O ministro da Educação, Cristovam Buarque, quer alfabetizar dois milhões de brasileiros que não tiveram acesso ao ensino básico e mal sabem assinar o próprio nome.
A proposta, encaminhada no final de janeiro ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, prevê a parceria com os demais ministérios e secretarias especiais, além da iniciativa privada, organismos internacionais e sociedade.
"A meta não é apenas de alfabetização, mas de inclusão social", afirmou o ministro da Educação, Cristovam Buarque, recentemente, no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre.
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Segundo Buarque, cerca de 20 milhões de brasileiros não sabem ler nem escrever. Para alfabetizar a todos em quatro anos, seriam necessários 80 mil professores, que ministrariam aulas duas a três vezes por semana, em cursos de duração máxima de seis meses.
Os recursos para tão ambiciosa meta seriam de R$ 1,5 bilhão e exigiriam previsão orçamentária. "Os analfabetos precisam se encontrar com os alfabetizados que querem ajudá-los", afirma Buarque, numa convocação à sociedade para um "encontro nacional pela educação".
O apelo de Cristovam tem sensibilizado a sociedade. O Programa de Erradicação do Analfabetismo recebe a cada dia adesões de vários segmentos e cresce o número de voluntários dispostos a apresentar suas experiências na alfabetização de jovens e adultos.
A primeira parceria foi firmada pelo Ministério da Educação com a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação e com a Fundação de Apoio às Escolas Técnicas (Faetec) do Rio de Janeiro. O objetivo da parceria, por meio do programa ABCTec, é alfabetizar 600 mil adultos em 36 meses com o uso intensivo da tecnologia da informação. Os alfabetizadores receberão treinamento de 80 horas antes de ir para as salas de aula. O programa pretende recrutar dez mil pessoas entre professores das redes pública e privada e universitários.
Depois de alfabetizados, jovens e adultos poderão ter acesso a cursos de Educação básica, técnica, tecnológica ou profissional oferecidos pela rede de 57 unidades que integram a Faetec nos municípios fluminenses.
Já está acertada, também, parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI). A proposta é alfabetizar, em quatro anos, dois milhões de jovens acima de 16 anos e adultos trabalhadores em todos os estados. As unidades do Serviço Social da Indústria (Sesi) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) vão usar a experiência de 60 anos em mais de mil municípios para convocar os trabalhadores a participar da cruzada da alfabetização.
Na área rural, a mobilização contra o analfabetismo começa com o apoio do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. (MST). Representantes do movimento estão dispostos a trabalhar nos assentamentos e acampamentos. O MST acumula 13 anos de experiência pedagógica e de mobilização de alfabetizadores. Conta com 150 educadores formados em Pedagogia e 600 outros concluindo cursos de Pedagogia e Magistério. A meta é alfabetizar 300 mil brasileiros no campo em todo o país.
Para promover e coordenar os programas de alfabetização com inclusão social para jovens e adultos maiores de 15 anos excluídos do ensino formal, o MEC vai cruzar informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), das secretarias estaduais de Educação e prefeituras, além de cadastrar as entidades, associações, ONGs e universidades que já desenvolvem projetos de alfabetização de jovens e adultos.
Também estão sendo avaliadas as metodologias utilizadas. "Há vários métodos, como o de Paulo Freire, o de Esther Grossi, o Alfabetização Solidária. Não seria aconselhável, portanto, utilizar uma metodologia única, que acabaria levantando privilégios. Não é esse nosso objetivo", diz o secretário extraordinário para a Erradicação do Analfabetismo, João Luís Homem de Carvalho.