Emagrecer é fácil, o difícil é manter o peso... Provavelmente, você já ouviu isto ou já viveu esta situação muitas vezes. Para a endocrinologista Ellen Paiva, diretora do Centro Integrado de Terapia Nutricional, Citen, em São Paulo, "a afirmação não deixa de ser verdadeira, mas há meios para evitarmos um final tão desastroso e frustrante para a nossa dieta".
Geralmente, começamos uma dieta animados e decididos. Chegamos ao peso ideal e juramos que, desta vez, vamos manter o peso, duramente conquistado. Então, contrariando nossos sonhos e objetivos, voltamos a engordar, lentamente... "Este é o triste fim de um plano mal elaborado", defende a médica.
Por que voltamos a engordar, se durante o período de perda de peso, estávamos convencidos de que havíamos encontrado o caminho certo? "Se conseguirmos responder a essa pergunta, poderemos passar ao próximo passo, que será evitar este retrocesso tão danoso para nossa auto-estima", diz Ellen Paiva.
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Dietas restritas, ‘dietas da moda’
Segundo a diretora do Citen, voltamos a engordar por vários motivos. Mas o primeiro deles, e talvez, o mais importante, é que não suportamos seguir uma dieta restrita e, muitas vezes, excessivamente monótona por muito tempo, "uma dieta que classifica como proibidos a maioria dos alimentos que adoramos, é impossível de ser seguida, não contará com o envolvimento do paciente", afirma a médica.
Todos os dias surgem dietas novas nas revistas, na TV, no mercado... "Modismos que envolvem as pessoas em mais uma triste onda de desilusão: voltar a engordar e a impressão de que ‘não tem jeito mesmo’ e que a vida será sempre assim, o vai e vem de nossas proporções corporais e o vai e vem das nossas emoções: euforia e frustração", explica Ellen Paiva.
As dietas ‘de moda’ emagrecem. Têm um valor calórico muito baixo em relação às necessidades calóricas das pessoas, é esta defasagem que faz as pessoas emagrecerem. "Apesar disso, essas dietas não têm compromisso algum com as necessidades nutricionais das pessoas. São monótonas, não respeitam as preferências alimentares e são, na maioria das vezes, de sabor tão ruim que desejamos o momento de terminar o ‘regime’ para voltarmos a comer o que gostamos. Este fato, por si só, já inviabiliza a manutenção do peso, pois não nos permite continuar nos alimentando corretamente, após o término de um tratamento para emagrecer", explica a endocrinologista.
Para Ellen Paiva, não devemos fazer uma dieta cuja meta são pontos e não o valor nutricional do que se come. Não devemos aceitar comer uma ‘gororoba’ qualquer, destituída de sabor, nem permitir que nutrientes fundamentais sejam riscados do cardápio, como muitas dietas da moda fazem com os carboidratos, com a alegação que eles engordam, pois isso é falso. "Não devemos nos deixar enganar para seguir uma dieta. Não podemos comer gordura saturada à vontade, nem deixar de comer maçã porque nosso grupo sangüíneo é A ou B... Não devemos nos encher de vitaminas, sob a alegação de que nosso fio de cabelo revela algumas carências alimentares.... Tudo isto é muito empírico, fantasioso, imediatista, enfim, são recomendações completamente sem compromisso com a saúde das pessoas", diz a médica.
Devemos, aconselha a diretora do Citen, utilizar as dietas balanceadas, com proporções de nutrientes muito bem estudadas e padronizadas. "Estas dietas ‘não têm dono ou inventor’, pois seus autores são muitos estudiosos que foram sedimentando conhecimentos e baseando-se em evidências científicas para chegarem até estas recomendações nutricionais. Elas são do domínio da ciência e do conhecimento de todo o mundo acadêmico. Essas dietas são constantemente reavaliadas e questionadas pela comunidade médica e científica", explica.
"Para emagrecer e manter o peso, precisamos de uma dieta com a nossa cara, que priorize nossas preferências, que não nos obrigue a comer o que não gostamos, ou, que pelo menos, nos dê opções alimentares", diz a médica.
Uso de remédios
O segundo grande vilão da manutenção de peso é o uso dos medicamentos anorexígenos. Medicamentos que banem a fome, através de uma ação cerebral. "Eles não permitem que sigamos um plano realista de dieta, pois simplesmente, não sentimos fome", explica Ellen Paiva. Sob o seu efeito, paramos de comer ou comemos apenas pequenas porções de guloseimas, ingeridas mesmo sem fome, por prazer.
A primeira condição para conseguirmos fazer uma dieta balanceada e coerente é preservar a fome. Mesmo assim, ainda, poderíamos argumentar que deveríamos tomar esses medicamentos de forma contínua, posicionamento defendido por muitos médicos envolvidos no tratamento da obesidade. "Acontece que esses medicamentos causam muitos efeitos colaterais quando consumidos a longo prazo, e quando há grande tolerância a eles, essa tolerância também se faz sentir em seus efeitos anorexígenos, ou seja, logo as pacientes começam a reclamar que estão com fome, mesmo com o uso da medicação", explica a endocrinologista.
É praticamente impossível comer corretamente, ou seja, passar pelo processo de reeducação alimentar, sem fome. Uma das características comuns aos obesos não é a fome excessiva, é sim a falta de saciedade. "Logo, para auxiliar o emagrecimento, devemos dar preferência aos medicamentos que aumentem a saciedade e não aos que retiram a fome", defende.
Metas irreais
A terceira causa de recidiva da obesidade, segundo Ellen Paiva, são as metas absurdas de emagrecimento que muitos almejam e perseguem a vida toda. "Pesos ideais muito aquém daqueles possíveis de serem mantidos e que não respeitam as proporções corporais não são possíveis de serem mantidos", explica.
Diante dos obstáculos para a manutenção de pesos, é importante reforçar que emagrecer é possível e prazeroso. "Nossa dieta não é um roteiro a ser seguido mecanicamente, sem a nossa participação ativa, como mais uma obrigação angustiante, dentre as várias que já acumulamos no mundo moderno. Manter o peso ideal é uma das maneiras de viver bem, é um estilo de vida. É um processo de aprendizado e amadurecimento, possível de ser alcançado e mantido", defende Ellen Paiva.