Segundo relatório da ONU sobre as drogas no mundo, divulgado pela BBC Brasil, os brasileiros são os maiores usuários de derivados de ópio da América Latina.
O relatório foi divulgado nesta segunda-feira (26) e revela que os 700 mil usuários correspondiam a 0,6% da população entre 12 e 65 anos em 2001, de acordo com o documento. Os chamados opióides são substâncias que produzem euforia ou bem-estar e cujo uso requer doses cada vez maiores.
Os principais opióides utilizados no Brasil são a morfina e a heroína, mas, segundo o relatório, o abuso desta droga no Brasil é "muito baixo".
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O presidente do Comitê de Álcool e Drogas da entidade, Sérgio Seibel, destacou que a heroína - assim como a cocaína, que não é um opióide - é economicamente inacessível à maior parte dos brasileiros.
O Brasil aparece no relatório da ONU como um país cujo consumo de drogas é muito menor que o nível de apreensões, principalmente porque funciona como corredor de transporte.
Parte da rota de tráfico que sai dos Andes em direção à África e daí para a Europa, o país interceptou 8 toneladas de cocaína em 2004. Estima-se que 70% disso vinha da Colômbia.
Em relação à maconha, o relatório nota que apenas 1% dos brasileiros entre 12 e 65 anos utilizava essa droga em 2001, uma proporção pequena para as 200 toneladas de aprendidas no país no ano seguinte. Uma das explicações, novamente, seria o fato de o país servir como corredor de transporte.
Apreensão recorde - Impulsionadas pela parceria entre Estados Unidos e Colômbia, as apreensões mundiais de cocaína bateram novo recorde em 2004, afirma o relatório. Juntos, os dois países apreenderam 60% das 588 de toneladas confiscadas da droga.
"A melhor cooperação entre as polícias e o serviço de inteligência" colombianos e norte-americanos indica que os bons resultados se repetirão nos números de 2005 e de 2006, diz o documento.
Reversão de tendência - Mais da metade da área plantada de coca no mundo (54%) está na Colômbia. Os 86 mil hectares atuais representam a metade da área recorde registrada em 2000, quando a tendência começou a ser revertida.
Há três anos, o país do presidente Álvaro Uribe é recordista na apreensão de cocaína. Em 2004, as apreensões totalizaram 188 toneladas, equivalente a 32% do volume mundial.
Já nos Estados Unidos, as prisões feitas naquele ano resultaram em 166 toneladas do pó, ou 28% do total mundial. Com 6,5 milhões de consumidores, os EUA consomem a metade de toda a cocaína produzida no mundo.
Ao apresentar o documento em Washington, o diretor-executivo do escritório da ONU para Drogas e Crime, Antônio Maria Costa, disse que os números positivos não podem servir de pretexto para que os países relaxem suas políticas antidrogas.
Calcanhar de Aquiles - Entre os problemas dos esforços contra as drogas, segundo o relatório, estão o aumento da demanda por cocaína na Europa (em contrapartida à redução nas Américas), a produção de ópio (matéria-prima da heroína) no Afeganistão e o amplo uso de maconha em várias partes do mundo.
Para chegar ao continente europeu, traficantes de cocaína já evitam a tradicional rota que deixa a América do Sul pelo Caribe e têm aberto novas vias entre o oeste da África (principalmente Cabo Verde, África do Sul, Quênia, Gana e Nigéria) e a península ibérica.
Já no Afeganistão, a área destinada ao cultivo de ópio caiu 21% em 2005, pela primeira vez em três anos. Mas, segundo Antônio Maria Costa, a situação afegã permanece instável, agravada pela pobreza, a falta de segurança e o controle precário do Estado sobre seu próprio território.
Por fim, o documento critica a volatilidade das políticas nacionais contra o uso de cannabis. "Com os problemas de saúde em decorrência de cannabis aumentando, é errado que o controle sobre a droga dependa do partido que está no governo", disse Costa.
"Sabemos que uma estratégia coerente e de longo prazo pode reduzir o fornecimento, a demanda e o tráfico de drogas. Se isto não acontece, é porque algumas nações não levam o tema suficientemente a sério, e não perseguem as políticas adequadas", acrescentou. "Alguns países têm o problema com drogas que merecem."