durante visita ao Vaticano de uma delegação iraquiana.


"Nas fotografias é evidente o que o papa está fazendo (beijando o Alcorão), mas o secretário Dziwisz, no entanto, afirma que aquele beijo jamais existiu", diz Tornielli.


Segundo o vaticanista, os depoimentos do cardeal Stanislaw Dziwisz são a base mais importante da causa de beatificação.


Outro ponto que deve ser analisado seria um possível financiamento ao "Solidariedade" - sindicato polonês que teve influência na queda do regime comunista - e o caso do arcebispo Paul Marcinkus, ex-presidente do IOR, banco vaticano, envolvido em operações ilícitas.


Análises mais detalhadas destes itens poderiam provocar uma lentidão no andamento do processo de beatificação, que, graças à decisão do atual pontífice, Bento 16, foi iniciado poucos dias após a morte de Karol Wojtyla.

Tradicionalmente, seria necessário esperar cinco anos para se iniciar o processo.


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