Até Mafalda – a menina prodígio, criada há mais de 50 anos pelo cartunista argentino Quino cujos comentários irônicos, sobre os problemas da humanidade, continuam atuais – entrou na polêmica sobre a legalização do aborto na Argentina. O projeto de lei, aprovado pela Câmara dos Deputados, será votado pelo Senado no dia 8 de agosto e tem mobilizado dois grupos de ativistas: as de lenço verde, que defendem o direito da mulher de interromper a gravidez, e as de lenço azul, que são contra.
Nesta semana, o cartunista Quino desmentiu que a personagem esteja fazendo campanha contrária ao aborto depois que imagens de Mafalda começaram a circular na internet com frases que a ligavam ao movimento pró-vida. A menina rebelde, que nasceu questionando os adultos e foi traduzida para mais de vinte idiomas, foi vista nas redes sociais vestindo um lenço azul, com a frase "Salvemos 2 Vidas".
Também nas redes sociais, uma frase, atribuída a Quino, tem sido divulgada: "Comentaram que estão usando, sem a minha permissão, uma imagem de Mafalda na campanha de legalização do aborto (o que me chateia). Aproveito para esclarecer que Mafalda sempre estará a favor da vida, portanto, não coloquem nela um lenço verde, porque sua cor é azul".
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A suposta posição de Mafalda foi contestada pelo próprio cartunista em um comunicado divulgado por pessoas próximas. "Foram divulgadas imagens de Mafalda com o lenço azul que simboliza a oposição à lei de interrupção voluntária da gravidez. Não foi autorizado, não reflete a minha posição e solicito que seja removida. Sempre acompanhei as causas dos direitos humanos em geral, e a dos direitos humanos das mulheres em particular, a quem desejo sorte em suas reivindicações".
Homenagens
No cinquentenário de Mafalda, Joaquin Lavado (conhecido como Quino) foi homenageado em várias partes do mundo e manifestou surpresa diante da fama de um personagem, que falou pela última vez há 45 anos. Filha de uma família de classe media argentina, Mafalda tinha seis anos quando apareceu pela primeira vez numa tira de quadrinhos, em 1964, e desapareceu em 1973, três anos antes do último golpe militar argentino.
No curto período, ela comentava os acontecimentos da época: eram tempos de Guerra Fria e ditaduras na América Latina. Mas as frases dela, criticando a injustiça social, a destruição do meio ambiente e a falta de sensibilidade dos governantes, são sempre atuais. Em uma tirinha, por exemplo, Mafalda aparece vendo o noticiário na televisão e exclama: "Parem o mundo que eu quero descer".
O próprio Quino manifesta surpresa com a personagem que ganhou vida própria. Cada vez que algum episódio importante acontece, sempre aparece alguém para perguntar: "O que diria Mafalda?", mas o cartunista não costuma responder em nome da menina.